137.13

#MeuRival: Celestes y Blancos

Andrés Reyes 7 de novembro de 2020
Ilustração: Gonza Rodriguez

De todas as rivalidades futebolísticas existentes no mundo, não imagino outra mais desigual que aquela que une e separa argentinos e uruguaios. Não tanto pelos fatores esportivos (querendo ou não, o Uruguai sempre inventou alguma forma de vencer mais títulos do que o normal), mas sentimentais: eles gostam da gente muito mais do que nós gostamos deles. E assim, não há rivalidade clássica que aguente.

Muita gente se torna torcedor de um time por oposição a outro. São dois processos que, de tão paralelos, costumam se confundir. E chega o momento em que já não sabemos se somos torcedores do Nacional ou simplesmente queremos que o Peñarol perca. Pelo que eu sei os torcedores do Peñarol funcionam da mesma forma, e essa é a principal explicação para o tipo de sentimento que os clássicos despertam. Porque eu sou da teoria de que aqueles que são torcedores de um time e não desejam tudo de pior (esportivamente) ao “eterno rival”, não costumam ser pessoas confiáveis.

A rivalidade é uma relação humana que necessita de duas pessoas ou entidades para existir, necessita operar em ambos sentidos para funcionar de forma plena. Em outras palavras: para que uma rivalidade possa ser considerada “clássico”, precisa que os dois rivais a reconheçam como tal. Acontece do mesmo jeito com os namoros, mas não com o ódio ou a admiração, que se conduzem bem em ruas de mão única.

E aí está o principal problema dos torcedores da seleção uruguaia: ninguém a reconhece como o clássico rival. Por proximidade e história, é inegável que Argentina e Brasil sejam os dois grandes candidatos a nossos máximos rivais. Entretanto, preferem se medir entre eles. Para os argentinos, seguiremos sendo o irmão caçula, torcem por nós mesmo se jogamos contra Moçambique e se alegram genuinamente com os nossos êxitos. Os brasileiros, exceto os do sul, não têm muita noção da nossa existência e com uma lembrança cada vez mais distante do Maracanã, acaba sendo inviável que nos vejam como um rival digno de um país tão enorme e poderoso. O Brasil futebolístico olha mais para a Europa do que para a América, e nem Lula conseguiu mudar essa realidade.

Por isso, na hora de escolher um rival clássico para a seleção uruguaia, e mesmo que eles gostem de nós, escolho a Argentina.

“Milagre na área do Newell’s!”

Os uruguaios na casa dos 40 anos crescemos sentindo que somos parte do futebol argentino. Nas noites de segunda víamos os compactos dos gols e às terças parávamos diante das bancas para ver a capa da El Gráfico. Às vezes até a comprávamos.

Convivíamos com jogadores como Bochini, Marangoni, Amuchástegui e o Beto Alonso como se fossem nossos, e sabíamos de cabeça o primeiro e segundo nome de todos os goleiros (porque para ser goleiro no futebol argentino, mais do que reflexos, é necessário um nome bombástico: Ubaldo Matildo Fillol, Hugo Orlando Gatti, Angel David Comizzo, Carlos Fernando Navarro Montoya… nunca um Carlos López).

Derrotá-los sempre foi desfrutável: vencíamos e depois podíamos desfrutas as repercussões quase em tempo real, graças à penetração cultural argentina a que sempre estivemos expostos. Ainda hoje quando a Argentina perde corremos para a televisão ou ao celular para ver o que o Liberman disse sobre Messi, ou para ver se o Fantino formulou alguma comparação aloucada. Isso não acontece com relação ao Brasil: não conhecemos o nome dos jornalistas brasileiros, nem sequer entendemos totalmente o Brasileirão, nem os campeonatos estaduais. Apenas, de vez em quando, ficamos sabendo de algum gol do De Arrascaeta ou do Diente López.

Briga de irmãos

De tão próximo que sempre sentimos o futebol argentino, assumimos que é eternamente superior ao nosso. Os argentinos, quando jogam bem, sabem jogar melhor que nós e disso ninguém duvida. Têm mais técnica, mais velocidade, mais tendência a jogar bonito. Quando um time uruguaio põe a bola no chão, toca de primeira tentando abrir espaços sem se desesperar e sem perder o objetivo do jogo mesmo que faltem 3 minutos, a conclusão será apenas uma: “não parece um time uruguaio”.

Nós sempre fomos melhor jogando duro cada dividida, esperar atrás e sair no contra-ataque, a jogada de bola parada e –não vamos negar– vencer indo contra todo preceito lógico.

Por outro lado, se nos centramos em fatores materiais, as diferenças entre as ligas são inverossímeis. O menor time de Buenos Aires tem mais torcedores e um estádio melhor que o melhor time de Montevidéu, exceto Nacional e Peñarol que mais de uma vez ameaçaram jogar na Argentina se não fosse feito o que eles queriam (menos mal, porque na Argentina provavelmente teriam sido rebaixados em algum momento).

Campos com grama verde e bem cuidada, arquibancadas lotadas de torcedores e futebol rápido eram luxos que o futebol uruguaio dos anos 80 e 90 não podia se permitir, mas que conseguíamos satisfazer dando uma olhada nos compactos do Fútbol de Primera, aquele programa que resumia cada jogo de uma forma convincente que todos pareciam grandes jogos. Até chegamos a nos convencer de que era legal ter torcedores cantando e saltando durante o jogo todo. Sentíamos certa inveja ao ver aquele futebol espetacular em comparação com o nosso, sempre tão parco, tão “intelevisionado”, tão cinza, tão uruguaio.

Porque como dizia uma velha tia minha: ‘o Uruguai é lindo, mas lá é melhor”.

Números

Ao longo da história, o Uruguai não venceu a Argentina muitas vezes. Particularmente, nos últimos 30 anos quase não ganhamos.

Lembro como em 1986 nós nos enfrentamos no México e eles venceram bem, mas já no final do jogo o Ruben Paz entrou e estivemos perto de empatá-lo. Um ano depois teve a Copa América e voltamos a enfrenta-los, agora no Monumental de Buenos Aires, e vencemos. Deve ter sido a vitória mais festejada que eu me lembro contra os nossos irmãos, porque eles eram campeões do mundo e nós não tínhamos absolutamente nada. Mas ganhamos e fomos campeões graças a um gol de Antonio Alzamendi, que ainda por cima jogava no River. Mas o 7 celeste (que esse dia jogou de branco) gritou o gol, pulou as placas de publicidade e beijou a camiseta, como fez com a maioria das camisetas que defendeu. Nada de pedir perdão por respeito.

Dois anos depois voltamos a enfrenta-los pela Copa América, agora no Brasil. No jogo do grupo, eles venceram por 1 a 0 (volta à normalidade), mas na fase final, Ruben Sosa se tornou em um jogador todo-poderoso e fabricou sozinho os dois gols para outro triunfo ressonante.

Depois de 1989, voltamos a vence-los apenas duas vezes, por Eliminatórias, ainda que também voltamos a elimina-los (nos pênaltis) da Copa América 2011, outra vez em solo argentino. Nenhum destes triunfos eu celebrei tanto como aquele gol de Alzamendi, talvez por este sentimento que se apodera de nós quando somos crianças e contemplamos algo que não nos achávamos preparados.

Neste lapso eles nos venceram 10 vezes, mas no imaginário coletivo flutua a sensação de que se nos encontramos na Rússia, o Uruguai terá mais chances de vencer do que se jogamos com qualquer outro time.

Porque os uruguaios são argentinos que jogam menos, mas colocam mais garra e, às vezes, o mundo é o suficientemente injusto para que os menos dotados triunfem.

Felizmente. Para que ganhem sempre aqueles que jogam melhor, estão os outros esportes.

*Tradução: Leo Lepri

Texto original:

Celestes y blancos

por Andrés Reyes

De todas las rivalidades futbolísticas existentes en el mundo, no me imagino otra más desigual que la que une y separa a argentinos y uruguayos. No tanto por factores deportivos (mal o bien, Uruguay se las ha ingeniado para ganar más títulos de lo normal) sino sentimentales: ellos nos quieren mucho más de lo que nosotros los queremos. Y así, no hay rivalidad clásica que aguante.

Mucha gente se hace hincha de un equipo por oposición a otro. Son dos procesos que, de tan paralelos, suelen confundirse. Y llega el momento en el que ya no sabemos si somos hinchas de Nacional o simplemente queremos que Peñarol pierda. Me consta que a los hinchas de Peñarol les sucede lo mismo, y es acaso la principal explicación para el sentimiento que despiertan los clásicos. Pues soy de la idea de que aquellos que son hinchas de un equipo y no le desean lo peor (deportivamente) al “eterno rival”, no suelen ser personas confiables.

La rivalidad es una relación humana que necesita de dos personas o entidades para existir, necesita operar en ambos sentidos para funcionar de modo pleno. Dicho de otro modo: para que una rivalidad pueda ser considerada “clásico”, necesita que ambos rivales la reconozcan como tal. Sucede lo mismo con los noviazgos mas no con el odio o la admiración, que se manejan bien en calles de sentido único.

Y allí radica el principal problema de los hinchas de la selección uruguaya: nadie la reconoce como rival clásico. Por cercanía e historia, resulta innegable que Argentina y Brasil sean los dos grandes candidatos a ser nuestros máximos rivales. Sin embargo, ellos prefieren ganarse entre ellos. Para los argentinos seguiremos siendo el hermano menor, hinchan por nosotros aun si jugamos contra Mozambique y se alegran genuinamente de nuestros éxitos. Los brasileños, salvo los del sur, no tienen mucha noción de nuestra existencia y con el recuerdo cada vez más lejano de Maracaná, resulta inviable que nos vean como un rival digno de un país tan enorme y poderoso. El Brasil futbolístico mira más hacia Europa que hacia América, y ni Lula pudo torcer esa realidad.

Por eso, a la hora de elegir un rival clásico para la selección uruguaya, y por mejor que les caigamos, elijo Argentina.

“¡Milagro en el área de Newell’s!”

Los uruguayos de alrededor de 40 años crecimos sintiéndonos parte del fútbol argentino. Los lunes de noche veíamos los compactos de los goles y los martes nos parábamos frente al quiosco para ver la portada de El Gráfico. A veces hasta la comprábamos.

Convivíamos con jugadores como Bochini, Marangoni, Amuchástegui y el Beto Alonso como si fueran nuestros, y sabíamos de memoria primer y segundo nombre de todos los arqueros (porque para ser arquero en el fútbol argentino, más que reflejos necesitabas un nombre rimbombante: Ubaldo Matildo Fillol, Hugo Orlando Gatti, Angel David Comizzo, Carlos Fernando Navarro Montoya… nunca un Carlos López).

Derrotarlos siempre fue disfrutable: les ganábamos y enseguida podíamos disfrutar las repercusiones casi en tiempo real, gracias a la penetración cultural argentina a la que siempre hemos estado expuestos. Aun hoy cuando Argentina pierde corremos a la tele o al celular para ver qué dijo Liberman de Messi o para ver si Fantino formuló alguna comparación alocada. Eso no nos sucede con Brasil: no conocemos el nombre de los periodistas brasileños, ni siquiera entendemos del todo el “Brasileirao” ni los campeonatos estaduales. Apenas si, dos por tres, nos enteramos de algún gol de De Arrascaeta o el “Diente” López.

Peleas de hermanos

De tan cerca que hemos sentido siempre al fútbol argentino, tenemos claro que es eternamente superior al nuestro. Los argentinos, cuando juegan bien, saben jugar mejor que nosotros y eso nadie lo duda. Tienen más técnica, más velocidad, más tendencia a jugar lindo. Cuando un equipo uruguayo pone la pelota contra el piso, toca de primera buscando abrir espacios sin desesperarse y sin perder la matriz de juego aunque queden 3 minutos, la conclusión será una sola: “no parece un equipo uruguayo”.

A nosotros se nos da mucho mejor el ir fuerte a cada pelota, el esperar atrás y sacar el contragolpe, la jugada de pelota quieta y –no lo neguemos– el ganar yendo en contra de todo precepto lógico.

Por otra parte, si nos centramos en factores materiales, las diferencias entre las ligas son inverosímiles. El equipo más chico de Buenos Aires tiene más hinchas y un mejor estadio que el mejor equipo de Montevideo, con excepción de Nacional y Peñarol que más de una vez amagaron con irse a jugar a Argentina si no se hacía lo que ellos querían (menos mal, porque en Argentina probablemente hubieran descendido en algún momento).

Canchas con césped verde y parejo, tribunas plagadas de gente y fútbol rápido eran lujos que el fútbol uruguayo de los años 80 y 90 no se podía permitir, pero que lográbamos satisfacer dándonos una vuelta por los compactos de Fútbol de Primera, aquel programa que nos compactaba cada partido de forma tal de convencernos de que eran todos partidazos. Hasta llegamos a convencernos de que estaba bueno tener hinchas cantando y saltando durante todo el partido. Sentíamos cierta envidia al ver aquel fútbol espectacular en comparación con el nuestro, siempre tan parco, tan intelevisable, tan gris, tan uruguayo.

Porque como decía una vieja tía mía: “está lindo Uruguay, pero allá es mejor”.

Números

A lo largo de su historia, Uruguay no le ha ganado muchas veces a Argentina. En particular, en los últimos 30 años casi no le hemos ganado.

Recuerdo cómo en 1986 los enfrentamos en México y nos ganaron bien, por más que sobre el final entró Ruben Paz y estuvimos cerca de empatarlo. Un año después se jugó la Copa América y los volvimos a enfrentar, ahora en el Monumental de Buenos Aires, y les ganamos. Debe haber sido la victoria más festejada que recuerde ante nuestros hermanos, porque ellos eran campeones del mundo y nosotros no teníamos absolutamente nada. Pero ganamos y fuimos campeones gracias a un gol de Antonio Alzamendi, que encima jugaba en River. Pero el 7 celeste (que ese día jugó de blanco) gritó el gol, saltó las vallas de publicidad y se besó la camiseta, tal como hizo con la mayoría de las camisetas que le tocó defender. Nada de pedir perdón por respeto.

Dos años después los volvimos a enfrentar por la Copa América, ahora en Brasil. En el partido del grupo nos ganaron 1 a 0 (vuelta a la normalidad) pero por la fase final, Ruben Sosa se convirtió en un jugador todopoderoso y él solo fabricó dos goles para quedarse con otro resonante triunfo.

Después de ese año 1989, solo volvimos a ganarles dos veces, por Eliminatorias, aunque también los volvimos a eliminar (por penales) de la Copa América del 2011, otra vez en suelo argentino. Ninguno de esos triunfos lo celebré tanto como aquel gol de Alzamendi, acaso por ese sentimiento que se apodera de nosotros cuando somos niños y contemplamos algo para lo cual no nos creíamos preparados.

En ese lapso ellos nos ganaron 10 veces pero en el imaginario colectivo flota la sensación de que si nos cruzamos en Rusia, Uruguay tendrá más chances de ganar que si nos toca con cualquier otro equipo.

Porque los uruguayos son argentinos que juegan menos pero meten más y, a veces, el mundo es lo suficientemente injusto como para que triunfen los menos dotados.

Afortunadamente. Para que ganen siempre los que juegan mejor, están los demás deportes.

[A série idealizada pelo Puntero Izquierdo propõe crônicas em que torcedores escrevem sobre a alma de seus rivais. O primeiro capítulo, Ode ao uruguaio, texto de Alejandro Wall, pode ser lido aqui]


Puntero menorPublicado originalmente no Puntero Izquierdo em 2018. O Puntero em parceria com o Ludopédio publica nesse espaço os textos originalmente divulgados em sua página do Medium.

 


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 16 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Como citar

REYES, Andrés. #MeuRival: Celestes y Blancos. Ludopédio, São Paulo, v. 137, n. 13, 2020.
Leia também:
  • 177.28

    A camisa 10 na festa da ditadura

    José Paulo Florenzano
  • 177.27

    Futebol como ópio do povo ou ferramenta de oposição política?: O grande dilema da oposição à Ditadura Militar (1964-1985)

    Pedro Luís Macedo Dalcol
  • 177.26

    Política, futebol e seleção brasileira: Uma breve reflexão sobre a influência do futebol dentro da política nacional

    Pedro Luís Macedo Dalcol