Por que Del Nero foi afastado da presidência da CBF pela Fifa?
A Fifa, entidade máxima do futebol mundial, suspendeu o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Marco Polo Del Nero, por 90 dias, prorrogáveis por mais 45, começando na sexta-feira (15/12/17). Com a decisão, o chefe do futebol brasileiro fica proibido de exercer qualquer atividade relacionada ao esporte no período, tanto no Brasil quanto no exterior. A decisão foi tomada pelo chefe de investigação do Comitê de Ética da entidade.
Segundo a nota oficial da Fifa, que cita artigos de seu Código de Ética, a decisão pode ser tomada com base nos documentos disponíveis ao investigador, sem a necessidade de ouvir previamente o acusado. Agora, Del Nero terá o direito de se defender perante o órgão, seja presencialmente ou em carta. Depois disso, o comitê da Fifa deve decidir se mantém a suspensão (que, por enquanto, é provisória), ou a revoga. Até lá, a presidência da CBF será exercida por Coronel Nunes, vice-presidente mais velho da entidade – as regras da CBF adotam a idade como método para decidir quem assume, nesses casos. Nunes é ex-presidente da Federação Paraense de Futebol e ex-militar da Aeronáutica, atuante no período da ditadura.
O que pesa contra Del Nero
Del Nero é acusado nos EUA pelos mesmos sete crimes que pesam contra José Maria Marin, seu antecessor na presidência da CBF e que está em prisão domiciliar em Nova York desde novembro de 2015.
As acusações
OS POSSÍVEIS CRIMES
Ambos são acusados de cometer três crimes diferentes: fraude, lavagem de dinheiro e “conspiração para extorquir”, segundo o FBI, ou seja, formação de organização criminosa.
COMO TERIAM SIDO COMETIDOS
Marin e Del Nero, segundo o FBI, cobraram propina de duas empresas brasileiras de marketing esportivo – a Traffic, de J. Hawilla, e a Klefer, de Kleber Leite – para que elas tivessem benefícios em contratos comerciais de três campeonatos diferentes: Copa do Brasil, Copa América e Copa Libertadores da América. Os dirigentes confessaram os subornos, que teriam ocorrido entre 1991 e 2013.
POR QUE SETE ACUSAÇÕES
Como são três torneios diferentes, os crimes de fraude e lavagem de dinheiro teriam sido cometidos três vezes cada, uma para cada contrato, totalizando seis acusações. A elas, soma-se a acusação de formarem uma organização criminosa. As acusações fazem parte da investigação tocada pelo FBI nos EUA, chamada de Caso Fifa.
Por que Marin está preso e Del Nero, não
Em 2015, durante uma reunião da alta cúpula da Fifa em sua sede na cidade de Zurique, na Suíça, cartolas que já eram investigados pela polícia americana foram presos e depois deportados para os EUA – entre eles Marin e dois outros cartolas sul-americanos, Manuel Burga (Peru) e Juan Angel Napout (Paraguai). Del Nero também estava em Zurique, mas como ainda não era alvo de investigações nos EUA, conseguiu voltar para o Brasil. Depois, entrou para a lista de acusados do FBI, e desde então não sai do Brasil.
Caso vá para um país que tem acordo de extradição com os EUA, pode ter o mesmo destino de Marin e ser preso. O Brasil não deporta seus cidadãos, e por isso Del Nero está seguro por aqui. Uma juíza do Rio de Janeiro ainda negou qualquer possibilidade de cooperação entre Brasil e EUA no Caso Fifa, impedindo o Ministério Público de colaborar com os americanos. Por isso, a Fifa é a única instância na qual Del Nero pode ser julgado e condenado.
Nos EUA não pode ser preso, por estar no Brasil, e no Brasil não é acusado de nenhum crime. A Fifa, caso entenda que Del Nero agiu de forma contrária a seu Código de Ética, pode bani-lo do esporte e, consequentemente, do futebol. Ele não seria preso, mas perderia o poder no esporte.
O momento da suspensão
A decisão da Fifa acontece dias depois de a defesa de Marin tentar, pela última vez, livrar seu cliente das acusações nos EUA. A estratégia adotada pelos advogados do ex-presidente da CBF é de responsabilizar seu ex-aliado Del Nero.
“O futebol brasileiro é uma monarquia, e o rei era o Marin. Daqueles reis que não decidem nada. Marco Polo era o presidente, que fazia as coisas”
Charles Stillman Advogado de Marin, em audiência nos EUA
A suspensão também chega alguns meses antes de Del Nero se candidatar a um novo período à frente da CBF. Segundo o site Globoesporte.com, o presidente deve convocar uma nova eleição em abril de 2018 na qual seria o único candidato. Se eleito, ganha o direito de comandar a CBF até 2023 e, depois, poderia tentar uma reeleição para ficar no cargo até 2027. A atual regra da CBF só permite uma reeleição a seus presidentes. Mas ela foi adotada quando Del Nero já estava no cargo e, portanto, não leva em conta a eleição que o levou à presidência em 2015.
“Avanço, modernização, legalidade. Estímulo à gestão responsável dos clubes. Busca de padrões de governança. Abertura, segurança jurídica. Consciência de sua função social. Esses são os lemas da nova CBF. Assim será o novo futebol brasileiro”
Marco Polo Del Nero
Em cerimônia de posse na presidência da CBF, em 2015
Del Nero nega todas as acusações que são feitas contra ele pelo FBI e que são investigadas na Fifa, e diz que não existem e nem existirão provas que o incriminem. Marin também alega inocência, sustentando que as provas contra si são “frágeis”.
Este texto é uma republicação de artigo publicado no site Nexo Jornal.