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O império azul de um homem controverso

Lucas Costa Universidade do Esporte 27 de fevereiro de 2022

Como um magnata russo envolvido em política e supostos esquemas de corrupção fez um time tradicional de Londres virar uma máquina de ganhar títulos

Abramovich
Foto: Reprodução / Twitter

Dia 12 de fevereiro de 2022, quase 20 anos após gastar parte da sua fortuna ao comprar o Chelsea em 2003, Roman Abramovich possui agora em sua prateleira todos os títulos possíveis depois da conquista do Mundial de Clubes da Fifa. 

Essa história de amor entre torcedores dos Blues e do “Big Boss” Russo teve tudo para não acontecer. Segundo o livro “A liga”, dos escritores Joshua Robinson e Jonathan Clegg, o desejo do bilionário em comprar um clube inglês surgiu após uma exibição de gala entre Manchester United e Real Madrid pelas quartas de final da Champions de 2002-03, quando os ingleses venceram em Old Trafford por 4 a 3.

Com isso, a primeira conversa foi com outro time de Londres: o Tottenham. Contudo, o russo não se impressionou com a região de White Hart Lane. De acordo com o livro, no caminho para casa após o contato com os Spurs, Roman teria dito que a área era “pior que Omsk”, local na Sibéria onde ficava localizada a empresa de petróleo Sibneft, propriedade de Abramovich.

Antes de entrar em detalhes sobre o momento em que Chelsea e Roman Abramovich uniram forças, vale ressaltar que os leões, menosprezados e subestimados pela imprensa brasileira, já figuravam na elite do futebol inglês sem a injeção de dinheiro estrangeiro. Apesar de sua única conquista de campeonato nacional ter acontecido em 1955, os Blues voltaram figurar na parte de cima da tabela e pleitear seu espaço nas competições europeias na metade da década de 90.

Comandados por Ruud Gullit e estrelados com Roberto Di Matteo, Gianfranco Zola e Gianluca Vialli, o patamar subiu e desapareceram as teias de aranha da sala de troféus do Stamford Bridge. Entre copas nacionais e internacionais, destaca-se a conquista da Supercopa da Uefa em cima do bicho papão Real Madrid. 

Voltando para a junção entre clube e investidor, o Chelsea apareceu como um bom clube, porém, o russo não estava tão convencido e colocou uma condição para a possível compra: os Blues teriam que se classificar para a Champions League.

E conseguiu, na base da emoção e contra um rival gigantesco. Na última rodada da Premier League 02-03, o time bateu o Liverpool por 2 a 1 em um ST lotado e completamente azulado. Roman cumpriu a palavra e fez a compra por 140 milhões de libras esterlinas aos seus 37 anos. 

A partir desse ponto um fato se torna inegável: a realidade do clube mudou de uma temporada para a outra e o time se tornou um dos mais fortes do velho continente. Quebra de jejum de 50 anos de título inglês, finais de Champions, copas e taças levantadas todo ano. Os fãs azuis do bairro de Fulham ganharam seu russo favorito. 

A questão que fez muitos entortarem a boca com a aquisição do time foi de não saber de onde que vinha o dinheiro de Abramovich. Bem, o russo está entre as pessoas mais ricas do planeta. A revista Forbes de 2021 coloca ele na 142ª com uma fortuna estimada em US$14, 5 bilhões.

Roman nasceu em 1966, em Saratov. Ele começou seus negócios com o fim da União Soviética, na privatização de empresas estatais, é um investidor no ramo de petróleo e gás, e ligado a outros setores e a política. O empresário se tornou governador na Rússia da província de Chukotka, em 1999. O russo até chegou a ser preso por uma noite acusado de roubo em propriedade do governo, mas fez acordo com o governo e foi solto, além de ter o nome ligado algumas vezes à máfia russa.

Roman serviu ao exército soviético, virou comerciante posteriormente e mecânico em uma fábrica. Em 1988, a Perestroika – medida econômica e política adotada nos anos 1980 pela União Soviética com objetivo de modernizar o mercado econômico soviético e possibilitar a abertura política -; Abramovich investiu em uma empresa de bonecas, primeiramente, e logo depois diversificou a área de investimentos, tendo o petróleo como principal negócio.

Amigo próximo do presidente Putin, presentou o líder russo com um iate avaliado em 50 milhões de dólares em 2000. Roman é apontado como um dos influenciadores que fez Boris Iéltsin escolher Putin como seu sucessor. Essa relação com a política deve-se muito à parceria que formou com Boris Berezovsky em 95 na compra do controle acionário da companhia de petróleo Sibneft. Berezovsky tinha forte ligação com o presidente na época. 

Em 2005, ele vendeu a Sibneft para a estatal russa Gazprom por 13 bilhões de dólares. Para se ter uma ideia da riqueza de Roman, segundo o The Sun, sua filha Sofia, então com 24 anos, era levada para a escola na Inglaterra em um helicóptero, além de dirigir carros luxuosos como Range Rovers à prova de balas.

O fim da amizade com Berezovsky aconteceu em 2012, Berezovski, de 66 anos, acusou Abramovich de tê-lo obrigado, mediante “ameaças e intimidações”, a vender suas ações no grupo petroleiro russo Sibneft por 1,3 bilhão de dólares, uma fração de seu valor real.

Durante o processo, Abramovitch declarou que Berezovski nunca teve ações da empresa Sibneft, e que o valor de 1,3 bilhão de dólares que este último recebeu em 2001 foi um gesto de “reconhecimento por sua ajuda política e proteção” durante a criação da empresa.

A acusação do empresário foi indeferida por veredicto de um juiz londrino.

Longe de toda polêmica e política, o russo é amado pelos azuis de Londres. Outro fato sobre ele é o gosto por iates, é proprietário de um chamado Eclipse, avaliado em 700 milhões de dólares, onde gosta de receber celebridades.

Ao longo dos anos, a forma que o russo gerenciou o futebol do time londrino ficou bastante conhecida no mundo, além de ser o primeiro da geração dos novos ricos do futebol, o Chelsea adotou uma filosofia conhecida aqui em terras tupiniquins que é a pouca paciência com treinadores. 

Felipão foi um que não durou uma temporada inteira no clube, outro nome pouco festejado é o de André Villas Boas, que foi demitido em 2012 no ano de título inédito da CL, mas até os ídolos como Di Matteo, vitoriosos como Carlo Ancelotti e lendas iguais a José Mourinho, The Special One, tiveram divergências com o russo e rodaram no clube. O torcedor sabe que apegar-se a um técnico no Chelsea é pedir para se lamentar depois, nem Frank Lampard escapou da demissão.

O investimento no time ao longo dos anos foi tanto que o Chelsea, segundo o jornal The Times, deve mais de 1 bilhão de euros a seu proprietário. Na última temporada, os Blues abriram os cofres e foram ao mercado, tanto, que a segunda contratação mais cara da história do clube, foi o autor dos gols da final da Champions e do Mundial: Kai Havertz, comprado por 71 milhões de libras.

O 2 a 1 contra o Palmeiras fez com o que o título que faltou em 2012 chegasse 10 anos após a derrota para o Corinthians. Depois de quase duas décadas sob regência do império Abramovitch, agora, os Blues e seus torcedores orgulhosos se encontram em um seleto grupo de clubes que possuem todas as conquistas possíveis no futebol mundial. 

Roman Abramovich
Foto: Reprodução / Twitter
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Lucas Costa

Potiguar, estudante de Jornalismo pela UFRN, aspirante a repórter, apaixonado por táticas ofensivas, mas amante de certas "retrancas".

Como citar

COSTA, Lucas. O império azul de um homem controverso. Ludopédio, São Paulo, v. 152, n. 31, 2022.
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