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A Modo de Resposta: Bate bola com Marina e os narradores do futebol

Carlos Coelho Ribeiro Filho 7 de outubro de 2015

Na edição do Arquibancada Vol. 74.7, 2015 do Ludopédio, fomos brindados com uma crônica quase poética sobre não haver “ex-abogados” de Marina de Mattos, com quem tenho tido o prazer de debater e pesquisar questões do futebol juntamente com os demais membros do Gefut [1] e assim que li o texto tomei a iniciativa de lhe enviar um e-mail, que acredito ter sido a vontade de muitos dos que o leram, perguntando: Pô Marina! Que negócio é esse de publicar biografia não autorizada?. Afinal, vi ali a história de muitos brasileirinhos que como eu um dia fiz, comem, bebem, respiram e sonham com futebol. Foi uma leitura daquelas em que avançamos calmamente para retardar o final. Conforme o texto se desenvolvia, minha memória se reavivava com as lembranças dos tempos em que, juntos com muitos amigos, ajudamos e alimentar o embrião de uma idéia que futuramente viria se materializar em forma canção pela banda Skank: “quem não sonhou em ser um jogador de futebol!?” [2].

Lembrei então das muitas coisas que provavelmente todos os garotos apaixonados por futebol viviam, e talvez ainda vivam, que era engatar um bordão do futebol em cada lance da pelada, do gol-a-gol, da altinha, do controle, enfim, de todas as brincadeiras sérias com a gorduchinha [3]. E vou dizer uma coisa! Como diria Januário de Oliveira, Marina foi cruel, muuuito cruel…[4] mexendo na caixinha de pandora de cada um de nós que nos remete à Vilibaldo Alves [5] quando dizia vai buscar lá dentrooooo e nos lembrando daquilo que nunca esquecemos, daqueles que tiveram sucesso e, como diria Mario Vianna [6], fizeram um goooooolllllll leeeeeegalllll…ou dos muitos que tentam esquecer, por que talvez melhor teria sido se suas tentativas no futebol tivessem passado longe, como narraria Silvio Luiz para um chute torto que passa distante da meta, baaaandeirantes, o canal do esporte…,[7] do que aqueles que chegaram muito perto de realizar seus sonhos mas ficaram no paaaaaaaauuuuuu! [7]. Se foi para mexer com as emoções, Marina, na voz de Garotinho, apontou, atirou, entrooouuu [8], balançou a roseiiiiraaa [9]!

Acredito que não haja boleiros ou ex-boleiros, que não tenham repetido algum dos bordões do futebol, tão criativos e tão bem oportunamente utilizados pelos narradores nas transmissões de jogos ao longo da história desse esporte que arrebata e apaixona milhões de sonhadores. Pelo amor dos meus filhinhos… [7] quanta criança correndo atrás de um sonho só! O negócio então era ripa na chulipa e pimba na gorduchina [3], para ver quem podia mais e depois de bela jogada terminada em gol, sair correndo de braços abertos para o abraço e gritando camiiiiisa número deeezzz… [10], Indivíduo competente esse…! [11] Que me perdoem os fãs de futebol de outras regiões desse imenso Brasil se os sonhos até aqui narrados não tem uma locução de seus narradores preferidos. Mas é que, como mineiro de Juiz de Fora, conhecido no resto de Minas pela alcunha de carioca-do-brejo por estar mais próximo do Rio de Janeiro que da capital mineira, cresci ouvindo os narradores desses lugares e também algumas expressões importadas pelos amigos viajados que traziam elementos novos para os clássicos das peladas nossa de cada dia, como aquele decantado a cada embate, em que ouvia-se o prelúdio abrem-se as cortinas e começa o espetáculo! [12]

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Jogadores de futebol pelos campos de várzea. Foto: Caio Vilela.

Haaaja coração!…[13]. Uma vez contaminado por esse vírus, por essa febre que toma conta do corpo, é difícil encontrar um remédio. Daquilo que entendemos como tratamento para a cura de algo, quanto melhor for o remédio, mais rápido vem a cura. Mas no caso do futebol, essa regra da natureza se inverte, pois o que se vê é que o afastamento da doença, ou a cura, costuma se dar por algum trauma, e no futebol, quanto melhor ele for, maior o risco do indivíduo ficar ainda mais doente. Como escreveu Marina, aos que seguem dizendo, “sou sim!”, que levam vida de cigano como profissionais nos pequenos clubes desta terra gigante, os varzeanos que se encontram no fim de semana para os clássicos dos domingos ou mesmo para os ex-abogados que tiveram sucesso em campo, como o técnico Marcelo Oliveira que após um longo período sabático, sucumbiu ao vírus da bola e retornou ao futebol, mais uma vez no embalo de Januário de Oliveira, vai para galera e grita volteiii! [4]

Tempos atrás ao ler a biografia de Steve Jobs e suas ideias que revolucionaram o mundo, comecei a certa altura a relacionar os eventos protagonizados por ele cronologicamente com minha própria história e me perguntava onde estava eu naquele momento. Para cada novo acontecimento, a resposta era sempre a mesma: jogando bola. Encontrei ali um pouco da resposta porque os computadores ainda continuam sendo máquina de escrever sofisticada para mim, estava doente! Ahhh esse futebol, dizia minha mãe! Mas, assim como Garotinho, que em suas narrações dizia o temmmpo está passandoooo na medida em que o relógio avançava nas partidas, os ponteiros continuaram sua corrida sem fim para todos os garotos e a vida real se fez presente e nos atribuiu responsabilidades, como as de um bom centroavante, de marcar um golaço fora dos campos. Mas como sonhar ainda é de graça e não é preciso estar dormindo para tal, muitos seguem sonhando e se esqueceram de se reinventar, se reprogramando ou se ajustando com o passar do tempo, acerte o seu ai que eu arredondo o meu aqui,[7] como diria o narrador, seguindo ainda na prorrogação do sonho e aplicando a máxima da várzea em que o jogo só termina quando o time da casa vence.

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O sonho de muitos brasileiros passou por uma bola de futebol. Foto: Caio Vilela.

Marina talvez não tenha se dado conta de que sua reflexão sobre “a condição que marca o final de uma etapa da vida de um futebolista”, poderia ressuscitar sonhos e memórias de muita criança barbada por aí. Fica a pergunta: Pode isso, Arnaldo? [13]. O que posso dizer é que foi muito bom poder fazer essa triangulação com Marina e esses fabulosos narradores que ajudaram a todos nós, vitimas dessa febre chamada futebol, a sonhar e por que não dizer, delirar, com muito mais emoção. A essa parceria só me cabe dizer… Tiro liro lá tiro liro li….eeeeee queeeee gooooooolllllll!!! [3],

Referências:

[1] Grupo de Estudos de Futebol e Torcida – UFMG

[2] Música da banda Skank – É uma partida de futebol

[3] Osmar Santos – Rádios Jovem PanRecord e Globo, Rede GloboRede Record e Rede Manchete.

[4] Januário de Oliveira –  Radio Farroupilha, de Porto Alegre, Rádio Cultura de Bagé, e no Rio de Janeiro, Rádio Mauá AM,  Rádio Nacional AM, TVE-RJ,  TV BandeirantesRede Manchete.

[5] Vilibaldo Alves – Rádio Itatiaia

[6] Mário Viana – Rádio Globo

[7] Sílvio Luiz – Rede TV!  Transamérica Pop,  TV Paulista, na Rádio BandeirantesTV ExcelsiorTV RecordSBT,  TV Bandeirantes

[8] José Carlos Araújo (Garotinho) – Rádio Globo, Rádio Nacional, Bradesco FM, Bandnews FM, Transamérica RJ, Super Rádio Tupi, CNT, Band Rio, SBT Rio.

[9] Carlos Valadares – Rádios Inconfidência e Itatiaia, Rede Globo Minas, SBT, Rede Record

[10] Jorge Curi – Rádio Nacional, Rádio Globo, Rádio Tupi

[11] Valdir Amaral – Rádios Tupi, Mauá, Continental, Mayrink Veiga, Nacional e Globo.

[12] Fiori Gigliotti – Rádio Clube de Lins (São Paulo), Rádio Cultura de Araçatuba (São Paulo), Rádio BandeirantesRádio Panamericana (atual Jovem Pan), Rádio Tupi e Rádio Record,  Rádio Capital SP

[13] Galvão Bueno – TV Gazeta, Rede Record,  Rede Bandeirantes, Rede Globo

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Como citar

FILHO, Carlos Coelho Ribeiro. A Modo de Resposta: Bate bola com Marina e os narradores do futebol. Ludopédio, São Paulo, v. 76, n. 4, 2015.
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