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Óbvio Ululante: Futebol e Divulgação Científica no Rádio

O futebol é um fenômeno que gera grande interesse na sociedade brasileira, desperta paixões e tornou-se uma maneira do povo brasileiro se expressar. Concomitantemente o rádio ajudou na consolidação do mesmo como esporte popular e ainda hoje reforça essa popularidade devido a sua marcante presença como meio de comunicação. Além desse aspecto, merece ser destacado seu potencial educativo e para a divulgação científica.

A divulgação científica, segundo José Reis, pode ser entendida como “a veiculação em termos simples da ciência como processo, dos princípios nela estabelecidos, das metodologias que emprega”. Ela se difere, assim, da comunicação cientifica, essa voltada para um público seleto de especialistas, ou do seu conceito mais amplo que é a difusão cientifica, direcionada para especialistas ou o público em geral, entendida como qualquer processo para difusão da ciência (ALBAGLI, 1996. P. 397).

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) reconhece a importância da divulgação cientifica e a define como uma atividade complexa na qual são apresentados para a população os conhecimentos científicos e tecnológicos para que esta possa utilizá-los nos seus diversos contextos como as atividades cotidianas ou as tomadas de decisões que envolvem a família, a comunidade ou a sociedade com um todo1 .

Devido ao grande potencial do rádio em levar informações, o Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (GEFuT), em parceria com a Rádio UFMG Educativa, elaborou no segundo semestre de 2009 um projeto de extensão, o programa de rádio Óbvio Ululante. O programa surgiu a partir de um convite da emissora ao GEFuT, interessada em um programa que tratasse do futebol de uma forma diferenciada. O nome do programa é uma homenagem a Nelson Rodrigues, sendo uma expressão cunhada por ele, que entendia o futebol como um fenômeno complexo, ao contrário do defendido pelos “idiotas da objetividade”. Com isso a proposta do programa é pensar o futebol não em busca de respostas, mas provocando questionamentos e reflexões, pois como diz o slogan “Porque no futebol nada é tão obvio assim”.

O programa busca apresentar uma compreensão do futebol enquanto fenômeno cultural que se relaciona com as diversas dimensões da sociedade, seja política, social, econômica, educativa, etc. Na produção dos quadros ou nos comentários dos mesmos buscam relacionar de maneira objetiva o tema tratado com a produção acadêmica, sem, contudo, tornar a discussão entediante.

Dessa forma, buscamos abordar o futebol sob uma perspectiva critica e levar ao público em geral como o meio acadêmico analisa o futebol, com a participação de pesquisadores e ex-pesquisadores do GEFuT – além de alguns convidados de outros grupos – que apresentaram suas pesquisas em andamento ou concluídas. Acreditamos que assim coadunamos com a ideia de Silva (2006) que ressalta a importância de o cientista sair do seu lugar “próprio” e realizar interlocuções com outros leitores não cientistas.

Equipe do Óbvio Ululante em seu primeiro programa em 2010. Foto: GEFUT.

Procura-se assim diferenciar da forma como o futebol é tratado pela mídia comercial, que Betti (2001) descreve como falação esportiva. Essa se restringe a aspectos pontuais como informar e atualizar sobre gols, contratações, vida dos atletas; a contar histórias; a fazer previsões; a explicar e justificar as vitórias e derrotas; a prometer emoções, gols; a criar polêmicas e construir rivalidades; a criticar, a eleger ídolos e dramatizar.

Dentre as várias possibilidades de se realizar a divulgação científica a internet certamente é um importante espaço para promover a divulgação científica. O próprio site do Ludopédio, através de suas várias seções, é outro exemplo que cumpre esse papel. E para que a divulgação científica seja atingida é preciso uma linguagem acessível ao público. Através do Óbvio Ululante o GEFuT busca cumprir esse papel, utilizando do rádio, que tem um ampla inserção social, para levar ao público o que vem sendo produzido sobre o futebol.

Equipe do Óbvio Ululante no programa de 2014. Foto: GEFUT.

Portanto, divulgar a produção científica das ciências humanas no futebol é, além de informar o ouvinte, levá-lo a refletir sobre as implicações que o esporte pode exercer na sociedade.

REFERÊNCIAS
ALBAGLI, Sarita. Divulgação científica: Informação científica para cidadania. Revista Ciência da informação, Brasília, v. 25, n. 3, p. 396-404, 1996.

BETTI, Mauro. Esporte na mídia ou esporte da mídia? Revista Motrivivência. Ano XII, n. 17, set. 2001.

REIS, José. Ponto de vista: José Reis. In MASSARANI, Luisa; MOREIRA, Ildeu de C.; BRITO, Fátima. organizadores. Ciência e Público caminhos da divulgação científica no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência – Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fórum de Ciência e Cultura, 2002.

SILVA, Henrique C. da. O que é Divulgação Científica? Ciência & Ensino, vol. 1, n. 1, dezembro de 2006.

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[1] Disponível em http://www.cnpq.br/web/guest/divulgacao-cientifica-sobre acesso em 8 de janeiro de 2014.

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Luiza Aguiar dos Anjos

Atleticana, boleira, professora e pesquisadora. Interessada principalmente nas existências invisibilizadas nas arquibancadas e campos.

Thiago

Atleticano. Professor. Membro do GEFuT - Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas e do Pensando a Educação Física Escolar.

Como citar

ANJOS, Luiza Aguiar dos; SANTANA, Thiago José Silva. Óbvio Ululante: Futebol e Divulgação Científica no Rádio. Ludopédio, São Paulo, v. 67, n. 5, 2015.
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