Primórdios e consolidação do Internacional: uma breve história do “Campeão de Tudo” (parte 1)

Quem foram os seus pioneiros e quais os principais valores instituídos no nascimento do clube? De que forma o vermelho e o branco consolidam-se como as suas cores tradicionais?

A fundação do Sport Club Internacional está intimamente vinculada a três irmãos chegados a Porto Alegre na primeira década do século XX: Henrique Poppe Leão, José Eduardo Poppe e Luiz Madeira Poppe.

Henrique, o mais velho, funcionário da prefeitura de Porto Alegre e também jornalista, juntos aos mais novos, José e Luiz, que haviam praticado em São Paulo e tinham o desejo de jogar futebol no Rio Grande do Sul, foram os responsáveis pela articulação que levou a fundação do clube no dia 04 de abril de 1909, em reunião na Rua da Redenção (atual Avenida João Pessoa), em Porto Alegre, onde João Leopoldo Seferin foi eleito o seu primeiro presidente, de acordo com Internacional (2021).

Seferin tinha apenas 18 anos na época e era funcionário de uma farmácia, tendo sido eleito por cortesia (havia cedido a casa onde se realizava a reunião), fato que causou surpresa ao mesmo. Foi nomeado como presidente honorário o sogro de Henrique Poppe, o capitão Graciliano Ortiz, visando buscar respeitabilidade ao grupo, bem como ajudar a conseguir um campo para treinamentos e jogos, visto que era diretor da Limpeza Pública municipal, de acordo com Dienstmann e Denardin (1999).

Dentre os valores que destacavam os pioneiros, de acordo com Internacional (2016), estavam a inclusão de cidadãos de diferentes origens (brasileiros e estrangeiros), em oposição a política adotada de discriminação dos outros clubes existentes em Porto Alegre no período (Grêmio e Fuss-Ball), a prática do futebol e a celebração da própria juventude, bem como a possibilidade de criar um clube onde seria possível a busca de novos contatos sociais.

Relativamente ao primeiro valor, Damo (2002) irá mencionar que a fundação do Internacional se dará claramente em contraposição à política associativa que era adotada pelo Grêmio e os demais clubes da cidade na época, fato este que levanta a hipótese de ter acontecido algum tipo de mobilização popular na época, em face de uma possível indignação e inconformidade da comunidade porto-alegrense devido às regras discriminatórias de associação aos clubes já existentes.   

Dienstmann e Denardin (1999) destacam que uma segunda reunião realizada no domingo seguinte a da fundação do clube (11 de abril) teve como objetivo definir o nome e as cores da nova agremiação. Por sugestão dos irmãos Poppe, foi escolhido o nome “Internacional”, dado que estes eram torcedores de um clube com este nome no Estado de São Paulo.

Entretanto, a sugestão dos irmãos Poppe para que o clube vestisse o vermelho, preto e branco (cores da bandeira do Estado de São Paulo) ou o azul e preto (cores da Internazionale de Milão) acabaram por serem rejeitadas na data.

Tal fato teria ocorrido porque os demais participantes da segunda reunião (em sua maioria porto-alegrenses) eram ligados além dos esportes ao carnaval, sendo sócios das duas principais sociedades carnavalescas da cidade na época. A primeira era o Esmeralda, de cor verde, e a segunda os Venezianos, de cor vermelha. Como os segundos estavam em maior número, o clube é vermelho até hoje. Sua primeira camiseta foi listrada verticalmente, com cores vermelha e branca. Tais cores permanecem até hoje como as do clube, sendo sua camiseta predominantemente vermelha.

Tendo obtido a sua primeira vitória no dia 10 de outubro de 1909, contra o Militar, por placar de 2 a 1 (dois a um), as primeiras conquistas deram-se já no início da sua segunda década do século XX, com o pentacampeonato metropolitano, de 1913 a 1917. Já o primeiro título estadual vai ser alcançado em 1927. Por fim, a primeira vitória em clássico Gre-Nal é obtida em 1915 pelo placar de 4 a 1 (quatro a um). É conquista do clube deste período também o seu primeiro campo exclusivo para jogo, sendo este denominado como Chácara dos Eucaliptos, local onde permaneceria até a década de 1930, segundo Internacional (2021).

Referências Bibliográficas

DAMO, A. S. Futebol e identidade social: uma leitura antropológica das rivalidades entre torcedores e clubes. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002.

DIENSTMANN, C.; DENARDIN, P. E. Um século de futebol no Brasil: do Sport Club Rio Grande ao Clube dos Treze. Porto Alegre: APLUB, 1999.

SPORT CLUB INTERNACIONAL. O princípio do Clube do Povo. Acesso em: 25 fev. 2021.

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Vinícius Triches

Bacharel em Ciências Econômicas e Mestre em Economia. Doutorando em Psicologia Social, com a tese desenvolvida na área da "Identidade Social, Representações Identitárias, Torcidas de Futebol e dupla Gre-Nal". Atualmente também cursa Licenciatura em Sociologia.