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Pereirismo está ligado, mas oscilando

Gabriel Bernardo Monteiro 11 de maio de 2022

Pela 4ª vez em 2 anos, estou aqui falando sobre um novo trabalho de algum treinador que inicia seu trabalho no Sport Club Corinthians Paulista. Este dado por si só, já ilustra o que é a instituição chamada Futebol Brasileiro, em que os treinadores são responsabilizados por todas as más gestões dos seus chefes (que não pode nem serem chamados de dirigentes, porque, em suma maioria, não têm capacidade de dirigir nem um carro da Hot Whells, quem dirá um clube com dimensões continentais) e ilustra também o que é a atual, desde o Andrés Sanches, gestão do clube. O Corinthians que vê de longe o progresso do maior rival que após 2 anos de muito sucesso competitivo e um futebol que muitos (eu não estou incluso nessa) consideram não tão brilhante, encontrou em 2022 a sua melhor versão.

Entretanto, pela 1ª vez em 2 anos, há no comando da direção da equipe alguém com coragem, experiência e conhecimento para mudar o clube de patamar, aproximar dos 3 grandes rivais nacionais e disputar os principais títulos do continente. Vítor Pereira, possivelmente, o treinador estrangeiro que chega ao país com maior respaldo pelo currículo adquirido anteriormente.

Vítor Pereira
Vitor Pereira em coletiva pelo Fenerbahce. Foto: Богдан Заяц/Wikipédia

Ainda em adaptação ao futebol do país, Vitor assumiu na reta final do Camp. Paulista com 2 clássicos nos primeiros 3 jogos e já recebeu uma bela carimbada com menos 10 dias de clube, 2 derrotas em clássicos e, a parte da torcida que acha que futebol é McDonald’s, já estava em parafuso. A escolha inicial do trabalho foi o de manter, nos primeiros 5 jogos pelo Campeonato Paulista, uma mesma base de jogadores titulares tentando manter algum tipo de entrosamento na insana sequencia da equipe.

Não deu certo, por motivos físicos e por conta dos 2 dias a menos de descanso em relação a equipe do São Paulo. Mas clareou as ideias do treinador que iniciou a parte daí iniciou um revezamento sem precedentes nas escalações iniciais. Nos 5 jogos seguintes, mais de 25 jogadores tiveram oportunidade de serem titulares, o que gerou um belo refresco para os jogadores experientes e uma experiência valiosa para os jovens se desenvolverem.

Desenvolvimento, inclusive, é a síntese do que sempre fora os trabalhos do treinador por onde passou, e para entender esse tal revezamento devemos entender quem e o que entrega Vitor Pereira e os gajos que com ele cruzaram o atlântico.

Português de nascença e com uma carreira estabelecida pelo mundo, mesmo que fique a sensação de que deveria ter alçado voos maiores, VP é uma das referências de jogo ofensivo no seu país e traz em seu modelo, traços do DNA Corintiano. Visto como um treinador de “fato de treino” (expressão usada para treinadores que gostam de dar treinos), ele é sim capaz de ganhar jogos com estratégias e com leituras durante o jogo, mas é no planejamento e treino que o trabalho dele ganha sua melhor versão, já que é reconhecidamente um dos treinadores de seu país que melhor consegue evoluir jogadores através de suas sessões e de seus planejamentos, e a bela contradição disso tudo é ter aceitado um trabalho no país que dá menos condições para que um treinador execute planejamentos e treinos, esse pode ter sido o desafio que o convenceu a vir para cá. O revezamento foi a solução encontrada para que ele consiga manter o time em um alto nível de competitividade e ao mesmo tempo fez com que ele ganhasse semanalmente 1 dia a mais de treinos com a equipe, já que revezando sempre, ele pode usar o dia após o jogo para não só recuperar os que jogaram anteriormente, mas também treinar os que estavam no banco para entrar na próxima partida. Não sei de fato se isso faz parte do planejamento, mas se fizer é uma estratégia excelente para conseguir aos poucos colocar o time no nível desejável para competir pelos campeonatos.

Vítor Pereira
Foto: divulgação Corinthians/Rodrigo Coca/Agência Corinthians

O início, ainda que não tenha tido sucesso nos clássicos, é promissor (ainda mais avaliado por mim, que sempre gostei do seu trabalho e sou um otimista convicto), o trabalho ainda engatinha, mas está em mãos que são reconhecidamente competentes. Cabe agora esperar, dar o respaldo que os outros não tiveram e acreditar nos porquês os treinadores portugueses, hoje em dia, são melhores do que os nossos.

Eu estou fechado com o VP, e você? 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Gabriel Bernardo Monteiro

Graduado em Educação Fisica pela Universidade Estadual de Campinas

Como citar

MONTEIRO, Gabriel Bernardo. Pereirismo está ligado, mas oscilando. Ludopédio, São Paulo, v. 155, n. 12, 2022.
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