152.25

Reinaldo, a síntese do artilheiro

Diego Martins 22 de fevereiro de 2022

Falar sobre o Reinaldo e sua história no futebol é uma grande responsabilidade. Ele é responsável por formar uma geração de atleticanos e personificar uma identidade de resistência contra as adversidades, que só quem vive o Galo entende como é.

Há vários craques na prateleira histórica do Atlético, mas nenhum é como o Rei. Isso não é uma opinião, mas sim um fato. É o gênio que surge em raras ocasiões. Reinaldo está em um patamar além do Futebol, pois tinha personalidade e coragem para falar sobre assuntos que ninguém falava e por ser gente como a gente. Infelizmente eu não tive a oportunidade de vê-lo mostrar seu talento no Mineirão, mas tive a oportunidade de gritar seu nome no jogo contra o Bragantino na entrega da taça do Brasileiro.

Descoberta

Corria o ano de 1971. O campeão do gelo Barbatana, então técnico das categorias de base e o pentacampeão mineiro Sinval, um dos diretores do clube na época foram até Ponte Nova para um amistoso e ficaram sabendo de um garoto promissor de apenas 14 anos. Foi então que conheceram o pequeno Caburé e logo o levaram para Belo Horizonte.

Seu 1º teste foi na Vila Olímpica e o colocaram para jogar num treino com os profissionais, que seriam campeões do Brasil meses depois. Reinaldo infernizou a zaga composta por Vantuir e Grapete, que revidaram com certa violência seus dribles e jogadas forçando Telê Santana a encerrar o treino.

Enquanto esteve na base, Reinaldo dormia nos alojamentos que ficavam embaixo das arquibancadas do estádio Antônio Carlos com seus companheiros de equipe como Marcelo Oliveira e Cerezo. A habilidade do Rei era tão grande que, com 16 anos fez sua estreia pelo profissional num jogo contra o Valério no dia 28/01/1973. O primeiro gol foi dois dias depois na vitória por 2 x 1 contra a Caldense. Reinaldo seguiu jogando e sofrendo com a violência dos zagueiros, algo comum na época. Para ele, faltava medo e sobrava personalidade. Foi um erro colocarem o Reinaldo para jogar tão cedo. Um garoto com tamanho talento deveria receber um preparo maior. Fator crucial em sua carreira.

O pequeno Reinaldo, ainda nas categorias de base no antigo estádio Antônio Carlos — Foto: arquivo pessoal
O pequeno Reinaldo, ainda nas categorias de base no antigo estádio Antônio Carlos. Foto: arquivo pessoal

Majestade

Em 1976 o Rei ganhou seu primeiro título. Com uma campanha invicta, o Galo venceu o Campeonato Mineiro com vários jogadores da base. No Brasileiro o time caiu nas semifinais para o Inter que acabou sendo campeão. Em 76 Reinaldo marcou 43 gols em 49 jogos, uma média de 0,87. O ponto negativo era o seu joelho. No final daquele ano passou pela sua terceira cirurgia em apenas três anos como profissional.

No ano seguinte, finalmente recuperado e com uma sequência maior de jogos, Reinaldo exibiu seu futebol para o país inteiro ver. Dribles, jogadas de efeito e gols, muitos gols. Ninguém balançou tanto as redes em 1977. Dos 21 jogos do Atlético no Brasileiro, Reinaldo marcou em 18. A média de 1,55 gols é até hoje a maior de todas as edições do campeonato. Pelo Brasileiro daquele ano, o Rei marcou o mais belo gol da história do Mineirão, na vitória de 6 a 0 sobre o América-RN, que lhe rendeu uma placa no estádio.

Foi também em 1977 que Reinaldo comemorou seu gol com o punho cerrado pela primeira vez, inspirado no alemão Gerd Muller. Porém, o motivo real do gesto é que era usado pelos integrantes do movimento revolucionário dos Panteras Negras. Apesar do Rei driblar as explicações, o gesto incomodou os militares. Ernesto Geisel chegou a alertá-lo para que comemorasse os gols de outra forma na Copa do Mundo de 78. Claro, o Rei não obedeceu.

 

Ângelo corre para comemorar com o Rei, 1977 — Foto: Jorge Gontijo
Ângelo corre para comemorar com o Rei, 1977. Foto: Jorge Gontijo

Contra tudo e todos

Reinaldo começou a sofrer com as pessoas ruins ligadas ao futebol. Ficou de fora da final contra o São Paulo devido a uma expulsão contra o Fast Clube que ficou um mês engavetada pelo STJD por ter reagido a uma agressão do jogador adversário, mesmo tendo cumprido a suspensão no jogo seguinte. Em 1980 e 1981 mais expulsões e operações contra o Rei e o Atlético que nos impediram de conquistar o Brasil, a América e até o mundo.

Apesar de todos os obstáculos que lhe eram impostos, Reinaldo nunca perdeu sua genialidade de craque e artilheiro. Ele seguiu batendo recordes e mais recordes. Em 1983, na vitória por 3 x 1 sobre o Uberaba pelo Campeonato Mineiro, o Rei se tornou o maior artilheiro da história do Atlético com 213 gols, ultrapassando Dario nove anos depois. Fez mais 42 gols, se isolando ainda mais na artilharia geral. Por más decisões da diretoria do Atlético, Reinaldo seguiu no clube e não teve seu passe valorizado. Em agosto de 1985 pelo torneio de Amsterdã que Reinaldo marcou seu último gol, contra o Athletic Bilbao, e fez seu último jogo, contra o Ajax. A dores impediram o Rei de continuar brilhando nos gramados, sendo principal motivo de anunciar sua aposentadoria precocemente, aos 29 anos.

 

Reinaldo marcado por Tostão II na vitória do Galo por 2x1 que deu o penta Mineiro de 1982. — Foto: Revista Placar
Reinaldo marcado por Tostão II na vitória do Galo por 2×1 que deu o penta Mineiro de 1982. Foto: Revista Placar

Números de Reinaldo pelo Galo

  • 475 jogos. O 7º mais atuante da história do clube;
  • 289 vitórias;
  • 113 empates;
  • 73 derrotas;
  • 255 gols. O maior artilheiro do clube;
  • 28 gols no Brasileiro de 1977. Maior média em uma única edição: 1,55;
  • 157 gols no Mineirão. Maior artilheiro do estádio;
  • 15 gols contra o Cruzeiro. Maior artilheiro do confronto na era Mineirão;
  • 19 gols contra o América. Maior artilheiro do confronto.
  • 89 gols pelo Campeonato Brasileiro;
  • 80 gols pelo Campeonato Mineiro;
  • 63 gols em amistosos;
  • 19 gols na Taça Minas Gerais;
  • 2 gols na Copa Libertadores;
  • 2 gols na Copa dos Campeões.

 

Mais um gol em 1976. O maior carrasco do América. — Foto: Revista Placar
Mais um gol em 1976. O maior carrasco do América. Foto: Revista Placar

 

Títulos

  • Campeonato Mineiro: 1976, 1978, 1979, 1980, 1981, 1982, 1983 e 1985;
  • Taça Minas Gerais: 1975 e 1976
  • Campeão dos Campeões do Brasil: 1978
  • Torneio Conde de Fenosa ESP: 1976
  • Torneio de Vigo ESP: 1977
  • Torneio Costa do Sol ESP: 1980
  • Torneio de Paris FRA: 1980
  • Torneio de Bilbao ESP: 1982
  • Torneio de Berna SUI: 1984
  • Torneio de Amsterdã HOL: 1984

O Rei sempre será um grande personagem que ficará para sempre na memória e no coração de cada atleticano. Atletas se tornam lendas em um clube não somente pelos títulos ou pela importância de uma taça. Se tornam lendas pelo respeito com a torcida, pela forma que o atleta entra em campo disposto a defender as cores da entidade e da maneira que ele se comporta diante das vitórias e das derrotas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Diego Felizardo Martins

Atleticano, fotógrafo e pesquisador de história. Graduado em Design Gráfico no UniBH. Frequentador assíduo da arquibancada que já viveu ela de várias formas. Amante de buteco como todo belo-horizontino. Administrador do projeto Galo Memória e BH no Tempo.

Como citar

MARTINS, Diego. Reinaldo, a síntese do artilheiro. Ludopédio, São Paulo, v. 152, n. 25, 2022.
Leia também:
  • 178.9

    O grito de um torcedor: estão matando a massa do Galo?

    Tiago Filizzola Lima
  • 175.16

    Reinaldo: o craque da resistência política no futebol brasileiro

    Gianluca Florenzano
  • 156.7

    O Clássico delas: o primeiro encontro entre Cruzeiro e Atlético no Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino A1

    Luciana Cirino Lages Rodrigues Costa