Em campo e na política, outra pioneira foi a jogadora e estudante de direito paranaense Rose do Rio, que resolveu jogar futebol para atacar os rótulos preconceituosos que as jogadoras recebiam nos anos 80. Engajada, fundou e presidiu a Associação de Futebol Feminino do Rio de Janeiro, incentivando outros estados a fazerem o mesmo.
Rose ganhou esse apelido por estar envolvida em um importante episódio que marcou para sempre a história da modalidade, período em que o decreto de lei da proibição já havia caído por terra, mas sem regulamentação, mulheres continuavam a ser boicotadas em campo. Em setembro de 1982, na cidade de São Paulo sediou o Festival Nacional de Mulheres nas Artes organizado por Ruth Escobar. Ruth, atriz e produtora cultural, organizou o festival com o apoio da Revista Nova. Foi, sem dúvida, uma grande amostragem da produção artística feminina nos mais variados campos de atuação.
No dia do encerramento do festival, foram formadas duas seleções, uma do Rio de Janeiro e outra de São Paulo, para jogar no gramado do Estádio do Morumbi. A organização do evento recebeu um Mandato de Segurança e conseguiu contorná-lo atribuindo ao jogo o caráter de “espetáculo” preliminar a partida São Paulo e Corinthians. O tempo do jogo feminino foi diminuído – vinte minutos cada tempo – a fim de descaracterizá-lo como uma partida autêntica. Compareceram 68 mil torcedores na ocasião, e junto com eles um telegrama da Federação Paulista de Futebol proibindo a realização da partida. Segundo depoimento de Rose do Rio, os jogadores teriam apoiado a iniciativa, e Sócrates, um dos líderes da democracia corinthiana, falou em alto e bom som: “O público está aqui para ver o futebol feminino. Não está para ver Corinthians e São Paulo não. Então se elas não entrarem, nós também não vamos entrar!”.
Somente em abril 1983 a CND regulamentou o futebol de mulheres no país através da Deliberação 01/83. Entre as regras estavam: o tempo da partida em 70 minutos com intervalos de 15 a 20 minutos; a bola de diâmetro entre 62 e 66 centímetros e peso máximo de 390 gramas; as jogadoras devem usar chuteiras em travas metálicas ou pontiagudas; e não podem trocar de camisas com as adversárias após uma partida. Essa última regra se deve ao episódio ocorrido no Morumbi, quando Ruth Escobar trocou de camisa com uma das jogadoras da seleção paulista.
Por essa e outras razões Rose é uma das homenageadas da exposição Visibilidade Para O Futebol Feminino! Sua história é contada no vídeo “Pioneiras” presente na Sala Dança do Futebol. Rose disponibilizou o seu acervo já digitalizado para o Museu do Futebol contribuindo as pesquisas sobre a história da modalidade.