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Santos 2021: um cobertor curto

Pedro Zan 1 de outubro de 2021

Juventude 3, Santos 0. Quarto jogo de Fábio Carille no comando do Peixe. Até agora, nenhum gol marcado e quatro gols sofridos. Não entendam mal: o Santos não fez um jogo péssimo em Caxias do Sul. Pelo contrário: foi melhor durante todo o primeiro tempo. O esquema com três zagueiros implementado pelo novo treinador parece estar funcionando. O jogo contra o Ceará foi ligeiramente melhor defensivamente do que vinha sendo (inclusive o Santos só não saiu do Castelão com os três pontos por conta de um escorregão de Marinho na cobrança de pênalti). E os primeiros 45 minutos em Caxias foram bons: o Juventude não tinha finalizado e o Santos, por sua vez, já tinha criado muito mais que nas partidas anteriores. Mas, nos acréscimos, uma falta boba de Danilo Boza na intermediária deu a possibilidade de um levantamento na área para Ricardo Bueno se aproveitar das falhas de Wagner Palha e João Paulo e abrir o placar. Daí em diante, o estrago estava feito.

Não me lembro qual o último jogo que o Santos venceu de virada. E acho que isso tem um motivo que fica nítido a cada partida: o time é ruim. É simples assim. São pouquíssimas as alternativas, especialmente para um treinador que acabou de chegar e ainda está conhecendo o elenco. Com o placar adverso de 1 a 0, o treinador olha para seu banco e pensa: “o quê fazer?”

Santos
Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC / Fotos Públicas

Praticamente nenhum jogador que estava no banco no último jogo poderia trazer algo diferente para o time. Talvez o melhor nome fosse Gabriel Pirani, que na verdade deveria ser titular, mas não o é justamente pela falta de alternativas que o elenco oferece. O Santos tem cobertor curto: quando se tenta cobrir os braços, os pés passam frio.

O caso de Pirani é bem claro: excelente jogador do meio para frente e que pode aliviar a sobrecarga de Sánchez na armação da equipe; mas sua recomposição é ruim, de modo que o próprio Sánchez, com seus 36 anos e um joelho lesionado, fica sobrecarregado na marcação. A opção de Carille hoje foi Jean Mota. Ele até recompõe ligeiramente melhor, permite dar uma liberdade maior para o capitão santista e auxilia mais o Camacho na marcação. Mas é completamente inoperante do meio para frente. Quase não tenta uma jogada mais incisiva e quando tenta pedimos para que não tente nunca mais, já que é incapaz de acertar um passe para frente de mais de 2 metros – isso sem considerar as decisões totalmente equivocadas, como finalizações de quase o meio de campo e lançamentos longos para a placa de publicidade.

Nas laterais? Bem, de um lado Pará, que não passa do meio de campo, não defende bem, mas que, por conta da lesão de Madson, é a única opção que existe no time. Do outro lado, Felipe Jonatan falha na defesa absolutamente todo jogo e no ataque vai de mal a pior. Contudo, seu reserva, o Moraes, até se entrega um pouco mais, mas não agrega.

Alternativas no ataque? Não muitas. Além de Léo Baptistão, os outros centroavantes do elenco não oferecem grandes movimentações (e em um time que não consegue criar, um centroavante que participe menos de jogo simplesmente vai sumir). Com a escolha de três zagueiros, de fato o time parece ser defensivamente mais sólido (tanto que, depois de mudar o esquema para um 4-3-3 contra o Juventude, saíram os dois gols que selaram a vitória gaúcha), mas é preciso sacrificar outro nome de frente. Não que Lucas Braga e Marcos Guilherme viessem em uma grande fase ou que pudessem agregar muito entrando na partida, mas o lado esquerdo pareceu menos útil contra o Juventude tendo apenas Felipe Jonatan como opção ofensiva – poderia ter colocado o Ângelo, né, mas coitado, não pode ser queimado com 16 anos por causa de um time ruim desses.

O trabalho de Carille vai ser muito duro. Pensar em alternativas em um elenco tão limitado não vai ser nem um pouco fácil. E pior do que tentar pensar em alternativas para o time titular, vai ser pensar em alternativas ao longo dos jogos. O futuro do Santos não é nada promissor.

Santos
Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / SantosFC / Fotos Públicas

O time pode entrar no Z4 ainda nesta rodada e a Série B vai se aproximando cada vez mais. Faltam ainda 21 pontos para a famosa marca de 45 e claramente vai ser muito difícil de isso acontecer. O que resta ao santista é ter alguma esperança, talvez de que os outros times ruins conseguirão ser piores que o Santos, como aconteceu outras vezes. Ou que um milagre aconteça e esse time desande a vencer jogos (a primeira opção me parece ser a mais plausível). Infelizmente, no momento, a tendência é o Peixe ser rebaixado pela primeira vez na sua história – e é preciso deixar isso bem claro.

O Santos já teve times muito ruins, mas parecia que alguma coisa mágica evitava o pior. O grande exemplo foi a equipe de 2008, que realmente quase foi rebaixada. Na 35ª rodada do Brasileirão, o Peixe venceu o Internacional na Vila por 1 a 0, com um gol tenebroso de Quiñónez, em uma finalização que claramente ia para a lateral, mas que explodiu no defensor colorado e acabou matando de vez o goleiro da equipe gaúcha. O time de 2021 é tão ruim quanto (talvez pior, ou com uma concorrência contra o rebaixamento um pouco mais forte do que o de 2008) e a única pergunta que resta fazer é: teremos um novo Michael Jackson Quiñónez? Eu espero que sim.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Pedro Zan

Quase formado em Filosofia na Unicamp, mas bom mesmo é falar de futebol. Santista desde sempre, também tenho um podcast, "Os Acréscimos", e sou um dos administradores da página "Antigas Fotos do Futebol Brasileiro".

Como citar

ZAN, Pedro. Santos 2021: um cobertor curto. Ludopédio, São Paulo, v. 148, n. 2, 2021.
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