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Quando o Nordeste se vestiu de vermelho e branco

Lucas Costa Universidade do Esporte 7 de novembro de 2020

O ano de 1998 não trás boas lembranças para os brasileiros amantes da pelota, o chocolate na final da Copa do Mundo contra a França foi bem amargo. Porém, em terras tupiniquins, especificamente no estado do Rio Grande do Norte, uma torcida tem guardada no coração essa data, já que foi nesse período do espaço-tempo que alcançou uma de suas maiores conquistas: A Copa do Nordeste

O vermelhão da Rodrigues Alves, mais conhecido como América Futebol Clube, começou sua história no esporte bretão em 14 de julho de 1915 com estudantes, funcionários públicos e comerciários em seu histórico primeiro elenco. O Alvirrubro presente no escudo e camisa do clube nem sempre esteve, porque as cores iniciais foram azul e branco, mas em 1918 as cores atuais apareceram e não saíram mais.

É junto com o ABC, seu maior rival, os mais tradicionais clubes do estado e da capital potiguar, tendo dividido entre os dois a maioria de títulos estaduais, fora a representatividade e força, já que até um tempo atrás, frequentavam as primeiras divisões do futebol brasileiro, figurando entre a série B e até algumas vezes a série A.

O América estampa com orgulho ter sido o único potiguar, até o momento, a chegar na elite do Brasileirão na era dos pontos corridos em 2007, contudo, o acesso e participação não são a maior glória do Mecão.

A Copa do Nordeste de 98 foi disputada em moldes diferentes dos atuais da competição mais charmosa da região, tendo duas fases de grupo para chegar numa final e contando com 16 times no total. O Vermelhão é um dos poucos clubes que já quebrou a hegemonia existente no torneio dominado pelo eixo PE-BA-CE.

Time campeão de 98. Foto: América FC/ Divulgação

Mesmo não sendo o favorito ao título, o Alvirrubro tinha um plantel de respeito, até porque era uma base que já tinha vinha há quase dois anos no clube, desde o acesso à série A em 96 e a permanência na elite em 97.

No sorteio dos grupos, o clube caiu no C com a participação do Fluminense de Feira, Botafogo-PB, e Náutico. As duas primeiras colocações foram disputadas pelos dois primeiros citados e o América. A campanha do Mecão o pôs à frente do Náutico fora de casa, na primeira rodada, onde o Vermelhão ganhou por 1 a 0.

A segunda rodada contra o Fluminense fora de casa acabou 1 a 1, o final do turno contra o Botofago dentro de casa colocou o América na parte de cima da tabela por conta da vitória por 3 a 2.

As coisas começaram a se complicar quando em casa perdeu para o Flu por 1 a 0 e na rodada seguinte
outra derrota para o Botafogo de 3 a 1. Para se classificar o time precisava vencer o Náutico e venceu. Uma goleada daquelas para nunca esquecer de 5 a 0 fez o Mecão ir a 10 pontos e ficar empatado com o Fluminense.

O critério foi o saldo de gols, o alvirrubro tinha +4 contra +2 do Flu. Passou Botafogo em primeiro com 13, América em segundo com 10.

A segunda fase de grupos serviu para o Dragão mostrar toda sua força, logo de cara meteu um 4 a 0 no ABC. O Mecão foi dono do grupo, encaçapou mais 4 vitórias seguidas e perdendo somente na última rodada para o Santa cruz por 3 a 1, mas já classificado para a grande final com 15 pontos e melhor campanha na competição, por isso teve a oportunidade de decidir a final no Machadão.

No outro grupo quem avançou foi o Vitória, buscando o bicampeonato da Copa comandado pelos pés brilhantes de Petkovic frente ao América do atacante Paulinho Kobayashi.

O confronto da ida foi feliz para os baianos e muito dolorido para os potiguares, já que o Vitória marcou o segundo aos 45 minutos do segundo tempo, o placar acabou 2 a 1 e a vantagem era do time treinado por Hélio dos Anjos.

Em Natal, 4 de junho, um Machadão lotado recebeu os times. Naquela noite o América entrou com o seguinte time: Gabriel, Gilson, Paulo Roberto, Lima e Rogerinho ; Montanha, Carioca, Moura e Biro Biro; Paulinho Kobayashi e Leonardo, esse foi o time que o técnico Arthurzinho acreditou que poderia bater o forte Vitória.

E não teve outra, a vantagem foi mandada para a lua em 5 minutos porque o Mecão começou voando o jogo metendo um gol com Biro Biro com 1’ de jogo e aos 5’ Kobayashi marca o segundo pra fazer o saudoso Machadão explodir.

O Vitória diminuiu com um gol no segundo tempo de Flávio, mas não era noite para pênaltis e muito menos de Vitória. Moura aos 34’ sofreu pênalti, Carioca pegou a bola, ajeitou e guardou.

O resultado final de 3 a 1 sagrou o Alvirrubro potiguar, sendo o único clube do estado campeão até hoje dessa competição. Paulinho kobayashi hoje técnico da equipe e ídolo, acabou o campeonato como artilheiro com 9 gols.

Time atual do América em campo para mais uma partida em 2020. Foto: Gabriel Leite / Universidade do Esporte

A campanha do América foi grandiosa, com 9 vitórias, 1 empate e apenas 4 derrotas numa competição que tirando a final, não teve fase mata-mata. O dia 4 de junho com toda a certeza nunca será esquecido pelos apaixonados torcedores do América, que para muitos, é o maior título da história do Mecão.

A conquista do Nordeste coroou um bom período na história do América. Atualmente, mais de 20 anos depois da conquista, o clube vive fase difícil financeiramente e futebolística também, brigando para sair da série D há 4 anos sem sucesso. A torcida tem fé que Paulinho Kobayashi leve o clube novamente à glória como um dia já levou com seus pés.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Lucas Costa

Potiguar, estudante de Jornalismo pela UFRN, aspirante a repórter, apaixonado por táticas ofensivas, mas amante de certas "retrancas".

Como citar

COSTA, Lucas. Quando o Nordeste se vestiu de vermelho e branco. Ludopédio, São Paulo, v. 137, n. 12, 2020.
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