“Quero llorar! Es para llorar, perdoname! Barrillete cósmico, de qué planeta viniste?! Gracias, Dios! Por el fútbol, por Maradona, por estas lágrimas”. Essa passagem, que poderia ser gravada em sua lápide, é a icônica narração argentina do segundo gol contra a Inglaterra na Copa de 1986, talvez a maior obra de arte já pintada num campo de futebol.
Momentos antes, Maradona abrira o placar com a famosa “mão de Deus”. Não me ocorre nada mais maravilhoso e deselegante, em todo o seu simbolismo, do que um pibe latino trapacear ingleses no jogo por eles inventado. Pode chamar de correção histórica.
É curioso que dois dos lances mais famosos de sua carreira resumam tão bem o camisa 10, encarnem o que há de mais maradonesco em seu talento divino e suas falhas exageradamente humanas.
Ninguém representa mais a essência do futebol que Diego Armando Maradona. Foi complicado admitir antes, agora está fácil — a ausência eterna despeja sua capa mítica. Se em termos técnicos e históricos Pelé está numa prateleira inatingível, Maradona é o ícone máximo do componente mais importante desse esporte: paixão. Quanta paixão.
Não se ama Pelé, Zico ou Cristiano Ronaldo como se ama Maradona. Usando a bola como instrumento, ninguém foi capaz de despertar, para o bem ou para o mal, tantos sentimentos como Don Diego. Nenhuma nação idolatrou um atleta como a Argentina o idolatra: há uma Igreja — literalmente uma religião — para Maradona. Nenhuma cidade se rendeu tanto a um craque como Nápoles ao camisa 10.
No momento exato em que seu coração parou, o futebol encolheu. Parece que acaba de rasgar um pedaço da América Latina em todas as suas contradições e genialidades, em sua irresistível violência, em tudo que há de mais abençoado e atormentado e que se possa representar através de um pé esquerdo.