146.48

Qué va a ser de ellas?

Cláudia Samuel Kessler 26 de agosto de 2021

Quando olhei pra capa da notícia do jornal estrangeiro, me deparei com a reflexão,
sobre mulheres de um outro território, credo, raça/etnia e nação,
e fiquei me perguntando: será que as mulheres muçulmanas realmente precisam de salvação?
E a geopolítica neocolonialista que impulsiona a guerra e a exploração?

Com a retirada soviética do Afeganistão
Prometeu-se mais segurança e menos corrupção
o Talibã governou de 1996 a 2001, impondo sua visão
instituindo condutas pautadas em rigidez e opressão

Não se sabia o que o governo Talibã traria
com a implantação da sharia (lei islâmica),
com interpretação própria das normas do Alcorão
Apedrejamento, chicotadas, amputação e execução

O grupo político extremista e ultraconservador
promoveu um estado de grande apreensão e terror,
forçando as mulheres a circularem somente com um guardião
e restringindo o acesso a trabalho, saúde e educação

Hoje é o maior produtor de ópio, com 84% do total
cujos maiores mercados são Europa e Estados Unidos
O Afeganistão está entre os mais pobres e desvalidos
com PIB de US$500 per capta, segundo o Banco Mundial

O medo é que com a volta do Talibã os direitos das mulheres sejam ameaçados
com sequestros, violências e casamentos forçados
Sem poder rir alto ou cantar melodia
Sem praticar esporte ou demonstrar rebeldia
(mas será que é só lá que essas violências acontecem? e como são os homens também afetados?)

Jogando futebol nas ruas, Khalida Popal foi chamada de prostituta
Em 2010, como capitã, sua seleção estreou oficialmente em disputa
Em seguida, por ameaças de extremistas, precisou abandonar o país
Teve que fugir, exilar-se terras distantes, algo que ela nunca quis

Em Atenas 2004, Robina Muqimyar foi símbolo de renascimento no atletismo olímpico feminino
Mas sem estímulos, como o protagonismo será o destino?
O que será do futuro destas muçulmanas no esporte?
Serão os símbolos de resistência sinônimos de morte?

Ps: O jornal espanhol Marca publicou em 17 de agosto uma capa questionando o futuro das mulheres afegãs após o grupo extremista Talibã tomar o controle de Cabul, capital do país.

Marca Mulheres
Fonte: Reprodução Marca

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Cláudia Kessler

Jornalista e cientista social. Doutora em Antropologia Social (UFRGS).

Como citar

KESSLER, Cláudia Samuel. Qué va a ser de ellas?. Ludopédio, São Paulo, v. 146, n. 48, 2021.
Leia também: