
“Não vai escrever sobre o novo estádio da Ferroviária?” Desta vez foi meu pai que cobrou o texto. Senti alegria nesse pedido do velho, afinal, ele nunca me acompanhou nos jogos de futebol quando menino. E como considero dois os ofícios da minha vida – escrever e jogar futebol – achei que o pedido foi uma redenção.
Redenção também foi ver a nova Arena da Fonte. Cheguei junto com o por do sol. O astro-rei caindo na tardezinha e as nuvens no céu tomando um aspecto estranhamente lindo – um grená afeano. Poesia de imagem. Realidade. Pequenas magias afeanas.
Assim que cheguei fui conhecer a área nobre – os chamados camarotes – subi de elevador! Quando a porta abriu, a beleza do estádio em perspectiva me cegou tanto que chorei. Chorei copiosamente. Algum neurocientista poderia me explicar qual a relação entre a felicidade do olhar e a produção de lágrimas? Curioso isso.
O deus do acaso ainda fez-me encontrar, logo ali, craques do passado. Sentei-me com o Douglas Onça e contemplamos um pouco mais a maravilha ali, a nossa frente. Depois fui cumprimentar o Pio, o Maritaca, o Marinho Rã, o goleiro Machado, o ponta-esquerda Ney e o lateral Fogueira, que juntavam-se em gerações que só mesmo aquele dia mágico poderia proporcionar.
Olha, vou ser sincero, prestei pouca atenção no jogo. Era tanta gente das antigas e tanto estádio novo pra olhar, que minha visão desviava-se dos 22 jogadores e mirava as 22 mil pessoas e lugares. Mesmo assim fui capaz de ver o gol do Fernando Luís, marcando também sua história na História da Ferroviária.
No segundo-tempo fui para o outro lado, conhecer as elegantes cabines de imprensa do estádio. Fui também ao Restaurante, onde autoridades engravatadas impressionavam-se com a nova Arena.
A vitória da Ferroviária, no dia da inauguração do seu estádio, foi apenas um feixo para este dia mágico. Saímos todos felizes do estádio. Emoção verdadeira. Grená.
PS: Esqueci de dizer, ainda nos camarotes, fui presenteado com outro encontro que parecia improvável: o médico e escritor Marcelo Cirino e o jornalista Tetê Viviani – sim nós três, que colaboramos como colunistas do site da Ferroviária – nos abraçamos. Era, efetivamente, um gol da letra.