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Palmeiras e o homem que pode mudar o jogo

Gustavo Bonini Castellana 21 de novembro de 2012

Sugiro que o próximo presidente do Palmeiras faça uma lição de casa antes de assumir o clube: assista ao filme “O homem que mudou o jogo”, dirigido por Bennett Miller, baseado no livro de Michael Lewis, “Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game”.

O filme retrata a história real de Billy Beane (Brad Pitt), um ex-jogador de beisebol que, após o fim da carreira nos campos, se torna o diretor geral do Oakland Athletics. O ano é 2001 quando, em frangalhos sem ganhar jogos e perdendo seus principais jogadores, o time precisa dar a volta por cima para não cair no ostracismo e perder os seus ainda fiéis torcedores. Com pouco dinheiro em caixa, ele desenvolve um sofisticado programa de estatísticas para o clube, que fez com que o time de beisebol ficasse entre as principais equipes do esporte nos anos 80.

Logo no início do filme, uma cena resume bem o motivo de minha sugestão: Billy participa de uma reunião onde ouve dos conselheiros do clube as mais diversas sugestões de jogadores para formar o time para a próxima temporada. E, mesmo vendo a cena pela primeira vez, temos a certeza de que esta conferência se repete ano após ano da mesma forma: um conselheiro sugere um jogador que deu certo no passado e tem identificação com o clube; outra sugestão vem de uma aposta num jogador que parece ser uma promessa, mas nem profissional é; um terceiro não abriria mão de um jogador pouco efetivo, mas cuja batida tem um estilo inigualável. Diante dos opinantes efusivos, Billie mostra-se descrente e busca um caminho diferente para o clube, mas só o encontra (por acaso) num economista que entende muito mais de números do que do esporte.

Transcrevendo para o nosso futebol, o economista exporia algo do tipo: entre Valdívia e Marcos Assunção, que você contrataria para o Palmeiras 2 anos atrás? Valdivia, com 26 anos, jogador que já teve sucesso no Palmeiras, e de quem a torcida gosta muito, especialmente por seu estilo provocador, mas que está lesionado e não se tem muitas notícias de seu desempenho no futebol árabe. Ou Marcos Assunção, aos 33 anos, “em fim de carreira”, com trajetória bastante eficiente nos diversos clubes nacionais e internacionais por onde passou, mas sem nenhuma identificação com o clube. Quem traria, efetivamente, mais alegria aos torcedores (leia-se: títulos)?

Assunção e Valdívia comemoram gols do Palmeiras na Copa do Brasil de 2012. Fotos: Assunção por Hedeson Alves – VIPCOMM e Valdivia por Wagner Carmo – VIPCOMM.

Não acredito que o futebol possa ser resumido a estatísticas, certamente estas não seriam suficientes para entendermos o fenômeno Palmeiras. O que temos certo é que há anos as mudanças trazidas por diretorias diferentes são repetições de um modo de trabalho apaixonado e irracional, preso no passado de glória e carente de ídolos expressivos.

Os torcedores da maioria dos clubes, apesar das gozações, costumam se surpreender com as crises repentinas e dilacerantes do clube. Mas o sóbrio palmeirense (aquele que torce muito pelo time, mas sabe reconhecer suas limitações e não se contenta em torcer contra a arbitragem), sabe que o Palmeiras é uma eterna crise, e sua diretoria e torcida batem cabeça há pelo menos 30 anos. Neste grande período, o clube só foi glorioso durante a gestão empresarial comandada por José Carlos Brunoro na parceria com a Parmalat nos anos 90.

As frases de Tirone. Caricatura: Baptistão Caricaturas.

Note-se, no entanto, que a recente aposta em Felipão foi também vencedora, pois o título da Copa do Brasil com o time em frangalhos, com inúmeras limitações técnicas e físicas, foi uma superação impensável, estas coisas inexplicáveis de Felipão. A crise subsequente que culmina com a zona da degola no Brasileirão parece-me resultado do desgaste desta força tarefa de trazer a Libertadores ao clube, mais do que “crise no elenco” ou tentativa de derrubar o técnico. Mais provável pensar que o grupo sempre foi limitado e o que o acorde dissonante desta melodia foi a vitória na Copa do Brasil.

Diante deste cenário, a aposta para “virar o jogo” nas próximas eleições do próximo ano, já que 2012 está condenado, a crise continuará, acreditem! Deve ser numa gestão efetivamente profissional, isto é, menos apaixonada e mais voltada para resultados, inclusive financeiros. Como no filme sugerido, talvez alguém que pouco entendesse do esporte ou ignorasse completamente as glórias da “Academia” poderia ter a distância de olhar necessária para fazer sobrevoos pelo clube, que permitam melhor enxergar o relevo e os acidentes deste terreno vulcânico chamado Palmeiras. Mas não me peçam nomes, estou perto demais para isso.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Como citar

CASTELLANA, Gustavo Bonini. Palmeiras e o homem que pode mudar o jogo. Ludopédio, São Paulo, v. 41, n. 6, 2012.
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