126.2

O provável fim de uma era

Gabriel Bernardo Monteiro 2 de dezembro de 2019

No último dia 3 de novembro, o Corinthians demitiu seu treinador Fábio Carille, após uma péssima sequência de exibições e resultados ainda piores, sendo o último a derrota para o Flamengo por 4 a 1 dentro do Maracanã. Para não ser leviano e muito menos oportunista, decidi que esperaria três rodadas para analisar o que de fato muda com a saída de Fábio e a consequente mudança de pensamento da equipe, já que é notória a busca por um jogo mais ofensivo, tanto por parte de seu substituto direto no cargo, Dyego Coelho, quanto principalmente pelo treinador de 2020, Tiago Nunes.

Carille, responsável pelos quatro últimos títulos que a equipe conquistou, tinha um conceito fixo de futebol, um legado que começou em 2008 na equipe de Mano, que retornou da Série B para A, e encantou o país em 2009 com Ronaldo. Passou pela equipe de Tite que ganhou o mundo em 2012. Sempre prezando uma organização e entrega no momento defensivo, com uma linha de 4 beirando a perfeição em posicionamento individual e coletivo, que era a principal especialidade do ex-técnico nas antigas comissões, e um time com jogadores de infiltração para gerar o elemento surpresa, sendo forte nas transições ofensivas, mas também buscando triangulações quando tinha a bola. Essa concepção de futebol fez o Corinthians colecionar troféus na última década, exorcizando velhos traumas, como a Libertadores de 2012.

Fábio Carille na partida que culminou com sua demissão: Flamengo 4 x 1 Corinthians, Maracanã, 03/11/2019. Foto: Marcos de Paula/ALLSPORTS.

Entretanto, essa filosofia de jogo foi se desgastando com o passar dos anos, as cobranças por um estilo mais agressivo, principalmente quando o jogo é em Itaquera e as recentes exibições do Grêmio de Renato Gaúcho, do Athletico-PR de Tiago Nunes e, recentemente, do Flamengo de Jorge Jesus mostraram à torcida que dá sim para conseguir grandes resultados com estilo de jogo mais agradável, que traga a torcida para jogar junto. Esse desgaste para com essa visão de futebol foi o fator fundamental para a queda do treinador e a busca por um substituto diferente.

Logo quando assumiu a equipe, Coelho fez questão de ressaltar uma mudança de comportamento e postura, palavras que o próprio gosta de usar que tentaria implementar nesses últimos jogos tendo em vista o objetivo principal da equipe nesse Brasileiro, a desejada vaga na Copa Libertadores 2020. Em seu primeiro treino, concentrou-se em potencializar o perde-pressiona da equipe, algo que estava em desuso pela equipe com Carille, mas que foi bem usado por Tite em 2015. Em sua estreia, Coelho já mostrou boas credenciais ao apresentar um 1-3-1-5-1 no momento ofensivo, com Boselli de referência, algo que era bastante pedido por grande parte dos torcedores da equipe. Demonstrou, assim, que a era da linha de quatro estática e sem tanta amplitude para dar um melhor suporte defensivo, que Carille tanto prezava, já era coisa do passado. A ideia de um Pedrinho mais centralizado, podendo usar sua qualidade técnica para qualquer direção e perto do gol, de Boselli e de Mateus Vital rendeu à equipe um bom jogo no primeiro tempo, mesmo tendo saindo atrás do placar. O perde-pressiona, tão cobrado nos treinos anteriores a essa partida, foi eficaz até o momento em que a equipe teve pernas para tal, mas já o suficiente para inflamar a torcida e passar a sensação de que a equipe tinha voltado a entrar nos jogos buscando a vitória. Nos outros dois jogos, a equipe demonstrou uma melhor assimilação desses conceitos novos e uma boa esperança para o futuro da equipe no Brasileiro e, principalmente, o fim da era da famigerada retranca que esteve tão presente na última década do clube, mas que já saturou a torcida.

Os comportamentos interessantes gerados por Coelho neste fim de ano, mais as credenciais que o Tiago Nunes demonstrou no Athletico-PR nesses dois últimos anos, trazem uma esperança para a torcida de que a próxima era será a de um time organizado, mas que busca o resultado a partir do ataque o tempo inteiro. A intensidade e o desequilíbrio que o Furacão causava em seus domínios é norte para confiarmos nesse novo estilo de jogo. E como disse Coelho em recente entrevista: “(…) existem diversas formas de ganhar, perder e empatar um jogo, mas o que realmente importa é a postura, a entrega e a responsabilidade com a camisa que veste e com nação que representa, tem que jogar como Corinthians”. E é isso que esperamos para 2020.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Gabriel Bernardo Monteiro

Graduado em Educação Fisica pela Universidade Estadual de Campinas

Como citar

MONTEIRO, Gabriel Bernardo. O provável fim de uma era. Ludopédio, São Paulo, v. 126, n. 2, 2019.
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