Quando eu era criança adorava o Pablo Aimar. Enquanto começava a gostar de futebol, deve ter sido meu jogador favorito.
Mas eu tinha aprendido que como eu nasci no Brasil, não podia gostar mais de um argentino, ainda mais com Ronaldinho e Adriano jogando o que estavam jogando. Eram tempos que a seleção brasileira me encantava, mas eu gostava mais do Aimar. Até agora, acho que só tinha confessado isso para um amigo chamado Roberto, muito querido e era um ‘loco’ por futebol, em especial o argentino.
Admiração por Aimar contida, aprendi a ser anti-Argentina, a ponto de até torcer contra eles na final de 2014. E nunca mais seria.
Em abril de 2015 faleceu Eduardo Galeano. Como acontece nesses momentos, seus livros começaram a esgotar nas livrarias. Quando eu fui comprar, alguns deles estavam esgotados na versão traduzida para português. Lembro bem de comprar no mesmo dia o Livro dos Abraços e Futebol ao Sol e Sombra em português, mas ‘Las Venas Abiertas de Latinoamerica’ foi em espanhol. A partir daí começou a se criar o sentimento de latino-americano em mim, algo que o Brasil tem a terrível insistência de desvalorizar.
É aqui que o Roberto aparece. Amigo de longa data do meu pai, que achou que deveria reunir “esses dois loucos por futebol”. Roberto era goleiro, roqueiro e baterista. Ao menos são as coisas que realmente importam. Nascido no Rio de Janeiro, mas morou alguns anos na Argentina por volta da virada do século e início dos anos 2000. Me contava que foi sem nada para lá, sem saber o que esperar e fez uma vida ali por alguns anos, até voltar para a vida que conhecia no Rio. Apaixonado pela Argentina, me apresentou o rock argentino, falava muito da vida em Buenos Aires e do futebol argentino sempre com paixão na voz e brilho nos olhos. Ainda consigo ouvi-lo contando sobre os “malucos do Chicharitas” que passavam pelo cemitério e carregam caixões por onde vão. Não sei quantos dias ficamos cinco, sete, até dez horas falando quase sempre de futebol, mas também ouvindo as histórias dele, ouvindo sobre rock argentino; as conversas eram sempre as mesmas, mas nunca iguais.
Para ele contei pela primeira vez sobre Aimar. Falei de todos os jogadores argentinos que eu gostava e ele brincava que eu parecia escolher a dedo jogadores do River Plate: Aimar, Sorín, Saviola, Crespo, Gallardo… Assim ele me deu uma camisa da coleção dele. É uma preta do River Plate de 2004, camisa 10 usada por Gallardo em alguma partida. Um amigo do Roberto na Argentina tinha conseguido a camisa na época e deu para ele. Pouco mais de uma década depois ia para mim. Guardo com carinho.
Tenho a paixão pela Argentina herdada do Roberto. Sem ele, não estaria fazendo o curso de treinadores da federação argentina; não teria feito o TCC sobre a identidade argentina no futebol; com certeza não teria me emocionado e chorado com o tri mundial como o fiz; talvez não compreenderia muito bem o quê Maradona significa (e também não teria ido aos prantos quando ele faleceu).
Quem eu mais queria abraçar no dia 18/12/2022 era Roberto, mas ele já se foi há pouco mais de dois anos. O câncer não o deixou comemorar o título da Copa América em 2021, nem este da Copa do Mundo. Como você estaria feliz, Roberto!
Repito a dedicatória que fiz para ti no meu TCC, que te fez chorar naquela última vez que nos falamos, nos seus últimos dias:
“A Roberto ‘Zepp’, outro louco por futebol cuja paixão pela pelota é contagiante.”
Aquela nossa última conversa eu carrego na memória, mas agora sou eu quem chora. Este texto é minha forma de te abraçar. Gracias, amigo ¡Y vamos Argentina, carajo!