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Cronologia das torcidas organizadas (VIII): Sangue Jovem do Santos

Nota explicativa. Esta série é parte integrante do projeto “Territórios do Torcer – uma análise quantitativa e qualitativa das associações de torcedores de futebol na cidade de São Paulo”, desenvolvida entre os anos de 2014 e 2015, com o apoio da FAPESP. A pesquisa foi realizada em parceria pelo CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e pelo Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), equipamento público vinculado ao Museu do Futebol/Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Nesta seção, será apresentado um total de 10 torcidas organizadas da cidade de São Paulo. O propósito informativo desta série é compartilhar breves apontamentos cronológicos sobre a história e a memória das associações de torcedores paulistanos. Os dados aqui fornecidos foram de início a base para a montagem de um roteiro de perguntas que serviu à gravação dos depoimentos de fundadores e lideranças das respectivas agremiações torcedoras, tal como ilustram as fotos que acompanham os textos.

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A torcida organizada Sangue Jovem do Santos é a segunda agremiação de torcedores do clube em ordem de importância, tendo em vista seu tamanho, isto é, seu número de associados. Acima dela, encontra-se a Torcida Jovem do Santos e abaixo, a Força Jovem. A Sangue foi fundada em 1988, há exatos trinta anos, em dissidência à Sangue Santista, a maior torcida do clube nos anos 1970. Uma das marcas distintivas do grupo é localizar-se na baixada santista, mantendo um vínculo local com a cidade onde se originou o clube.

Antes de mencionar dados referentes à sua trajetória, vamos vinculá-la aos marcos cronológicos da história oficial do Santos Futebol Clube, razão de ser da existência do grupo. Embora extensa, seguindo década a década, a cronologia inclui aspectos importantes de sua memória institucional, de modo que iremos circunstanciar personagens da direção e do futebol que marcaram esse clube até a criação da Sangue Jovem.

Em 14 de abril de 1912, foi fundado o Santos Foot-Ball Club, por iniciativa de Francisco Raymundo Marques, Mário Ferraz de Campos e Argemiro de Souza Júnior, em uma assembleia realizada no Clube Concórdia, com a presença de outros 39 rapazes, em sua maioria estudantes ou funcionários de empresas de comércio na cidade. O nome homônimo do novo clube foi decidido por unanimidade, entre outras opções sugeridas, como “África”, “Concórdia” e “Brasil Atlético”.

A primeira diretoria do Santos foi formada por: Presidente – Sizino Patusca; Vice-presidente – George Cox; 1º secretário – José G. Martins, 2º secretário – Raul Dantas, 1º tesoureiro – Leonel Silva, 2º tesoureiro – Dario Frota. Os diretores eram: Augusto Bulle, João Carlos de Mello, Henrique Cross, Francisco Raymundo Marques, Cícero F. da Silva e Jomas de C. Pacheco.

Sizino Patusca, embora não estivesse presente na primeira reunião fundadora, foi aclamado presidente. Patusca já possuía experiência anterior como dirigente esportivo, conforme informação colhida na seção “Que fim levou?”, do sítio do apresentador televisivo Milton Neves. Sizino foi pai de Ary e Araken Patusca, dois jogadores brasileiros que alcançaram grande destaque nas décadas posteriores, atuando pelo Santos e por outras equipes.

A primeira apresentação do time, considerada como um jogo-treino, ocorreu no dia 23 de junho de 1912, no campo da Villa Macuco, contra um combinado local. O confronto foi vencido pelo Santos pelo placar de 2 a 1, com gols de Anacleto Ferramenta e Geraule Ribeiro. O time entrou em campo com: Julien Fauvel; Simon e Ari; Bandeira, Ambrósio e Oscar; Bulle, Geraule, Esteves, Fontes e Anacleto Ferramenta.

O primeiro jogo tido como oficial aconteceu apenas em 15 de setembro de 1912. O Santos venceu o Santos Athletic Club (atual Clube dos Ingleses) por 3 a 2, no campo da Avenida Ana Costa, nº 22 – local onde hoje se encontra a Igreja Coração de Maria. O time estreante entrou em campo com a seguinte formação: Julien Fauvel; Sidnei e Arantes; Ernani, Oscar e Montenegro; Millon, Hugo, Nilo, Simon e Arnaldo Silveira. As primeiras cores oficiais da equipe foram o branco, azul e dourado.

No início de 1913, o Santos recebeu o convite para disputar o campeonato estadual da Liga Paulista de Futebol. Após quatro partidas disputadas, todas realizadas na cidade de São Paulo, a equipe santista se retirou do campeonato, em razão das dificuldades financeiras que encontrava para viajar a São Paulo toda rodada. Os resultados obtidos no torneio foram três derrotas, por goleada, para as equipes do Germânia, Internacional e Americano, e uma vitória contra o Corinthians, por 6 a 3, em jogo realizado no Parque Antárctica. Naquele ano, o Santos FC foi campeão santista de forma invicta.

Em 31 de março, devido às dificuldades em confeccionar uniformes em branco, azul e dourado, o Santos alterou suas cores oficiais. O sócio Paulo Peluccio sugeriu que o clube adotasse o branco e o preto. A medida foi aprovada de forma unânime em reunião da diretoria do clube. Nessa mesma reunião que decidiu a nova coloração, Francisco Raymundo Marques assumiu a presidência do clube. Em 1914, este foi substituído por Agnelo Cícero de Oliveira.

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Torcedor do Santos com a bandeira do clube. Foto: Fábio Soares/Futebol de Campo.

No ano seguinte, o Santos novamente conquista de forma invicta o título de campeão santista e, em 1916, o Santos voltou a disputar o Campeonato Paulista. Ainda naquele ano, em 12 de outubro, é inaugurado o Estádio Urbano Caldeira, a popular Vila Belmiro, em partida válida pelo Campeonato Paulista, disputada entre Santos e Ipiranga, com o placar de 2 a 0 para o time santista.

Em 1917, Flamínio Levy torna-se o presidente do clube. Um ano depois, o Santos chegou perto de conquistar o título paulista. Na penúltima rodada, venceu o poderoso Paulistano na Vila Belmiro, por 1 a 0. No último jogo, quando precisava de uma vitória sobre a Associação Atlética das Palmeiras para obrigar a um jogo-desempate com o Paulistano, foi derrotado em casa por 1 a 0. Ainda em 1918, Wallace Simonsen assume a presidência do clube e, no ano seguinte, Flamínio Levy retorna ao posto de presidente. Em 1920, é a vez de Agnelo Cícero de Oliveira reaver a presidência do clube.

Durante a década de 1920, o Santos passou por dificuldades financeiras e esteve perto da falência. Em 1921, Flamínio Levy retorna à presidência do clube, seguido, em 1922, por Armando Lichti. No ano seguinte, Flamínio Levy volta a presidir o clube mais uma vez, mas, ainda em 1923, é substituído por Manoel Oliveira Alfaya. Dois anos depois, Antônio Guilherme Gonçalves assume a presidência do clube e, em 1926, a equipe santista conquista o Torneio Início Extra.

Em 1927, com um time formado por algumas revelações do futebol, como os irmãos Camarão e Siriri (Aníbal e José Torres), o ponta-direita Omar, os pontas-esquerdas Evangelista e Hugo, o então jovem meia Araken Patusca e o experiente centroavante Feitiço, o Santos tornou-se o primeiro time do país a marcar mais de 100 gols em uma competição oficial (média de 6,25 gols por jogo). No entanto, o time santista não conseguiu conquistar o título, que ficou com o Palestra Itália. Entre 1927 e 1931, o Santos foi quatro vezes vice-campeão paulista.

Em 1928, o Santos conquista o Torneio Início. Sobre o desempenho do Santos FC nesse período vitorioso, Araken Patusca chegou a afirmar: “Éramos um time muito treinado e unido. O Santos daquela época (1926 a 31) foi, talvez, o time mais harmônico do Brasil. Era uma linha tão boa, que quando se formava a Seleção Paulista, iam os cinco como titulares. Só não conseguimos chegar ao título porque os times da capital armavam esquemas fora do campo”.

No início da década seguinte, Joaquim Pedro dos Santos é conduzido à testa do comando do clube. Em 1932, é sucedido por Agnelo Cícero de Oliveira e, em 1933, Carlos de Barros assume a presidência do clube. No ano de 1935, o Santos conquista seu primeiro título de Campeão Paulista. A base do time campeã era composta por: Ciro, Neves e Agostinho; Marteletti, Ferreira e Jango; Saci, Mário Pereira, Raul, Araken e Junqueirinha. O técnico foi o ex-jogador Bilu.

Entre 1937 e 1945, o Santos vai ser presidido por sete dirigentes: Frederico Jorge Sobrinho, José Martins, Benedito Wenceslau Carneiro, Jaime Matias Ricão, Romeu de Andrade Lourenção, Aristóteles Ferreira, Antônio Ezequiel Feliciano da Silva e Athiê Jorge Coury. Este assume a presidência do clube e fica no comando do Santos por quase três décadas (1945 – 1971).

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A Sangue Jovem foi fundada em 1988. Foto: Fábio Soares/Futebol de Campo.

Na virada de 1946 para 1947, a equipe santista realizou uma excursão pelo Nordeste entre 29 de novembro e 2 de fevereiro, tendo realizado 15 jogos e obtido o expressivo resultado de 12 vitórias e 3 empates. Em 1948, o Santos foi vice-campeão paulista, campeão da Taça Cidade de Santos e campeão da Taça das Taças.

Já na década de 1950, mais precisamente no ano de 1955, o clube alvinegro arrematou seu segundo Campeonato Paulista, ao bater o Taubaté por 2 a 1, sob o comando do técnico Lula. A equipe foi formada por: Manga; Hélvio e Feijó; Ramiro, Formiga e Urubatão; Tite, Negri, Álvaro, Del Vecchio e Pepe.

Em 1956, o Santos sagrou-se novamente o vencedor do Campeonato Paulista. No ano de 1957, o jovem Pelé estreia pela equipe santista e, já em 1958, a equipe santista conquistou novamente o Campeonato Paulista, marcando 148 gols em 38 jogos. Pelé fez 58 gols, a maior marca de gols até hoje de um jogador na história da competição.

Em 1958, três jogadores santistas ajudaram o Brasil a conquistar sua primeira Copa do Mundo: Pelé, Pepe e Zito. Um ano depois, o Santos conquistou o torneio Rio-São Paulo, ao suplantar o Vasco da Gama na final por 3 a 0.

A década de 1960 é o período mais vitorioso da história do Santos. Nessa década, a equipe conquistou oito títulos paulistas (60, 61, 62, 64, 65, 67, 68, 69), seis brasileiros (cinco Taças Brasil em 61, 62, 63, 64 e 65; e um Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 68), duas Taças Libertadores (62 e 63), dois Mundiais Interclubes (62 e 63), três Rio-São Paulo (63, 64 e 66), uma Recopa Sul-americana (68), uma Recopa Mundial (68) e inúmeros torneios internacionais.

A equipe santista realizou também, durante esse período, diversas excursões internacionais, indo jogar desde a Europa até a África. Uma enquete da revista argentina El Gráfico ouviu dezenas de especialistas da América do Sul e da Europa e elegeu como o melhor time de todos os tempos o Santos bicampeão mundial em 1962/63, cujo time-base era formado por: Gylmar, Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Técnico: Luís Alonso Peres, o Lula.

Além de Pelé, Pepe e Zito, que já estavam presentes na conquista da Copa do Mundo de 1958, Gilmar, Mauro, Mengálvio e Coutinho estiveram presentes na campanha do bicampeonato de 1962. Em 1966, na Copa da Inglaterra, os jogadores santistas que serviram à Seleção foram Gilmar, Orlando Peçanha, Lima, Zito, Edu e Pelé.

Em 1971, após décadas à frente de monopólio do poder político no clube, Athiê Jorge Couri dá lugar na presidência a Vasco José Fae. Em 1973, Santos e Portuguesa, após erro de arbitragem na contagem dos pênaltis, dividem o título de campeão paulista. No ano de 1975, Modesto Roma assume a presidência da agremiação. Três anos depois, é sucedido por Rubens Quintas Ovalle. Ainda em 1978, o Santos obtém o seu décimo quarto Campeonato Paulista, com o time que ficou conhecido como os “Meninos da Vila” e que tinha, entre seus destaques, jogadores como Pita, Juary e Ailton Lira. Em 1982, Ernesto Vieira da Silva é eleito presidente do clube. No ano seguinte, é a vez de Milton Teixeira comandar o clube.

Em 1984, o Santos conquistou o Campeonato Paulista vencendo o Corinthians no jogo decisivo, disputado no estádio do Morumbi, pelo placar de 1 a 0. O gol foi anotado por Serginho Chulapa, grande ídolo do Santos na década. Em 1987, Manuel dos Santos Sá assume a presidência do clube, seguido, um ano depois, por Otávio Adegas e Miguel Assad Macool Filho.

sanguejovemEm 1988, no dia primeiro de julho, é fundada a Torcida Sangue Jovem. Seus fundadores participavam da torcida extinta Sangue Santista e, sob a liderança de Oswaldo Vechi, primeiro presidente da torcida, resolvem criar a dissidente Sangue Jovem.  A torcida nasceu e tem sua sede ainda hoje na Baixada Santista. A primeira sede da torcida foi um escritório na Rua Amador Bueno, no Centro de Santos. O lema adotado pela torcida nos dias de hoje tem por palavras de ordem: “Caráter, Honra e Disposição”.

O primeiro jogo em que a Sangue Jovem esteve presente, portando 26 bandeiras, foi válido pelo Campeonato Brasileiro de 1988, contra o Vitória da Bahia, na Vila Belmiro, partida esta que terminou empatada com o placar de 1×1. Em 1990, dois anos depois de sua fundação, a torcida Sangue Jovem já dizia possuir 2 mil associados.

Entre 1989 e 1994, o clube conheceu mais quatro presidentes: Antônio Aguiar Filho, Marcelo Teixeira, Miguel Kodja Neto e Samir Jorge Abdul-Hak.

Em 1995, o clube “alvinegro praiano” foi vice-campeão brasileiro após perder a final para o Botafogo no Pacaembu, em jogo marcado por inúmeros erros de arbitragem que prejudicaram a equipe paulista. A equipe santista era liderada e tinha como destaque o meia Giovanni.

Dois anos depois, em 1997, o time santista conquistou o tradicional torneio Rio-São Paulo, após vencer o Flamengo de Romário, Sávio e Edmundo na final. Em 1998, o Santos amealhou um título continental: a Copa Conmebol, após vencer a equipe argentina Rosário Central por 1 a 0 na Vila Belmiro e segurar o empate, fora de casa, por 0 a 0.

Nesse mesmo ano, a torcida Sangue Jovem passou a ter sede em frente ao estádio da Vila Belmiro, na rua Tiradentes, número 6. Em 29 de março de 2000, foi fundada a Escola de Samba Sangue Jovem, uma ampliação da Banda da Sangue Jovem, presente no carnaval santista. Em movimento semelhante às demais torcidas que se tornavam grêmios recreativos e carnavalescos na capital paulistana, a Sangue, no entanto, restringiu sua presença no carnaval da cidade de Santos. Na criação da escola santista, a agremiação convidada para ser sua “madrinha” foi a Vila Isabel, a tradicional associação carnavalesca do Rio de Janeiro.

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Sangue Jovem no Pacaembu. Foto: Fábio Soares/Futebol de Campo.

Em 2000, Marcelo Teixeira retorna à presidência do clube. Em 2002, o Santos venceu o Campeonato Brasileiro, batendo o Corinthians na final. O time base era formado por: Fábio Costa; Maurinho, Alex, André Luís e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego; Robinho e Alberto. Técnico: Emerson Leão.

Em 2003, o Santos perdeu a final da Libertadores para o Boca Júniors da Argentina. A equipe brasileira perdeu os dois jogos do confronto: 2 a 0 no primeiro jogo na Argentina; e 3 a 1 no segundo jogo realizado no Morumbi.

Em 2004, o Santos sagrou-se campeão brasileiro. A escalação base da equipe campeã era: Mauro; Paulo César, Ávalos, Domingos e Léo; Zé Elias, Preto Casagrande, Elano e Ricardinho; Robinho e Deivid. Técnico: Vanderlei Luxemburgo. No ano seguinte, o CT Rei Pelé é inaugurado.

Em 2006, com o retorno do carnaval a Santos, a escola de samba Sangue Jovem, que continuou a ser chamada de Banda, apoiada por um trio elétrico, desfilou pela primeira vez na cidade e sagrou-se campeã daquele ano no grupo especial da baixada santista. A necessidade de ampliação de sua estrutura carnavalesca fez com que mudasse sua sede para uma quadra no bairro do Macuco, próximo ao estuário da cidade.

Nesse mesmo ano de 2006, o Santos conquistou o Campeonato Paulista. A escalação base da equipe era:  Fábio Costa; Luiz Alberto, Julio Manzur e Ronaldo Guiaro; Kléber, Fabinho, Maldonado, Cléber Santana e Rodrigo Tabata; Reinaldo e Geílson. O técnico da equipe foi Vanderlei Luxemburgo, que acabava de retornar de uma passagem de pouco sucesso pelo Real Madrid.

Em 2007, Santos arrebatou o título do Campeonato Paulista. A equipe que esteve em campo na última partida contra o São Caetano foi: Fábio Costa, Maldonado, Adaílton, Ávalos e Kléber; Rodrigo Souto, Pedrinho, Cléber Santana e Zé Roberto; Marcos Aurélio e Jonas. Técnico: Vanderlei Luxemburgo. Dois anos depois, em 2009, Luis Álvaro Ribeiro assume a presidência do clube.

No ano de 2010, o Santos conquistou o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil. Foram os primeiros títulos da nova geração de “Meninos da Vila”, liderada por Neymar e Ganso. O técnico da equipe em ambas as conquistas foi Dorival Júnior.

Em 2011, a equipe santista conquistou o Campeonato Paulista sob o comando do técnico Muricy Ramalho. No mesmo ano, o Santos voltou a conquistar a Taça Libertadores da América, após bater o Peñarol do Uruguai por 2 a 1, no Pacaembu. A equipe base do Santos na campanha foi: Rafael, Jonathan, Edu Dracena, Durval e Léo; Arouca, Charles, Elano e Ganso; Neymar e Zé Eduardo. Técnico: Muricy Ramalho.

Em 2011, o Santos de Neymar perde de goleada a final do Mundial Interclubes para o Barcelona de Messi por 4 a 0. Apenas um representante da torcida Sangue Jovem fez-se presente na partida em Tóquio. Um ano depois, o Santos volta a conquistar títulos estaduais, com o Campeonato Paulista, novamente sob o comando do técnico Muricy Ramalho. Em 2013, Odílio Rodrigues assume a presidência do Santos

Em 2014, a Sangue Jovem viu-se envolvida em escândalo midiático, após a cobertura do programa televisivo Fantástico. A emissão dominical da Rede Globo levou ao ar no final do mês de maio uma reportagem sobre a prisão do ex-presidente da torcida, Luciano Diesner, acusado de tráfico de entorpecentes e organização criminosa.

Em 2015, seguindo a tradição anual de outras torcidas organizadas, a Sangue Jovem promoveu a sua IX Festa do Chopp. O evento festivo ocorreu na sede do clube santista e teve por atração a bateria da Banda, MC’s convidados e grupos musicais.

Atualmente, a torcida Sangue Jovem possui em seus cadastros cerca de dez mil associados. Sua atual sede fica na Avenida Bernardino de Campos, n. 391. Divide-se internamente em núcleos e subsedes, com representações em Campinas, Bertioga, Americana e Sorocaba. Possui aliança com a torcida Força Flu, do Fluminense. É uma das poucas torcidas organizadas que admite receber apoio do clube, com o suporte de ingressos e ônibus para caravanas. Tem estatuto próprio e já chegou a realizar eleições para a escolha de seu presidente, embora isto tenha ocorrido poucas vezes, sendo as decisões, em sua maioria, definidas por aclamação.

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Entrevista com o ex-presidente Alexandre Cruz. Foto: Museu do Futebol.

Como ocorre com outras torcidas organizadas, a Sangue Jovem tem por rival interna a Torcida Jovem do Santos, que tem sede na capital paulista e com quem concorre por espaço dentro do clube e das arquibancadas. A rivalidade de torcidas interclubes se dá em especial com relação à Máfia Azul do Cruzeiro, em razão de conflitos ocorridos no Mineirão, incluindo o roubo de faixas e bandeiras, os chamados “troféus”. Entre seus principais rivais, estão também os integrantes da torcida Império Alviverde, do Coritiba. A rixa com a Força Jovem do Vasco também é intensa, em razão de uma briga famosa nos anos 1990 entre vascaínos e santistas, que terminou dentro do gramado do estádio de São Januário, no Rio de Janeiro, e foi capa dos jornais cariocas no dia seguinte.

Entre suas lideranças mais politizadas, encontra-se o ex-presidente Alexandre Cruz. Este, oriundo do movimento estudantil secundarista em Santos, integra a Associação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil (ANATORG). Viajou em 2013 com a comitiva brasileira de torcedores organizados à Alemanha, para conhecer o Fan Project, programa institucional do governo alemão, com apoio da Bundesliga, na prevenção à violência nos estádios daquele país.

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Bernardo Borges Buarque de Hollanda

Professor-pesquisador da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).

Raphael Piva

Bacharel em Ciências Sociais pela PUC-SP (2012). Trabalhou como assistente de pesquisa no projeto Territórios do Torcer (CPDOC-FGV/Museu do Futebol/FAPESP) entre os anos de 2014 e 2015. Atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social na Universidade de São Paulo. Possui interesse em diversos temas na linhas da Antropologia Urbana e Antropologia do Esporte. Zagueiro e lateral esquerdo. Varzeano que fez gol em final. Vice-campeão da Forja dos Campeões, torneio de boxe mais tradicional de todo hemisfério sul.

Como citar

HOLLANDA, Bernardo Borges Buarque de; FAVERO, Raphael Piva Favalli. Cronologia das torcidas organizadas (VIII): Sangue Jovem do Santos. Ludopédio, São Paulo, v. 105, n. 19, 2018.
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