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As seleções proibidas da Espanha: País Basco

Victor de Leonardo Figols 11 de junho de 2018

No segundo texto da série As seleções proibidas da Espanha, contaremos a história da Seleção Basca de Futebol, a Euskal Selekzioa.

Em 1915, a federação que organizava o futebol das regiões de Bizkaia, Gipuzkoa, Araba, Navarra, Catabria e Logroño, organizou a Selección del Norte, um conjunto de jogadores bascos que enfrentaria a Seleção da Catalunha em um amistoso. Mesmo sendo uma seleção estreante, a Selección del Norte venceu a Catalunha por 6 a 1, no Estádio de San Mamés, em Bilbao.

A Seleção da Catalunha, que naquela época já possuía certa experiência em jogos internacionais, marcou um novo amistoso que foi realizado em Barcelona, a ideia era fazer uma revanche, para apagar o placar vergonhoso que sofrera diante de uma seleção estreante. Todavia, o jogo terminou empatado em 2 a 2.

Ainda em 1915, a Selección del Norte, que devido à presença massiva de jogadores basco passou a ser conhecida como Seleção de Vizcaya ou do País Basco, participou da Copa de Regiones Príncipe de Asturias. O torneio de seleções regionais reuniu, entre outras seleções do território espanhol, as Seleção da Catalunha, do País Basco e de Madrid (Selección del Centro). Com um empate e uma vitória, os bascos conquistaram, com menos de seis meses de existência, o seu primeiro título como uma Seleção.

O título de 1915, serviu para a consolidação de uma rivalidade entre basco e catalães, entre a Euskal Selekzioa e La selecció. É bem verdade que, na virada do século XIX e a primeira década do século XX, as regiões onde o futebol estava mais consolidado, se desenvolvendo e ganhando popularidade, eram justamente o País Basco e a Catalunha. Deste modo, a rivalidade entre as duas regiões, se deu de forma natural e esperada.

Ikurriña - A bandeira oficial do País Basco
Ikurriña – A bandeira oficial do País Basco.

Com o apelido de seleção invicta, os bascos buscaram medir suas forças com os catalães, em uma série de amistosos organizados para o ano de 1916. Em Barcelona, vitória por 3 a 1 para Euskal Selekzioa, em Bilbao, empate sem gols, e um terceiro jogo com uma goleada por 5 a 0. Naquelas primeiras décadas do século XX, o futebol euskadi era, sem sombra de dúvidas, um dos melhores praticados em território nacional espanhol, tanto que foi a base da Seleção Espanhol que conquistou a prata nos Jogos Olímpicos da Antuérpia, na Bélgica.

É preciso fazer algumas ressalvas quanto a conquista da medalha da Espanha nas Olimpíadas. A Seleção Espanhola só foi criada em 1920, especificamente para aquela edição dos Jogos Olímpicos, e a base daquele time era composta por treze bascos, quatro catalães e quatro galegos. E o técnico era o madrilenho Paco Bru, um ex-jogador e torcedor do FC Barcelona, que também serviu a Seleção da Catalunha. A equipe foi apelidada de galeusca (galega, euskadi e catalã) pela imprensa, mas a formação titular era composta majoritariamente por basco, e o capitão da equipe era José María Belausteguigoitia (Belauste), um nacionalista basco.

O capitão daquela equipe que representava pela primeira vez a camisa da Espanha em um torneio, era reconhecido por ser um jogador impetuoso, com grande força física e com um toque refinado na bola. Junto com outros titulares daquela seleção, Belauste era jogador do Athletic Club (Athletic de Bilbao), uma equipe que naqueles anos 1920 ficou conhecida pelo jogo duro e firme. Essa virilidade dentro de campo seria associada a um estilo basco do jogar futebol, e seria a antítese do futebol que os catalães praticavam, que era denominado pela imprensa de estilo florido de jogar futebol. O Athletic de Belauste criou o mito da Furia Vasca, que graças a conquista da medalha de prata nas Olimpíadas, se transferiu para a Seleção da Espanha, criando a alcunha de Furia Española.

Sobre a ideia de Furia Española é preciso destacar ainda que, o espanhol era visto no continente europeu, como sendo alguém extremamente explosivo, impetuosos, bruto, bárbaro e selvagem. Essa construção sobre a imagem do espanhol fazia parte do discurso nacionalista dos Países Baixo, que remontava a 1576, no acontecimento histórico que ficou conhecido como Saque de Antuérpia, quando soldados de Felipe II provocaram um motim em Flandres contra os baixos soldos recebidos. A consequência do motim foi milhares de mortos, o termo “fúria” para se referir aos atos dos espanhóis no evento.

Dito isso, a imprensa holandesa (país que perdera para a Espanha a medalha de prata naquelas Olimpíadas) e belga usaram o termo “fúria” para se referir não só ao jogo bruto e viril dos espanhóis (basco), mas também fazendo referência a própria narrativa histórica da construção nacional daqueles países. Por outro lado, a imprensa espanhola, sobretudo na figura do jornalista esportivo Manolo de Castro, o termo “fúria” foi empregado de maneira positiva, associando a valores como coragem, força e patriotismo. Assim, o termo passou a ser difundido na imprensa espanhola de maneira positiva, todavia, como vimos, a origem da Furia Española diz muito mais sobre o futebol praticado no País Basco do que sobre a própria Seleção Espanhola.

Feito esse breve parêntese explicativo, voltemos a história da Euskal Selekzioa. O papel desempenhado pelos jogadores bascos nas Olimpíadas deu certa projeção internacional, principalmente nos países com presença de imigrantes bascos, como era o caso da Argentina e Uruguai. Esses compatriotas clamavam por um tour da Seleção do País Bascos na América do Sul.

Em 1922, a então Selección del Norte, se desfez e formou-se, uma seleção apenas de jogadores do País Basco. Com um elenco formado apenas por jogadores do Athletic Club de Bilbao e da Real Sociedad, Euskal Selekzioa embarcou rumo a Argentina para o tão esperado tour na América do Sul. O primeiro jogo foi contra a Argentina, com o placar de 4 a 0 para os anfitriões, ainda teve mais alguns jogos contra clubes argentinos antes de ir para Montevidéu, encara a Seleção do Uruguai. Em dois jogos no Uruguai, a Seleção Basca tomou sete gols, e marcou apenas um. A Euskal Selekzioa também passou pelo Brasil, mais especificamente por São Paulo e Rio de Janeiro. Ao final do tour, o saldo não era muito positivo: cinco derrotas, um empate e duas vitórias. E como podemos ver no recorte do jornal da época, economicamente o tour também foi um fiasco.

ABC (Madrid) - 06/10/1922, p. 22. (Hemeroteca digital: hemeroteca.abc.es)
ABC (Madrid) – 06/10/1922, p. 22. (Hemeroteca digital: hemeroteca.abc.es)

Nos anos 1930, a Seleção Basca adotou o nome de Vasconia, e voltou a medir forças com a Seleção da Catalunha. E relação entre as duas seleções se estreitou graças a figura como Manuel de la Sota Aburto e de Jusep Sunyol. Enquanto Aburto era membro do PNV (Partido Nacionalista Vasco) ex-presidente do Athletic Club, Sunyol era o então presidente da Federació Catalana de Futbol e membro do partido Esquerra Republicana de Catalunya. Foi na década de 1930 que a Seleção do País Basco começou a ganhar maior simbologia política. Nesses encontros promovidos por Aburto e Sunyol, a Euskal Selekzioai venceu por 1 a 0, em Barcelona, e por 3 a 2, em Bilbao.

Com o início da Guerra Civil Espanhol (1936-1939), as atividades futebolísticas foram praticamente extintas. Todavia, o Athletic Club retomou as suas atividades em 1937, com o claro objetivo de usar o futebol à serviço da causa basca. O ex-jogador, e agora presidente do País Basco, José Antonio Aguirre, ajudou a organizar uma expedição da Euskal Selekzioa para arrecadar fundos para custear a guerra civil, e levar a causa basca ao conhecimento de outros países. Em meio à guerra, Aguirre participou da organização de alguns confrontos domésticos, primeiro contra os partidos políticos Acción Nacionalista Basca e o PNV, depois entre um combinado de Bizkaia contra de Gipuzkoa. O objetivo era chamar a atenção do público para o esforço de formar uma seleção que iria fazer uma excursão, mais também escolher os melhores jogadores bascos para representar o País Basco no exterior. Ao final, foram reunidos dezoito jogadores, todos com passagem pela seleção espanhola.

Em abril de 1937, desembarcava em Paris uma seleção euskadi, preparada apenas para fazer alguns jogos e retornar a Espanha. Todavia, a empreitada basca não seguiu como o planejado, e a excursão durou muito mais do que o previsto. Depois de enfrentar o Racing de París, o Olympique de Marseille e o FC Sète, a Euskal Selekzioa estendeu a viagem para Praga, para enfrentar a Seleção da Tchecoslováquia (derrota por 3 a 2). Depois foram para a Polônia, com dois amistosos marcados, o primeiro ocorreu contra o FC Kattowitz, o segundo foi impedido de ser realizado pois a igreja católica polonesa, que tinha grande simpatia pelo general Francisco Franco, via na seleção euskadi um bando de comunistas usando o futebol como pretexto. Curiosamente, a maioria dos jogadores era católica, e alguns nacionalistas bascos.

Com o cancelamento do jogo na Polônia, a Euskal Selekzioa viajou para a URSS, onde excursionaram por dois meses, durante o verão. A viagem pela União Soviética passou pela Ucrânia, Geórgia e Bielorrússia, enfrentando clube como o Dynamo Moscow (então campeão nacional daquele ano) e Spartak Moscow. De Leningrado, a seleção basca seguiu rumo a Noruega e Dinamarca, antes de regressar em Paris. Em território francês, dois jogadores do Athletic de Bilbao decidiram abandonar a excursão, que agora rumava para o continente americano.

A proposta de ir América, segundo Aguirre, era clara levar ao conhecimento do mundo da situação basca, e da Espanha, assim como levantar fundos para o tratamento de feridos durante a guerra. A empreitada organizada por Aguirre, e levada adiante pelos jogadores era vista pelos franquistas com muito incômodo, mas mesmo assim, a Euskal Selekzioa cruzou o Atlântico. A primeira parada foi em Havana, Cuba, de lá seguiram para uma grande excursão no México. Em território mexicano, foram dez jogos, sendo sete vitórias, duas derrotas e um empate. O sucesso basco em solo mexicano rendeu um convite para fazer uma sequência de jogos em Cuba, onde a seleção euskadi saiu invicta.

Passado a etapa cubana, o selecionado basco seguiu rumo a Argentina, com a ideia de apagar o fisco das apresentações dos anos 1920. Chegando em Buenos Aires, a Euskal Selekzioa foi impedida de realizar qualquer jogo dentro do país, uma resposta do fascismo espanhol e a autoridade do futebol mundial (a FIFA) de evitar que a seleção basca fizesse propaganda da causa basca ou denunciasse o estado de exceção na Espanha. A FIFA, que não reconhece a legitimidade da Euskal Selekzioa, proibiu as suas atividades futebolísticas, assim como a circulação de seus jogadores. Durante dois meses, os jogadores bascos foram obrigados a ficar nos arredores de Buenos Aires, pois foram impedidos de regressar à Europa. Em meio ao impasse, o técnico Pedro Vallana decidiu abandonar o selecionado, mesmo impedidos pela FIFA, os jogadores sofriam o assédio de clubes sul-americanos e europeus para assinarem contratos.

Os jogadores conseguem regressar para Cuba, e na ilha decidem continuar com a excussão da Euskal Selekzioa. Depois de três meses, os jogadores bascos entram em campo em para disputar dois amistosos, um contra a Seleção Cubana, e outro contra um combinado de jogadores de Havana. Em agosto de 1938, a seleção euskadi regressou ao México, a ideia de Aguirre era fazer com que a seleção chegasse nos EUA e no Canadá, todavia, a Euskal Selekzioa decide ficar em solo mexicano.

Com um pedido feito junto a Federación Mexicana de Fútbol, a seleção basca entrou na primeira divisão da Liga Mexicana, como Club Deportivo Euzkadi. Durante a temporada 1938-1939, a seleção basca, jogando como CD Euzkadi disputou o campeonato mexicano, fazendo uma campanha quase perfeita, que rendeu o título de vice-campeão da Liga. Terminada a aventura mexicana, os bascos ainda mediram forças com um time paraguaio, antes de voltarem para o País Basco.

Torcida do CD Euskadi (Foto retirada da tese El Equipo de Fútbol Euzkadi en México - 1937-1939, p. 136.)
Torcida do CD Euskadi (Foto retirada de El Equipo de Fútbol Euzkadi en México – 1937-1939, p. 136.)

Com o fim da Guerra, a seleção euskadi regressou à Espanha, todavia, a equipe foi completamente desfeita. Diversos jogadores assinaram com clubes mexicanos, argentinos, outro preferiram ficar na França, e o capitão Luis Regueiro decidiu abandonar o futebol.

A ditadura de Francisco Franco foi dura, proibiu qualquer manifestação regionalista, o que significou a extinção da Euskal Selekzioa, assim como de outros símbolos nacionais, como a ikurriña (bandeira do País Basco). Durante a ditadura franquista (de (1939 a 1975), a seleção euskadi só se reuniu em dois momentos. Em 1966, para celebrar os 50 anos do clube basco Real Unión Club de Irún, foi feito um combinado de jogadores bascos para enfrentar o Real Madrid. E em 1971, em um amisto entre Seleção do País Basco contra Seleção da Catalunha. Nos dois encontros os bascos perderam por 2 a 0, e 2 a 1, respectivamente.

O ressurgimento veio em 1978, em um momento da transição política, os bascos receberam a Seleção da URSS no San Mamés, em um jogo que contou com diversos políticos bascos, e 25 mil torcedores. Um ano depois, a Euskal Selekzioa voltaria a se reunir, desta vez contra a Irlanda, todavia o evento foi marcado pela proibição do hino basco antes do início da partida. A proibição fez com que o então presidente do Consejo General Vasco, Carlos Garaikoetxea, assim como outros políticos, dentre eles deputados e prefeitos, abandonassem as tribunas. O evento ainda foi marcado por uma grande manifestação do nacionalismo basco, em favor do reconhecimento da região. Das arquibancadas se ouvia o grito de “Independentzia!” (“Independência!”), e se via diversas ikurriñas. Por fim, ainda teve uma grande homenagem aos jogadores que participaram da excussão de 1937. O placar final foi 4 a 1 para os bascos, e mais do que isso, reascendeu o sentimento nacionalista bascos e despertou o interesse dos bascos pela seleção nacional.

Em 1979, a seleção euskadi convidou a Bulgária para um amistoso no País Basco. O encontro foi marcado pela tentativa do governo espanhol de proibir que a seleção búlgara jogasse na Espanha. O Ministerio de Asuntos Exteriores e a Federación Española buscaram mecanismos legais para proibir a entrada dos búlgaros, mas sem efeito a Seleção da Bulgária conseguiu entrar no país, e disputar o amistoso. Durante os 90 minutos, houve manifestações em favor do País Basco e do grupo Euskadi Ta Askatasuna (ETA – Pátria Basca e Liberdade), e de repúdio a Seleção da Espanha. O placar do jogo foi uma vitória euskadi pro 4 a 0.

Com o sentimento nacionalista basco renovando e os resultado esportivos expressivos, a imprensa basca começou a valorizar ainda mais a capacidade da Euskal Selekzio, acreditando que ela teria melhores chances que a própria Espanha no Mundial de 1982. Todavia, a euforia daria lugar a decepção, quando, em 1980, a Seleção do País Basco enfrentou a Hungria e foi derrotada por 5 a 1.

A seleção euskadi entrou em um hiato de oito anos, regressando aos gramados, em 1988, para enfrentar o clube inglês Tottenham Hotspur. Os bascos venceram por 4 a 0. Depois desse encontro, a atividade da seleção foi irregular, até 1993, quando foi estabelecido uma data fixa para as seleções das Comunidades Autônomas pudessem realizar os seus jogos.

De 1988 a 2007, a Euskal Selekzio disputou 20 jogos, tendo sofrido apenas três derrotas. Entre os adversários seleções como: Romênia, Bolívia, Rússia, Paraguai, Estônia, Iugoslávia, Uruguai, Nigéria, Marrocos, Gana, Macedônia, Uruguai, Bulgária, Camarões, País de Gales, Sérvia, Venezuela e Catalunha.

A partir de 2007 duas questões que envolve a Seleção do País Basco são discutidas entre jogadores, dirigentes esportivos e até mesmo políticos bascos. A primeira delas diz respeito a oficialidade da seleção, isto é, o seu reconhecimento junto a FIFA. Essa questão fez com que mais de trinta jogadores bascos, das três divisões do futebol espanhol, redigissem uma carta para a FIFA, na qual reivindicava o reconhecimento da seleção nacional, passando assim a ser membro da organização, e, portanto, tendo direito de participar das competições organizadas pela FIFA. Além disso, esses jogadores protestavam contra a Federación Vasca de Fútbol pela de interesse em buscar um reconhecimento o quanto antes. O pedido foi negado, e até hoje a FIFA não reconhece a Seleção do País Basco.

A segunda questão diz respeito a própria concepção de País Basco, em termos territoriais. Durante toda a sua história, a Euskal Selekzio permitiu que jogadores nascidos no território basco e em Navarra poderiam vestir a camisa da seleção, todavia, a Federación Vasca propôs mudar de nome, de Seleção Euskadi para Seleção Euskal Herria. O nome Euskadi refere-se ao nome histórico usado pela seleção basca, desde a década de 1930, e geograficamente, faz referência ao País Basco e a Navarra. Por outro lado, o termo Euskal Herria faz referência apenas ao País Basco espanhol. A proposta da Federação excluía diversos jogadores nascidos em Navarra.

País Basco x Catalunha - Entrada dos jogadores bascos em campo com a faixa: "Uma nação, uma seleção". 29 de dezembro de 2007
País Basco x Catalunha – Entrada dos jogadores bascos em campo com a faixa: “Uma nação, uma seleção”. 29 de dezembro de 2007.

Em 2007, a então Seleção Euskal Herria enfrentou a Catalunha, empatando em apenas um gol. Essa foi a primeira tentativa de se formar uma seleção apenas com jogadores nascidos no País Basco. Entretanto, jogadores e até mesmo políticos basco questionaram duramente a proposta da Federación Vasca. Alguns jogadores se recusaram a jogar por essa nova seleção e pediram para que seleção respeitasse a história da seleção euskadi, e que voltasse a ser como era antes.

Em 2009, finalmente jogadores, políticos e Federação chegaram ao consenso, e passaram a usar o nome Euskal Selekzioa. Entretanto, toda essa querela afetou as atividades da seleção. A seleção euskadi só voltaria aos gramados no final de 2010, quando enfrentou a Venezuela (e venceu por 3 a 1).

De 2011 até 2016 a Seleção do País Basco voltar as suas atividades normais, realizando pele menos um jogo anual. No período enfrentou seleções como: Estônia Tunísia, Bolívia, Peru, além da Catalunha em um jogo que comemorou os 100 anos da primeira partida realizada entre as duas seleções. Em 2017, a Federación Vasca anunciou que não realizaria o jogo anual, e prometeu organizar um jogo internacional dentro do calendário internacional de jogos da FIFA. O objetivo era buscar maior reconhecimento, entretanto, o jogo ainda não foi marcado.

A história da Euskal Selekzio também é um pouco da história do País Basco, isso é, se no campo político há uma luta constante pelo reconhecimento do País Basco enquanto uma nação independente, no terreno futebolístico há a luta pelo reconhecimento enquanto uma seleção oficial. Em ambos os casos, os bascos esbaram no governo espanhol, que limitam sua autonomia política, e impedem que a FIFA reconheça a seleção euskadi. Várias organizações esportivas bascas, assim como o próprio governo basco, tentam o reconhecimento da Seleção do País Basco.

Enquanto isso, nas arquibancadas, os torcedores renovam constantemente o seu vínculo nacional, seja gritando por independência, seja com balançando as suas ikurriñas. Hoje, a relação dos bascos com a sua seleção é muito próxima e estreita, poia enxergam que o reconhecimento nos gramados, também significaria um reconhecimento político.


Referência:
Essa série foi inspirada e baseada no livro: GÓMEZ, Daniel. La Patria del Gol – Fútbol y Política en el Estado Español. Irun: Editorial Alberdania-Astiro, 2007.

SOTO, Alejandro Quiroga Fernández. Goles y bandera – Fútbol e identidades nacionales en España. Madrid: Marcial Pons Historia, 20014.

PERUSQUÍA, Gerson Alfredo Zamora. El Equipo de Fútbol Euzkadi en México – 1937-1939. Tese para obtenção do título de Licenciado em História. Faculdade de Estudos Superiores Acatlan, Universidad Nacional Autonoma de Mexico. México, 2010, f. 269.

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Victor de Leonardo Figols

Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) (2022). É Mestre em História (2016) pela Universidade Federal de São Paulo - Escola de Filosofia Letras e Ciências Humanas (EFLCH) - UNIFESP Campus Guarulhos. Possui Licenciatura (2014) e Bacharel em História (2013) pela mesma instituição. Estudou as dimensões sociais e políticas do FC Barcelona durante a ditadura de Francisco Franco na Espanha. No mestrado estudou o processo de globalização do futebol espanhol nos anos 1990 e as particularidades regionais presentes no FC Barcelona. No doutorado estudou a globalização do futebol espanhol entre os anos 1970 a 2000. A pesquisa de doutorado foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Trabalha com temas de História Contemporânea, com foco nas questões nacionais e na globalização, tendo o futebol como elemento central em seus estudos. É membro do Grupo de Estudos sobre Futebol dos Estudantes da Unifesp (GEFE). Escreve a coluna O Campo no site História da Ditadura (www.historiadaditadura.com.br). E também é editor e colunista do Ludopédio.

Como citar

FIGOLS, Victor de Leonardo. As seleções proibidas da Espanha: País Basco. Ludopédio, São Paulo, v. 108, n. 11, 2018.
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