157.19

O Uruguai e o futebol- A experiência de brasileiros no país do futebol [Parte 1]

Será que o Brasil pode ser chamado de país do futebol? Por que o Brasil é conhecido como país do futebol? Respiramos esse esporte em todo território nacional igualmente? Em nosso Brasil de dimensões continentais, temos o mesmo amor pelo futebol? De fato, são perguntas difíceis de ser respondidas. E provavelmente não tem uma resposta única. Contudo, quando olhamos para os nossos países vizinhos, temos a certeza que não somos os únicos a ter esse mesmo sentimento.

Além do mais, depois de visitar o Uruguai, essas perguntas são dúvidas que ficaram latejando em minha cabeça. Será que respiramos esse tal de futebol? Ainda, lembrei do texto escrito por aqui que fala das Recordações do futebol uruguaio, de como é místico o futebol por esse país platino. 

Obviamente, a ideia não é comparar ou medir amores pelo esporte, até porque isso não pode ser medido, mas trazer à tona um pequeno país, menor que o estado do Rio Grande do Sul, o Uruguai.

Queremos fazer uma série de textos falando da experiência de quatro brasileiros pela capital Montevidéu, no qual tivemos o objetivo de ir em jogos futebolísticos, mostrando como adquirir ingressos, seu preço, qual tribuna segura de ficar, além do preço para se alimentar nos estádios e a relação do bairro com os clubes, principalmente os clubes menores.

Assim, a ideia é mostrar a rivalidade que divide o país, o Superclássico entre Peñarol e Nacional. Aliás, caminhando pelo centro de Montevidéu podemos observar vários pichos dos símbolos dos times ou chegando perto do Gran Parque Central casa do Nacional, os postes vão ficando tricolores, assim, sabemos que estamos chegando na cancha.

Gran Parque Central do Nacional
Paredes do bairro La Blaqueada, onde fica o estádio do Gran Parque Central do Nacional. Fonte: Arquivo Pessoal

A nossa ideia foi perambular pelos bairros para entender como funciona a dinâmica com as equipes locais, os conhecidos times de barrios, além conhecer o lendário e histórico Estádio Centenário. E por óbvio, fazer uma pesquisa antropológica em botecos e cervejarias por toda Montevidéu ao som de cumbia e candombe.

Montevidéu- A capital que respira futebol

A cidade de Montevidéu é uma das cidades que mais possuem times de futebol que disputam a primeira divisão em todo mundo. Podemos afirmar que os estádios montevideanos são bem acanhados, tirando a cancha dos Carboneiros (Peñarol) e do Bolso (Nacional). Os estádios são parecidos com o time da minha cidade, o Internacional de Santa Maria, tendo a alcunha de Alvirrubro.

Falando nisso, saímos de Santa Maria no Rio Grande do Sul e viajamos cerca de 760 km’s para chegar na capital dos uruguaios. Passamos pelos departamentos (estados) de Rivera, Tacuarembó, Durazno, Florida, Canelones até chegar na capital. Fomos de carro e vale muito a pena, acaba se tornando mais barato do que de ônibus.

A partir  da geografia do país, podemos ter uma dimensão do futebol. A capital concentra quase metade da população, possuindo cerca de 1, 381 milhões de habitantes. O país conta com aproximadamente 3, 351 milhões de habitantes, sendo um dos menores país da América do Sul.

O que é curioso na dinâmica futebolística de Montevidéu é que dos 16 times da primeira divisão, 13 tem sede na própria capital. Os três times da série A que não tem sede na capital são: Club Deportivo Maldonado, da cidade de Maldonado; o Plaza Colonia da cidade de Colônia do Sacramento; e o Cerro Largo da cidade de Melo, mesma cidade onde foi gravada a película El Baño del Papa de César Charlone e Enrique Fernández.

O Centenário e o Museu do Futebol

Para quem ama o futebol, um dos estádios que deve ser visitados é o histórico e simbólico Estádio Centenário, no qual foi construído para sediar a Copa do Mundo de 1930, vencida pela donos da casa. O nome é em homenagem ao centenário da primeira constituição do país. No ano de 1983, o estádio foi considerado Monumento Histórico do Futebol Mundial pela FIFA. Quando colocamos o pé no estádio a primeira coisa que vem em mente: o Eduardo Galeano já olhou algum jogo aqui! O estádio é antigo, mas é bonito por ser uma cancha que não é estilo arena, no qual é dominado no futebol brasileiro. Também lembrei do texto da Leda Costa sobre os Devaneios de uma mulher que ama demais futebol: Estádio Centenário.

Me senti contemplado pelo texto da camarada, pois também fiquei sentado na arquibancada de cimento por algum tempo, refletindo, mas com o sentimento de um sonho realizado. Agradeci pela oportunidade de conhecer aquele Monumental.

Nas dependências do Estádio Centenário é possível visitar o Museu do Futebol, inaugurado em 1975, pagando cerca de 45 reais (400 pesos) é possível ter acesso ao Museu que retrata a história do futebol uruguaio, mas também mostra alguns jogos de Copa do Mundo. Ainda é possível subir de elevador nas Torres das Homenagens. Leva esse nome em homenagem aos campeões olímpicos de 1924 e 1928. Essa Torre tem cerca de 100 metros tendo uma vista panorâmica do estádio e parte da cidade, avistando o lindo Rio da Prata que banha Montevidéu.

Torre das Homenagens
Visão da Torre das Homenagens. Fonte: Arquivo pessoal
Torre das Homenagens
Visão da Torre das Homenagens. No fundo está o Rio da Prata, sendo encoberto por um dia cinza e frio, característico do inverno uruguaio. Fonte: Arquivo Pessoal

Ao lado do Estádio Centenário existem dois estádios de clubes que disputam a segunda divisão. Os clubes são o Miramar Misiones e o Central Español. Conseguimos ter acesso ao estádio Luis Méndez Piana do Miramar, porém, estava em reforma e não podemos permanecer. Infelizmente o estádio do Parque Palermo do Central estava fechado.

Estádio do Miramar
Estádio do Miramar, localiza-se ao lado do Estádio Centenário. Fonte: Arquivo Pessoal

Estádios, jogos e las hinchadas

Cada jogo e cada estádio que fomos, iremos dividir em partes para melhor historicizar a relação com o bairro, suas barras (torcidas organizadas) e fotos do local.

O primeiro jogo que fomos foi do Montevideo Wanderers, sendo localizado no bairro do Prado, bairro de classe média alta. Essa equipe tradicional de 119 anos recebe seus jogos no estádio Parque Alfredo Victor Vieira, tendo capacidade máxima de 10.000 pessoas. Ficamos junto da sua barra conhecida como Los Vagabundos. Tinham cerca de cinquenta integrantes. O jogo foi contra outra equipe tradicional, o Liverpool, time que falaremos melhor na parte 2.

 Nesse sentido, também falaremos da partida que fomos no mesmo dia, contudo na parte da noite. Fomos no duelo entre Montevideo City Torque x Peñarol, no Estádio Centenário. A equipe do City Torque pertence ao grupo City Football Group, mesmo dono do Manchester City da Inglaterra. Foi fundado no ano de 2007, não possuindo muitos torcedores. Mesmo de visitante a torcida do Carboneiro fora maioria esmagadora. Sua torcida, a Barra Amsterdam é incrivelmente barulhenta, cantando o jogo inteiro.

Também falaremos sobre o estádio do Nacional na parte 2 do texto, pois não conseguimos acessar o estádio, mas conhecemos o bairro e o museu, além de conversar com os simpáticos funcionários do clube. Um dos funcionários do museu conhecia o Internacional de Santa Maria, quase nos abraçamos quando ele disse que conhecia a equipe da nossa cidade.

Na parte 3, falaremos da final da segunda divisão que acompanhamos no Estádio Centenário entre La Luz x  Racing. O jogo aconteceu as 10 da manhã, não sendo vendido ingressos na hora, não atraindo muito público. Assim, faremos um texto explicando como funciona a segunda divisão, pois é muito confuso. A disputa foi vencida pelo Racing, onde sua hinchada era maioria.

O Clasico de la Villa 

Na parte 4, falaremos sobre o segundo clássico mais antigo do Uruguai, conhecido como “Clasico de la Villa”, pois fica a Villa del Cerro, periferia de Montevidéu. É um bairro aparte da cidade, no qual os moradores tem um forte pertencimento e orgulho. As equipes que fazem o clássico são o Rampla Juniors e o Cerro, no qual os estádios ficam ao lado da Baía de Montevidéu, nas margens do Rio da Prata. Além disso, fomos nos dois estádios, porém, não conseguimos assistir às partidas, pois as duas equipes já tinham sido eliminadas. O estádio do Rampla Juniors, na margem do Prata foi um dos estádio mais bonitos que já fui.

Na parte 5, iremos falar de um jogo que entramos, mas não conseguimos assistir à partida. Como falamos, geralmente no Uruguai não vende-se ingressos na hora. Foi o que aconteceu no duelo entre Fênix x Albión. Conseguimos acessar ao estádio para tirarmos fotos da cancha e da torcida do Albión. Após isso, fomos convidados a nos retirar, pois não tínhamos ingresso. Vale lembrar que o estádio do Fênix, chamado de Parque Capurro, fica nas margens do Rio da Prata, possuindo uma belíssima vista. Além disso, o time do Albión é a equipe mais antiga do Uruguai, possuindo 131 anos. Foi um dos clubes pioneiros do futebol na América do Sul.

Na parte 6, para concluir, iremos apresentar fotos das barras, dos estádios e do cotidiano das equipes de bairro. Assim, a partir de um olhar fotográfico, queremos mostrar a cultura de arquibancada e a paixão das hinchadas por seus clubes de coração. 

Esperamos que essa série de textos ajudem a todos (as), como um guia para conhecer esse país, no qual quem ama futebol deveria ter a oportunidade de conhecer esta cidade que respira, vive e admira esse esporte que nos atravessa. 

Vida longa ao futebol Charrua!  

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 16 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Elias Cósta de Oliveira

Historiador, mestrando, pesquisador, sócio inadimplente, amor platônico por um time de bairro e apreciador de batidas de limão.Participante do STADIUM (Grupo de Estudos de História do Esporte e Práticas Lúdicas) da Universidade Federal de Santa Maria/RS

Como citar

OLIVEIRA, Elias Cósta de. O Uruguai e o futebol- A experiência de brasileiros no país do futebol [Parte 1]. Ludopédio, São Paulo, v. 157, n. 19, 2022.
Leia também:
  • 169.1

    Sub-20 campeão mundial: aqui e nos vizinhos

    Alexandre Fernandez Vaz
  • 168.6

    “Lo fragil de la locura”: Bielsa chega à seleção uruguaia

    Fabio Perina
  • 164.18

    Futebol e Racismo: as lutas anti-racistas no futebol europeu e o isolamento brasileiro

    Bárbara Krisley Silva Ribeiro