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Ricardo Teixeira, CBF e a imprensa

A entrevista do mandatário da CBF, Ricardo Teixeira, à Revista Piauí, é o que podemos chamar de prova inconteste do cinismo e do pouco caso que o dirigente faz da imprensa e dos milhões de apaixonados por futebol no Brasil. E há alguns aspectos a se ressaltar advindos dessa que é uma das matérias mais elucidativas a respeito de uma figura pública dos últimos tempos.

Em primeiro lugar, impressiona a veemência com que Teixeira reclama da imprensa de uma forma geral. Ao ser perguntado a respeito de um dos tantos subornos de que é acusado, o de ter pedido para atender a interesses aqui e ali, eis a resposta: “Minha filha, você acredita em tudo que sai na imprensa? Isso é tudo armação, esses ingleses ficaram putos porque perderam e não se conformam. É interesse do governo inglês anular a escolha da Rússia e tirar o Brasil do páreo.” Reparem a necessidade de uma conspiração, de um conchavo para deliberadamente prejudicar a grandeza do Brasil, a competência do país em sediar a próxima Copa do Mundo. Mas é compreensível. Talvez seja para ele, assim como para todas as figuras fartamente acusadas de corrupção e falta de idoneidade, a única saída: desqualificar seus acusadores.

Ricardo Teixeira. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil.

Ninguém seria capaz de dizer que o Brasil só teve essa chance por uma simples troca de favores: A CBF apoiaria um país africano como sede em 2010 e os países do continente fariam o mesmo pelo Brasil. Ninguém pensaria nessa hipótese, que tanto mancha a idoneidade da CBF e do senhor Ricardo Teixeira como instituição, já que ambos, há muito, se confundem.

Ricardo Teixeira ainda mostra uma faceta desagradável junto à Rede Globo, e demonstra que só se preocupa com algo negativo a seu respeito que saia no Jornal Nacional. Porque aí sim, diz ele, as coisas começariam a se complicar, e sua empáfia daria lugar à preocupação. Mas, no quadro atual, é muito difícil que isso aconteça. Chama a atenção ainda o fato de que a entrevista, após quase uma semana de sua publicação, não teve sequer uma declaração da Rede Globo tentando sequer se desvincular da imagem do mandatário da CBF.

O ex-genro de Ricardo Teixeira, nada menos que João Havelange, todo-poderoso do futebol mundial entre 1974 e 1998 (período em que presidiu a FIFA), aproveitou para discorrer sobre o pai de seus netos: “Se a senhora um dia tivesse que definir a malandragem, no bom sentido, claro, ela se chamaria Ricardo Teixeira.” Vindo de um homem que ajudou a Fifa a se tornar uma organização global e que é A raposa velha entre raposas velhas, é um tremendo elogio. No bom sentido, claro.

João Havelange, ex-presidente da FIFA. Foto: José Cruz/Agência Brasil.

O jornalista Andrew Jennings, famoso por suas denúncias ao COI nos anos 90 e à Fifa, mais recentemente, deu uma entrevista ao Lance que saiu no dia 12 de julho (confira na íntegra). Entre outras coisas, ele diz que o caso brasileiro de promiscuidade entre política e a cúpula do futebol é absurdo, ainda mais levando em conta que Tricky Ricky (como ele gosta de chamar o presidente da CBF, e quer dizer algo como Ricardinho Travesso) é um tremendo centralizador do poder, em um dos países mais apaixonados por futebol, que sediará uma Copa do Mundo no último ano do seu mandato. Ou seja, tudo passará pelas mãos dele, e ele fará o necessário para que os seus interesses sejam alcançados. E o contribuinte brasileiro, qual é a resposta para ele? É a mesma que para as denúncias da imprensa: “ Caguei. Caguei montão.” Realmente, são desnecessárias mais palavras.

Voltando à Teixeira, este termina a entrevista falando a mais pura verdade sobre o que deve acabar acontecendo no próximo mundial aqui no Brasil: “Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Porque eu saio em 2015. E aí, acabou”.

A pergunta que fica é: e a imprensa? Será que não fará nada a respeito? Porque há os que são traço (que dão pouca audiência, como disse Teixeira), mas fazem barulho. Enquanto isso, a maior emissora do país, com quem o dirigente admite claramente ter relações de privilégio, se cala. Lamentável.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Henrique de Almeida Soares Coelho

Sou um jornalista recém-formado,apaixonado pelo que eu faço, por futebol, por leitura e muitas outras coisas. Talvez com os textos vocês possam conhecer um pouco mais a meu respeito.

Como citar

COELHO, Henrique de Almeida Soares. Ricardo Teixeira, CBF e a imprensa. Ludopédio, São Paulo, v. 25, n. 8, 2011.
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