No dia 7 de outubro de 2018, um domingo, milhões de brasileiros foram às urnas para escolher seus representantes para os cargos majoritários no executivo e também no legislativo, nas esferas nacional e estadual. Como sói acontecer há muitos anos, alguns ex-atletas concorreram especialmente aos cargos legislativos (Senado, Câmara dos Vereadores e Assembleias Legislativas estaduais). No caso do Rio de Janeiro, aliás, destacou-se a candidatura – malograda – do futebolista Romário para o Governo do Estado. Eleito Senador pelo Rio de Janeiro quatro anos antes, o extraordinário jogador viu por terra, pelo menos por ora, os planos de vitaminar sua carreira política como governante. Voltará agora para o parlamento, e é de se esperar que procure lançar novos voos eleitorais em 2022.
Romário é uma exceção no caso de ex-futebolistas que se lançaram com protagonismo e êxito nas primeiras incursões pela política: foi eleito Deputado Federal em 2010 no Rio de Janeiro, para quatro anos depois eleger-se Senador. Normalmente, o mais comum é que o ex-atleta comece sua carreira de maneira mais modesta, buscando uma eleição para a Câmara dos Vereadores de sua cidade, ou então para a Assembleia Legislativa de seu Estado.
A presença de esportistas e ex-esportistas em cargos públicos, oriundos de eleições, é extremamente benéfica e salutar. A política – especialmente no que diz respeito aos cargos eletivos – não pode ficar refém apenas de políticos profissionais, que se eternizam em cargos a partir de sucessivas reeleições. Daí que seria importante que a sociedade civil, a partir de indivíduos provenientes das mais diferentes áreas (atores, cantores, atletas, profissionais liberais, trabalhadores da indústria, professores, comerciários e por que não até desempregados), ocupassem cada vez mais os espaços políticos em prol da defesa da cidadania, da democracia e de uma sociedade mais igualitária.

O problema está no fato de algumas celebridades, especialmente os que transitam pela música, pelo esporte e pela televisão, quererem adentrar o mundo da política usando como única credencial o fato de serem conhecidos do grande público, devido a uma extensa exposição midiática advinda de suas carreiras originais. No caso do esporte, há casos de atletas que passaram anos demonstrando certa apatia política em seus universos (na relação com clubes, federações, dirigentes, empresários etc.) e de repente mostram-se como salvadores de ocasião para os problemas do esporte nacional.
Se o excepcional Sócrates Brasileiro de Oliveira (figura histórica do futebol e da cena política brasileira nas décadas de 1970 e 1980) ainda vivo estivesse e lançasse sua candidatura para algum cargo eletivo, só teríamos que louvar a iniciativa do ex-jogador – e torcer para que ele tivesse na política o mesmo êxito que teve nos campos de futebol.
Pois eis que em 2018, à semelhança do voo ousado lançado por Romário em 2018 (candidatura para o Senado), uma candidatura de ex-atleta chamou a atenção: foi o caso de Leila Gomes de Barros, a “Leila do vôlei”, que já havia se candidato pelo Distrito Federal à Câmara dos Deputados em 2014, mas sem sucesso. Desta vez, porém, a ex-jogadora ousou na proposta e conseguiu ser eleita logo para o Senado, também pelo Distrito Federal.

Não me foi possível conhecer a campanha de “Leila do Vôlei”, e desconheço suas propostas e trajetória político-partidária. Mas é possível fazer um paralelo com outra candidatura ao Senado, desta vez pelo Estado de São Paulo, lançada pela ex-atleta Maurren Maggi (PSB). Ao contrário de Leila e de Romário, Maurren concorreu logo de cara a uma vaga no Senado, sem nenhuma trajetória anterior na política – nem mesmo quando era atleta – que a gabaritasse para disputar um cargo de tamanha envergadura. Pior do que isso: a campanha de Maurren na televisão fez uso incessante de suas conquistas nas pistas de atletismo, especialmente a da medalha de ouro no salto em distância nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
Maurren Maggi imaginou que seu carisma e seu sucesso no esporte seriam suficientes para cacifar sua eleição ao Senado. Nem sempre é assim. Dentre 17 candidatos que podiam ser votados ao Senado em São Paulo, Maurren ficou num honroso quinto lugar, com 8,51 % dos votos e a preferência de 2.979.856 eleitores. O resultado, entretanto, não lhe renderia nem ao menos uma medalha de bronze, caso ainda estivesse disputando um torneio esportivo.
É desejável que esportistas ingressem no mundo da política, renovando práticas velhas e viciadas. Mas não é aceitável que as principais credenciais de um atleta sejam as imagens de suas conquistas, de seus gols ou de suas medalhas. Isso também deveria valer para cantores, artistas e palhaços: suas atividades profissionais quase sempre despolitizadas não deveriam servir de mote para angariar o voto de milhões de eleitores.