Sempre que vou fazer uma viagem minha esposa gosta de procurar os relatos de pessoas que já passaram pelos lugares que vamos conhecer. Feita a seleção prévia do que interessa para a viagem, algumas vezes, os lia com certa inveja. Queria ter escrito, visto, vivido tais experiências. Fizemos muitas viagens juntos e até chegamos a escrever algumas coisas mas sem nunca as completar. Apenas tivemos o prazer de relatar para os amigos próximos como fora a viagem. Eis que chegou a oportunidade de contar um pouco, não só para os amigos, mas para quem se interessar, de como funciona a FIFA para quem vai pesquisar nos documentos da entidade e saber um pouco da cidade na qual ela está instalada, Zurique.

Começarei pela cidade, pois sem entende-la você terá dificuldades para chegar até a FIFA. Em primeiro lugar saiba que a Suíça não pertence a União Europeia. O dinheiro corrente na Suíça, o franco suíço, tem praticamente a mesma cotação do euro. No momento da minha viagem a cotação girava em torno de 3,50 reais para comprar 1 franco suíço. E que a língua mais falada em Zurique é alemão, mas que grande parte das pessoas também fala em inglês.

Me hospedei, via Airbnb, em um quarto de apartamento no bairro Oerlink (dica do meu amigo Luiz Burlamaqui que é craque na FIFA). Desse bairro era muito fácil e rápido (cerca de 35 minutos) para chegar até a FIFA. A cidade de Zurique tem um sistema de trem de superfície, para eles tram e para nós VLT, que funciona muito bem e te leva para qualquer lugar da cidade.

tram
Bilhete semanal utilizado em Zurique.

Aqui vale uma observação importante: a cidade de Zurique confia em você. Isso quer dizer que para entrar no trem você precisa comprar seu ticket ou validar o ticket semanal que possui. Fiquei uma semana na cidade e não vi ninguém sendo abordado para mostrar o ticket, mas me informaram que se for abordado e não o tiver seus problemas serão grandes. Por isso, não vi ninguém entrar no tram sem validar ou comprar o ticket. O valor desse ticket é de 47,60 francos válidos para 6 dias (7,93 por dia) e se comprasse o diário sem limite de uso sairia mais de 10 francos por dia.

Um outro exemplo dessa confiança pode ser vista no supermercado: existem caixas em que a pessoa passa as compras, coloca na sacola e faz o pagamento. No supermercado em que eu fui eram cerca de 12 caixas nesse formato e apenas uma pessoa da loja por perto.

Voltando ao trem de superfície e como chegar até a FIFA. A sede FIFA fica em um lugar mais afastado da cidade localizada ao lado do Zoológico de Zurique (linha 6). De onde eu estava hospedado pegava o trem 10 e trocava para a o trem 6 (os números são as linhas da cidade). O trem 6 para ao lado da FIFA, são menos do que cinco minutos andando.

É possível conhecer as instalações externas da FIFA sem grandes problemas. No meu caso eu agendei minha visita porque passei uma semana lá consultando os arquivos da entidade. Para isso, fiz o contato com as pessoas responsáveis pelo Centro de Documentação da FIFA e preenchi um formulário. Além disso, leia as regras do local e veja os horários em que a biblioteca do Museu fica aberta (por exemplo, segunda-feira não abre).

 Terça Quarta Quinta Sexta
 Manhã            – 10:00-14:00            – 10:00-14:00
 Tarde 13:00-18:00            – 13:00-18:00            –

Já para a pesquisa realizada no Centro de Documentação não houve restrições de dias e horários. Estive lá de segunda a sexta sendo que no primeiro dia o Dominik agendou para eu chegar às 10h, mas logo nos demais dias eu chegava às 9h e saía às 18h.

No luxuoso prédio da FIFA o Centro de Documentação fica no quinto andar, mas engana-se quem pensa que é no quinto andar para cima. É o quinto para baixo. Aliás, o prédio tem uma numeração que não segue o padrão mundial dos elevadores.

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Vista da porta de entrada do Centro de Documentação da FIFA. Foto: Sérgio Settani Giglio.

Como durante uma semana passei cerca de 9 horas por dia no Centro de Documentação vi poucas pessoas que trabalham na FIFA. Uma parte delas as encontrava no Zoo Café na hora do almoço. Era lá o lugar mais barato para almoçar em um lugar que não possui grandes opções para esse tipo de refeição. O prato do dia custava entre 12 e 13 francos.

Talvez por conta do meu confinamento também vi poucas pessoas visitando o prédio da FIFA. Os encontrava especialmente depois da volta do almoço e pude identificar que eram do Japão, de algum país da América do Sul Filipinas. Desse último país as crianças que os acompanhavam foram convidadas a cobrar alguns pênaltis no campo principal em que havia quatro pessoas batendo bola.

Aliás, algumas vezes por semana, mesmo com muito frio (em um dos dias chovia e em outros pela manhã quando chegava havia uma pequena camada de neve), acontecia um jogo de futebol soçaite entre os funcionários da FIFA. A partida contava com grande número de mulheres jogando conjuntamente com os homens.

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Hall de entrada da FIFA. Foto: Sérgio Settani Giglio.

Para quem fazia essa visita era possível conhecer o enorme hall de entrada da FIFA em que não tem grandes atrações. Apenas dois cartazes da próxima Copa do Mundo da Rússia, todas as bolas da Era Adidas nas Copas do Mundo a partir de 1970 e uma miniatura de uma estátua que se localiza logo na entrada do terreno da FIFA. Também existe uma pequena loja de souvenirs da FIFA com uma pequena variedade de produtos.

Voltando ao quinto andar. Todo o acesso às salas da FIFA é feito via digital. Mesmo que eu estivesse com o crachá de visitante não conseguia ter acesso aos espaços internos. Por isso, minha entrada e saída do prédio sempre foi mediada pelo Dominik Pettermann. Existem duas pessoas que trabalham e conhecem muito bem o material do acervo da FIFA: o já mencionado Dominik que trabalha, na maior parte dos dias da semana, no prédio principal da entidade e o Michael Schmalholz que fica, por sua vez, grande parte do tempo na biblioteca da FIFA localizada no Museu da FIFA (não abordarei sobre o Museu porque será tema de algum texto da coluna da Daniela Alfonsi). O Museu fica no final oposto da mesma linha 6 (Bahnhof Enge).

A vantagem de começar a pesquisa pela Biblioteca é acessar o sistema interno da FIFA para buscar os documentos a partir de palavras-chave. Eu comecei, por uma questão de logística dos funcionários da FIFA pelo Centro de Documentação. Lá eu tinha que pedir o que queria para o Dominik e ele consultava o sistema e me trazia o material.

Grande parte dos documentos estão em pdf, mas outros, muito interessantes como as correspondências entre o COI e a FIFA – tema de meu interesse acadêmico – e das correspondências da FIFA com as outras Confederações não estão. Esse tipo de documento deve desaparecer a partir da introdução do email como forma de comunicação mais rápida. Uma pena.

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Número de 1929 da World`s Football que foi o nome dado ao Official Bulletin. Foto: Sérgio Settani Giglio.

Uma pena também é que alguns documentos foram extraviados e o Centro de Documentação não possui nem o pdf. Por exemplo, a edição número 1, isso mesmo a primeira edição do “Bulletin Officiel de la Fédération Internationale de Football (Association)” não existe nos arquivos da FIFA. Os arquivos começam no número 2 publicado em 1905.

Agradeço a FAPESP pela oportunidade de realizar essa pesquisa do meu projeto de auxílio regular in loco nos arquivos da FIFA e agora estou em Lausanne para pesquisar nos arquivos do COI. Espero nos meus próximos textos dessa coluna também explorar o que encontrei nos documentos consultados na FIFA.

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Sérgio Settani Giglio

Professor da Faculdade de Educação Física da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Esporte e Humanidades (GEPEH). Integrante do Núcleo Interdisicplinar de Pesquisas sobre futebol e modalidades lúdicas (LUDENS/USP). É um dos editores do Ludopédio.

Como citar

GIGLIO, Sérgio Settani. Por dentro da FIFA. Ludopédio, São Paulo, v. 92, n. 17, 2017.
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