– Próximo!
– Bom dia, doutor Gilson.
– Bom dia. Você é o?
– Marco.
– Marco… Me conta, qual seu problema?
– Doutor, tô me sentindo muito mal já de um tempo. Não consigo dormir direito, uns calafrios estranhos, uma dor de cabeça…
– Certo. E desde quando isso acontece?
– Tem duas ou três semanas.
– Todos os dias?
– Não. Piora domingo de tarde e quarta à noite.
– Me fala mais desses sintomas.
– Chega esses horários e eu olho o controle, já dá enjoo. Mudo de canal e vem a tontura. Vou zapeando e a dor de cabeça só aumenta. Será que vou morrer?
– Não, não. Pelo menos por agora, não. Gosta de futebol?
– Muito, doutor, muito.
– Certo. E como fica quando seu time perde?
– Ah, cê sabe, doutor. Triste, sem falar com ninguém.
– Entendi. E quando ganha?
– Ah, eu comemoro, né?
– Certo. Tem canal de jogos na sua TV?
– Claro, doutor, claro!
– Qual?
– Ah, todos. Campeonatos europeus, nacionais, sulamericanos. Posso ver tudo, doutor.
– Certo, deixa eu fazer a receita.
– É grave?
– Não muito, em algumas semanas passa.
– Que bom, doutor, eu já não sei mais o que fazer. Minha esposa tá preocupada também.
– Tá aqui, é simples. Isso é síndrome dos domingos vazios, é normal em fim de temporada. As reações são as mesmas de um viciado em abstinência.
– Meu Deus!
– Se afasta da televisão domingo de tarde e quarta à noite. Corre no parque, olha a rua, que seja. Se não adiantar, dá uma olhada nesses canais da internet que anotei, só jogos antigos. Daí relembra os melhores momentos desses títulos aqui.
– E como cê sabe meu time, doutor?
– Olha sua camisa.
– Pôxa, é mesmo! Nem reparei.
– Normal. Nesses casos, o futebol sempre fica no inconsciente. Mas relaxa, isso passa. Mal existe pré-temporada por aqui mesmo. Logo logo seus domingos e quartas ficam cheios.
– Graças a Deus, doutor, graças a Deus.
– Ou aos cartolas. Talvez os estaduais não vão dar conta e vai sentir esse mesmo vazio, mas não se preocupa, não. Essa época vai passar. Ah! Evita acompanhar esses noticiários, especulações. Não quero receitar remédios,hein?
– Obrigado, doutor, muito obrigado. Vou seguir as recomendações.
– Eu também já passei por isso e só melhorei depois que meu time foi rebaixado.
– Nossa, mas foi difícil?
– Foi um pouco, mas com o apoio da família e um bom tratamento a gente supera.
– Obrigado, doutor, obrigado.
– Disponha. Próximo!