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O projeto de poder de Jair Bolsonaro e Rodolfo Landim observado por torcedores/as do Norte do Brasil

Felipe Damasceno Setor Norte 6 de agosto de 2021

‘’Égua… O Flamengo tá mandando no campeonato brasileiro e agora na CBF! Ele decide quando e onde quer jogar. O presidente do Flamengo tá mandando até no presidente do Brasil!’’, falou em voz alta um cliente de uma barbearia, situada no distrito de Icoaraci, em Belém do Pará, no momento em que passava na tv a notícia de que o juiz Mario Cunha Olinto Filho, da 2ª Vara Cível da Barra da Tijuca, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro havia anulado a eleição de 2018 que levou  Rogério Caboclo à presidência da CBF, nomeando por 30 dias como interventores na instituição, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, e o presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos. Na referida decisão, justifica-se a nomeação de Landim pelo fato de o Flamengo ter ‘’expressiva torcida’’. O comentário do cliente fez com que três dos cinco homens presentes na barbearia balançassem a cabeça em sinal de concordância e visível preocupação pela seriedade em seus rostos.

Flamengo Bolsonaro
Rodolfo Landim e Alexandre Campello encontram o presidente da República para conversar sobre o retorno do futebol brasileiro. Foto: Reprodução.

Fatos como o comentário recente do presidente Jair Bolsonaro ao colunista do O Globo, Anselmo Gois de que Landim seria “o nome do seu sonho” para ser seu vice na disputa eleitoral de 2022, e do Flamengo ter sido o pioneiro no retorno do público aos estádios, durante jogo  diante do Defensa y Justicia-ARG, válido pelas oitavas de final da Libertadores, ocorrido há semanas, em Brasília -DF, com a presença do presidente do Brasil Jair Bolsonaro, justificam o comentário do cliente da barbearia. Já a aparente preocupação dos demais, deve se dar pelo cenário de incertezas em que os Clubes do norte do país se encontram em meio às disputas de poder ocorridas no momento, através da criação da Nova liga de clubes, prevista para iniciar sua operação no próximo ano, organizando os campeonatos brasileiros das séries A e B, inclusive com rumores de viradas de mesas ao se “convidar” para a série A alguns clubes que estão na série B e, eventualmente, não conseguirão o acesso;  além dos usos e desusos que Bolsonaro vêm fazendo do futebol brasileiro visando a manutenção do seu poder e retomada da popularidade.

Sabemos que Rogério Caboclo não deve ser mantido na presidência da CBF, tanto pelo golpe estatutário ocorrido na instituição, em 2017, que praticamente anulou a possibilidade de opositores derrotarem o grupo que há tempos se mantém no poder, quanto pelas graves denúncias de assédio sexual e moral praticas por ele contra uma funcionária da CBF vindas à tona este ano, porém, essa decisão judicial que coloca o presidente do Flamengo como interventor da instituição soa mais como propaganda política do seu  projeto junto à Jair Bolsonaro para 2022 do que como medida paliativa visando conter a crise histórica da gestão do futebol brasileiro.

Olhamos esses eventos ocorrerem daqui da região norte do país, com os sentimentos de preocupação e de repúdio, pois aqui também se respira futebol, não com os ares frios, comuns às regiões sul e sudeste, preteridas pela CBF e por Jair Bolsonaro, mas com o calor de quem jamais abandonou o seu Clube nas várias vezes chegou ao fundo do poço, em alguns casos, ficando até mesmo sem disputar qualquer divisão do campeonato brasileiro, e com patrimônio penhorado na justiça, mas que se orgulha por jamais ter precisando de uma “virada de mesa” para recuperar a sua dignidade. Aqui também temos ‘’expressivas torcidas’’, apesar de menores do que muitas que, historicamente, cresceram em função da ajuda da mídia tradicional e projetos de governo. 

Daqui, seguiremos atentos a essa tentativa de apropriação do futebol brasileiro travada pelo neofascista Jair Bolsonaro e Rodolfo Landim, visando as eleições presidenciais brasileiras de 2022, afinal, não é  de hoje que resistimos à  colonialidade interna do futebol brasileiro.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Felipe Damasceno

Cientista Social; Mestrando em antropologia (PPGA/UFPA).

Como citar

DAMASCENO, Felipe. O projeto de poder de Jair Bolsonaro e Rodolfo Landim observado por torcedores/as do Norte do Brasil. Ludopédio, São Paulo, v. 146, n. 12, 2021.
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