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Como o sorteio dos grupos da Copa ajuda quem não joga amistoso

Rafael Iandoli 11 de dezembro de 2017

A Copa do Mundo da Rússia de 2018 já tem seus grupos para a primeira fase definidos. O sorteio, realizado na capital, Moscou, na sexta-feira (1/12), colocou o Brasil na mesma chave das seleções de Suíça, Costa Rica e Sérvia. São 32 equipes que disputam o torneio que acontece a cada quatro anos, mas as possibilidades de enfrentamento na primeira fase são limitadas. As seleções são distribuídas em quatro potes diferentes, e cada membro do grupo sai de um deles. O principal pote é o das equipes cabeças de chave. Essas são, teoricamente, as sete equipes mais fortes do torneio, além do país-sede, no caso, a Rússia.

Sorteio dos grupos da Copa do Mundo de 2018. Putin  com o presidente da FIFA, Gianni Infantino. Foto: RIA Novosti
Sorteio dos grupos da Copa do Mundo de 2018. Putin com o presidente da FIFA, Gianni Infantino. Foto: RIA Novosti.

Os critérios para colocar os times nos potes são definidos pela Fifa (entidade máxima do futebol mundial), de acordo com o seu ranking mundial: são as sete primeiras entre as seleções classificadas mais o país sede. Em 2017, todas as sete primeiras colocadas na tabela da Fifa vão para o campeonato mundial. Os países passam, antes, por um torneio classificatório em seus continentes para ganhar o direito de jogar a Copa do Mundo. A Itália, por exemplo, 13ª no ranking, não está entre as 32 classificadas.

Ranking da Fifa usado no sorteio

  1. Alemanha
  2. Brasil
  3. Portugal
  4. Argentina
  5. Bélgica
  6. Polônia
  7. França

A vantagem de ser um cabeça de chave, tanto na Copa do Mundo quanto em qualquer outro torneio esportivo, em teoria, é a possibilidade de enfrentar equipes mais fracas, aumentando as chances de classificação. Esse critério evita, por exemplo, que o Brasil pegue a Argentina ou a Alemanha já na primeira fase da competição. Desde 1998, quando o torneio passou a ter o formato de oito grupos na primeira fase, pelo menos seis dos oito cabeças de chave se classificaram para a segunda fase, que passa a ser eliminatória (perdeu, está fora).

Caminho mais fácilcopa

Daí a importância, para as federações nacionais, de saber como funciona o ranking da Fifa. Conseguir encontrar formas de subir na lista com mais velocidade, ou se manter no topo por mais tempo até a definição dos cabeças de chave da Copa, pode ajudar a chegar às eliminatórias do torneio.

O caso polonês

Foi exatamente isso que a Polônia fez. A seleção que tem no artilheiro e centroavante Robert Lewandowski a esperança de gols ficou entre novembro de 2016 e novembro de 2017 sem jogar partidas amistosas. Mesmo sabendo que iria para a Copa do Mundo na Rússia, por ter garantido bons resultados nas eliminatórias europeias (2016-2017), os poloneses escolheram folgar nas “datas Fifa” — dias no calendário do futebol mundial reservado para jogos de seleções, sejam em campeonatos oficiais ou em partidas amistosas. Isso para controlar a boa posição que tinha alcançado no ranking. Não jogar amistosos assegurou que o país não diminuísse sua média de pontos no ranking, que conquistou jogando as eliminatórias (foram oito vitórias em dez jogos).

E assim a seleção comandada pelo treinador Adam Nawałka conseguiu se manter em sétima no ranking da Fifa, garantindo uma das cabeças de chave no sorteio para a Copa da Rússia. Apenas dois anos antes, em 2015, a Polônia foi disputar a Eurocopa — torneio de seleções europeu —, sendo colocada no pote 3 do sorteio por ser a 30ª no ranking. A última vez em que o país havia sido cabeça de chave de uma Copa do Mundo foi em 1986, no México.

Por que ganhar amistoso é pior que não jogar?

Sorteio dos Grupos  para a Copa do Mundo de 2018 na Rússia.  Konstantin Rybin © Organização pública russa "Russian Football Union", 2017
Maradona e Cafu participam do sorteio dos Grupos da Copa da Russia 2018. Foto: Konstantin Rybin © Organização pública russa “Russian Football Union”, 2017.

A pontuação no ranking da Fifa é calculada de acordo com todas as partidas oficiais jogadas por uma seleção nos últimos quatro anos — sejam amistosos ou jogos de Copa do Mundo. Cada uma dessas partidas vale um determinado número de pontos, definido por cálculos da própria Fifa. Para definir quantos pontos uma seleção vai somar por jogo, a Fifa utiliza fatores e pesos numa matemática intrincada que, em resumo, multiplica quatro fatores:

  • O resultado do jogo (vitória, empate ou derrota)
  • A dificuldade da seleção adversária (baseada na sua posição do ranking)
  • A origem da seleção (continentes também são avaliados entre mais fortes e mais fracos)
  • O tipo de jogo (se é Copa do Mundo, Copa continental, eliminatórias ou amistoso)

Multiplicando todos esses fatores, o resultado é o valor do jogo. Para ter a pontuação final do ranking, é calculada uma média ponderada anual, que leva em conta todas as partidas jogadas por uma seleção. A Polônia fez as contas e percebeu que, se jogasse amistosos, diminuiria sua média de pontos em 2017, já que esse tipo de partida é a que vale menos pontos. O país vinha jogando bem e vencendo vários jogos nas eliminatórias, cujo fator de multiplicação é alto. Por isso, todos os jogos da Polônia no ano de 2017 valeram muitos pontos.

Se jogasse amistosos, as partidas valeriam menos por ter fator de multiplicação baixo, o que diminuiria a média de pontos do ano. Por exemplo, o primeiro amistoso que os poloneses disputaram em 2017 foi contra o Uruguai, no dia 10 de novembro — a essa altura, a Fifa já havia definido os cabeças de chave para a Copa do Mundo, e a Polônia não precisava mais se preocupar com o ranking. A partida terminou em empate, que valeu 182,08 pontos aos poloneses. O valor é bem menor do que a média da Polônia no ano: 639,96. Ou seja, se tivesse jogado vários amistosos em 2017, a média de pontos da Polônia no ano fatalmente seria menor, mesmo que ganhasse todos os jogos. 19 pontos foi a diferença entre Polônia e Suíça no ranking da Fifa antes do sorteio da Copa, mantendo os poloneses em 7º lugar no ranking, o último entre os cabeças de chave Se diminuísse a média de pontos de 2017 um pouco mais, a Polônia poderia ser ultrapassada pela Suíça e perderia sua vaga como cabeça de chave. Não disputar partidas de futebol, neste caso, fez a Polônia ser uma das sete melhores seleções do mundo.

Os grupos da Copa de 2018

Kremlin - Sorteio para a Copa do Mundo de 2018 na Rússia. Mikhail Shapaev © Organização pública russa "União do futebol russo", 2017
Kremlin – Sorteio para a Copa do Mundo de 2018 na Rússia. Foto: Mikhail Shapaev © Organização pública russa “União do futebol russo”, 2017.

GRUPO A Rússia, Arábia Saudita, Egito e Uruguai

GRUPO B Portugal, Espanha, Marrocos e Irã

GRUPO C França, Austrália, Peru e Dinamarca

GRUPO D Argentina, Islândia, Croácia e Nigéria

GRUPO E Brasil, Suíça, Costa Rica e Sérvia

GRUPO F Alemanha, México, Suécia e Coreia do Sul

GRUPO G Bélgica, Panamá, Tunísia e Inglaterra

GRUPO H Polônia, Senegal, Colômbia e Japão

NOTA DE ESCLARECIMENTO: A fim de deixar mais precisa a leitura, listamos o ranking da Fifa usado para a ocasião do sorteio, e não o atual ranking.

nexo_jornal_logoEste texto é uma republicação de artigo publicado no site Nexo Jornal.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Rafael Iandoli

Formado em Relações Internacionais, virou jornalista e escreve sobre contemporaneidades no Nexo Jornal, com especial atenção ao esporte e suas dimensões extracampo.

Como citar

IANDOLI, Rafael. Como o sorteio dos grupos da Copa ajuda quem não joga amistoso. Ludopédio, São Paulo, v. 102, n. 11, 2017.
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