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Quando o futebol não é prioridade

Felippe Guimarães 17 de agosto de 2021

30 de Janeiro de 2021. Maracanã, Rio de Janeiro. Final da Copa Libertadores da América 2020. Palmeiras x Santos, e o Santos FC vem a campo com: John, Pará, Lucas Veríssimo, Luan Peres e Felipe Jonatan; Sandry, Alison e Diego Pituca; Marinho, Soteldo e Kaio Jorge.

8 de Agosto de 2021. Vila Belmiro, Santos. 15ª rodada do Brasileirão 2021; Santos x Corinthians,  e o time praiano vem escalado com: João Paulo; Madson, Luiz Felipe, Kaiky e Felipe Jonatan; Camacho, Jean Mota e Carlos Sánchez; Marcos Guilherme, Lucas Braga e Marcos Leonardo. De um jogo para o outro se passaram apenas seis meses e mesmo assim há apenas uma permanência para o time titular. O que aconteceu com o clube? Simples, deixou de priorizar o futebol e o desempenho em campo.

Santos
Foto: Ivan Storti/Santos FC/Fotos Públicas

Neste texto busco trazer uma reflexão sobre  o quanto as más gestões anteriores do Santos Futebol Clube obrigaram a diretoria atual a se desfazer dos seus jogadores, que, ficaram apenas a uma vitória neste jogo citado acima, realizado no Maracanã, de se tornarem ídolos eternos do clube.

Com exceção de Sandry e Marinho que estão lesionados e com isso não puderam ser titulares no clássico contra o Corinthians, de Pará e John que se tornaram reservas por opção técnica e de Felipe Jonatan que figura as duas escalações, todos os outros jogadores foram negociados pelo time santista. A razão? Inúmeras dívidas que o Santos vem fazendo nos últimos anos.

A gestão do atual presidente Rueda deixou bem claro suas intenções desde o início: “arrumar o fluxo de caixa e pagar os débitos”. E obviamente é o que se deve fazer com o clube na situação que está, justamente para não correr o risco de um novo transfer ban ou de perda de pontos durante o Campeonato Brasileiro. Com isso, a filosofia de trabalho para 2021 é não dar prioridade para o futebol do clube e sim para pagar as contas. Com as vendas de Veríssimo, Luan Peres, Diego Pituca, Alison (ainda em negociação), Soteldo e Kaio Jorge fica muito difícil cobrar Fernando Diniz de resultados. Todos esses jogadores eram titulares absolutos da equipe e como disse anteriormente, ficaram a uma vitória de serem eternizados na história do maior time da Terra, e se tivessem permanecido no time certamente teríamos como exigir algo a mais do treinador para a temporada atual. Entretanto, com todas essas perdas e poucas peças de reposição não me sinto no direito de cobrar títulos do elenco atual, que é formado quase inteiramente por garotos da base, reservas da temporada passada e alguns “refugos” que vieram sem contrato com outras equipes ou por empréstimo.

Quero deixar bem claro aqui que quando digo que a diretoria atual colocou o futebol do time como secundário, não o faço em tom de crítica, até porque concordo plenamente com essa abordagem. Porém, é muito triste ver um time tão bom como esse se desfazendo, e ver o Santos neste estado financeiro me deixa desolado e reflexivo sobre o poder que o voto para presidência do clube pode ter. Basta uma ou duas gestões ruins e um time que poderia dar muitas alegrias para o torcedor santista que, diga-se de passagem, já está com saudades de erguer uma taça, se desfazer tão rapidamente. Condenar Fernando Diniz pelo desempenho ruim nesta temporada também é muito injusto visto que o time é fraco principalmente para o estilo de jogo que o treinador idealiza, é bem verdade também que o time não mostra muita melhora na gestão do treinador mas com um elenco tão curto e tão repleto de garotos ainda é aceitável na minha opinião. Cuca fez um milagre com o elenco do ano passado? Talvez, mas pelo menos ele tinha um 11 inicial muito melhor do que Diniz.

Marinho Santos
Foto: Ivan Storti/Santos FC/Fotos Públicas

Para nós torcedores, basta continuar torcendo por uma melhora, principalmente na batalha contra as dívidas, que foi dada como prioridade pela gestão e esperar o dinheiro fruto da  venda desses jogadores, vá, no fim das contas, ser destinado a dar um fim, nas contas. E nas próximas eleições ter consciência de escolher uma chapa que não coloque todo esse processo a perder, e jogue o clube pro buraco novamente. E quem sabe, depois de um ou dois ciclos eleitorais não podemos ver o Santos com a estabilidade financeira e segurança para fazer contratações que merece. Até lá, as esperanças de bom futebol em campo ficam restritas ao surgimento de novos “raios” da tão importante base santista ou de um milagre de algum treinador de conseguir encaixar essas peças de “reforço” que chegam sem alarde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Felippe Guimarães

Graduando em educação física, santista da gema desde 1996.

Como citar

GUIMARãES, Felippe. Quando o futebol não é prioridade. Ludopédio, São Paulo, v. 146, n. 33, 2021.
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