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Precisamos falar dos jovens jogadores brasileiros

Luis Battistini 26 de setembro de 2016

Quem não se lembra do episódio de 2010 em que Neymar discutiu com o técnico Dorival Júnior durante um jogo do Santos pelo Campeonato Brasileiro? Na ocasião, Renê Simões, treinador do Atlético-GO – adversário do Santos naquela noite – classificou o jovem jogador como “mal-educado” e disse: “Estamos criando um monstro.”

Seis anos se passaram desde o ocorrido, e parece que a fábrica de monstros continua trabalhando a todo vapor. Ou será que ninguém acha, no mínimo, exageradas as atitudes de jovens jogadores, tidos como promissores e futuros craques do Brasil? Como exemplo, podemos citar dois garotos, que além de compartilharem essa pressão, dividem o mesmo nome: Gabriel Jesus, do Palmeiras e Gabriel, o Gabigol, recém saído do Santos.

Gabriel, segundo a Bíblia, é o arcanjo responsável pelas anunciações divinas e significa “homem de Deus”. Talvez influenciados por isso, os dois jovens atletas se julguem acima das leis dos homens. O ex-santista, já não é de hoje, parece ser sempre portador de uma ira completamente desnecessária e desproporcional quando entra em campo. Ameça adversários, esbraveja contra a arbitragem e provoca torcedores. Qualquer dividida mais forte e lá está o Gabigol medindo forças com as testas rivais.

gabrieljesus
Gabriel Jesus em ação pela seleção brasileira principal. Foto: Pedro Martins/Mowa Press.

O pupilo palmeirense, chamado de “novo Neymar” pelo tablóide Inglês “The Sun”, tem lembrado mais o craque brasileiro pelo ocorrido em 2010 do que pelo demonstrado em campo. Carregar consigo o sobrenome de Jesus, pode contribuir para que o jogador se sinta tão perseguido dentro das quatro linhas, não é preciso forçar a memória para recordar a sua expulsão em um jogo da Libertadores deste ano, após agredir um jogador do Rosário Central da Argentina. Além disso, não é raro vê-lo desacatando juízes, bandeirinhas e tentando intimidar os jogadores que estejam do lado oposto ao seu.

Cobramos muito os clubes para que invistam mais na base, afinal, o Brasil – pentacampeão mundial – sempre foi um celeiro de craques e mercado certo para os maiores clubes do mundo. Mas, será que também lembramos de cobrar investimento na parte psicológica dos meninos que visam se tornar grandes astros do futebol? Os jogadores precisam lembrar que também servem de exemplo e inspiração para crianças, que os têm como ídolos. Suas atitudes influenciam e incentivam os pequenos fãs. Futebol é um esporte e não uma guerra, como temos visto nos últimos tempos. Aliás, tempos difíceis, em que se pede paz entre torcedores, mas não se pede essa mesma paz e com o mesmo afinco, entre aqueles que promovem o espetáculo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Luis Battistini

Estudante de Jornalismo, Apaixonado por esportes e pelo Palmeiras.

Como citar

BATTISTINI, Luis. Precisamos falar dos jovens jogadores brasileiros. Ludopédio, São Paulo, v. 87, n. 11, 2016.
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