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Super Bowl LVI e o futebol americano, explicado por quem não conhece

Clayton Denis Alino da Silva 11 de fevereiro de 2022

Neste domingo (13), acontece o “SUPER BOWL LVI”, ou, em português, a grande tigela número 56. Mas se você, como eu, não entende muito das regras e da importância deste evento, ouso tentar explicar-te de leigo para leigo.

O Super Bowl é a final da NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos e que coroa como campeã a equipe vencedora da partida entre os campeões das duas conferências nacionais, que neste ano são: os Cincinnati Bengals (que estarão uniformizados de camisa preta com detalhes em laranja) e os Los Angeles Rams (que vestirão branco e azul), e como não há outro campeonato nos Estados Unidos, o Super Bowl decide o vencedor do ano no esporte.

O meu objetivo é fazer você entender algo caso ligue a televisão e ela sintonize, sem querer, o canal da partida. Você provavelmente não entenderá nada se não for uma acompanhante deste esporte, mas não se preocupe, não é sua culpa. Estamos falando de um esporte que se denomina futebol, que do nome em inglês seria a junção das palavras “bola” e “pé”, mas que homônimo americano, se utilizam das mãos para jogar uma espécie de bola oval.

O fato é que nem os fãs do esporte entendem muito bem o que acontece em algumas tentativas de pontuação, mas contam com o esforço da televisão que cria linhas e marcações digitais que facilitam o entendimento, além de sempre ser explicado pelos comentaristas e narradores das partidas, principalmente nas transmissões brasileiras, então, estamos, até aqui, sem problemas.

Futebol americano
Fonte: Wikipédia

Um fuzuê de trombadas entre atacantes e defensores enormes, uma cara que entra só para chutar a bola, receptores velozes, o quarterback lançador (que seria como nosso meio campo clássico, camisa 10, que decide a jogada) é o que faz do futebol americano um campo de xadrez tático, explosivo e rápido em que cada posição exige características físicas e de técnicas diferenciadas.

O jogo acontece em 60 minutos divididos em quatro tempos de quinze, onde o tempo para diversas vezes quando a bola sai de disputa; com intervalo para descanso na sua metade, e a equipe que ao fim do tempo tiver mais pontos vence a partida.

E pra que tem todas aquelas linhas no campo? O jogo acontece em um campo retangular de 109 x 49 metros, onde 91 metros dividem as endzones (zonas finais), que são as áreas finais de cada equipe e que determinam os touchdowns quando o ataque do time adversário toca este chão colorido com a “bola”.

E como funciona este jogo e suas partidas? Duas equipes de 11 jogadores disputam este esporte de contato, ou melhor dizendo, de colisão, com o intuito de marcar pontos avançando a bola pelo campo até a zona final do time adversário, ou chutando esta mesma bola dentro das traves que ficam no alto, sim, no alto – um gol em formato de Y.

Basicamente, tudo que você precisa saber é que, se um time está atacando atravessa com a bola por 2 dessas riscas brancas maiores, ele avançou e o time continua com a posse, mas não é assim tão fácil quanto parece.

A equipe que ataca tem 4 tentativas para conseguir deslocar a bola por 10 jardas, que são quase 10 metros de distância, dentro do campo do adversário que tenta impedi-lo. Caso consiga, renova-se suas tentativas para mais 10 jardas, caso não, dá-se um chutão na bola e a posse de bola é invertida para o oponente.

As pontuações da partida são dadas em ordem de importância por: Touchdown (6 pontos) atravessar com a bola o campo de ataque até o limite indicado pelas traves (ou pela grama colorida); Field goal – acertar um chute entre as traves que garante 3 pontos para a equipe que não avançar as linhas; os Extra points que são uma jogada de bonificação dada a uma equipe após conseguirem um touchdown. Essa jogada é convertida de forma aérea – com um chute a gol (no alto) que vale 1 ponto, mas pode também ser feito de forma terrestre – por uma nova tentativa de avanço da bola por 10 jardas e que vale dois pontos (normalmente as equipes preferem a tentativa aérea pelo menor risco de contra-ataque ou de safety quando realizado após um touchdown); e o safety (2 pontos) que é recuperar a bola dentro da área de defesa de touchdown da sua equipe, que é uma jogada bastante rara no esporte.

O jogador que recebe a bola deve correr, até onde conseguir, parando somente ao atingir a área de Touchdown, para isto ele deve driblar seus adversários que buscam derrubá-lo ou tirá-lo para fora dos limites do campo. Aos defensores cabe interceptar a bola ou os jogadores que a recebem, também atacar o quarterback para que não consiga arremessar a bola com qualidade para seu atacante, ou mesmo que este corra sozinho sem passar a bola. Existem também jogadores em campo somente para a proteção do quarterback, já que este é muito importante nas jogadas de ataque.

As equipes possuem jogadores de defesa e de ataque que se revezam de acordo com a condição da partida, não havendo limites de substituições.

Futebol americano
Fonte: Wikipédia

Uma outra característica marcante do jogo é a confrontação física dos jogadores, que entre lançar, receber e correr com a bola, estes precisam também ficar atentos aos movimentos defensivos que são dados pelo contato, como empurrões e agarrões e que facilmente levam a lesões ou ao encerramento da carreira, o que explica os equipamentos proteção usados pelos jogadores. É também comum ao jogo de futebol americano, principalmente durante o evento do Super Bowl, a tentativa de humilhar jogadores, equipe e torcedores adversários, com provocações árduas e ações de desdém dentro da partida.

Por este viés, o jogo carrega o ethos do comportamento bárbaro, da violência, mas existem, também, diversos momentos de graça e beleza nas jogadas de lançamento e de corrida, nos dribles, e, numa das regras que me soa muito importante: a contestação da marcação do árbitro. Para explicar um pouco, quando um treinador acha que o árbitro se equivocou em uma marcação, ele pode pedir a revisão do lance em um sistema muito próximo ao VAR que conhecemos no futebol, e caso o treinador esteja errado, ele perde um dos seus pedidos de tempo tático, caso certo, o lance é revertido.

Por ser o evento mais assistido ano após ano nos Estados Unidos, a importância do Super Bowl, na cultura americana, é a forma em que este é feito para ser espetacularizado, televisionado, assim, mais que somente pela final de campeonato, a transmissão se torna um show com seus milhares de câmeras em diversos ângulos, slow motions, imagens computadorizadas que auxiliam a ver os toques e movimentos da bola e jogadores; microfones que captam tudo o que é dito e feito dentro do estádio. Então, caso você pisque os olhos em uma jogada importante, ou cochile, pois o jogo é longo demais com tanta interrupção, não se preocupe! Cada lance é reprisado três vezes de três diferentes ângulos, com explicação da mesa de comentarista e desenhos de esquemas táticos, além de duas ou três propagandas comerciais até a continuação da partida. Comerciais esses que custam 7 milhões de dólares por 30 segundos[1] de exibição durante o Super Bowl e são propagandas feitas exclusivamente para o evento, o que também tem acontecido nos últimos anos aqui no Brasil, nos canais que transmitem o Super Bowl.

A final do campeonato é tão importante que é como um feriado não oficial nos Estados Unidos, reunindo pessoas para assistir a partida, com muita comida e bebida. Não obstante, além da partida, dos comerciais, das repetições das jogadas, ainda temos durante o intervalo, um concerto musical. Neste ano, Dr. Dree, Snoop Dogg, Eminem, Mary J. Blige e Kendrick Lamar, ícones do rap americano, se apresentarão por alguns minutos em um show que, pelas características do Super Bowl, é muito bem produzido.

Superbowl
Fonte: reprodução

BENGALS versus RAMS

Os Cincinnati Bengals é um time que foi considerado piada por muitos anos, a pior equipe nos dois últimos anos de competição e que pelo sistema de paridade do futebol americano, isto é, uma regra que garante a competitividade entre equipes onde o pior time da temporada escolhe primeiro quais jogadores contratar, os Bengals acabaram por recrutar o quarterback Joe Burrow e o recebedor Ja’Marr Chase para a equipe, que apesar de se destacarem no futebol americano universitário – espécie da categoria de base dos times profissionais, precisaram de excelente atuações para convencer seus próprios torcedores de que seu time iria longe, e assim fizeram, carregando seu time depois de trinta anos para o terceiro Super Bowl da história e em busca da primeira taça.

Os Los Angeles Rams é o time que joga em casa, de Hollywood na Califórnia, três vezes campeão do Super Bowl, o time, traz uma seleção unicamente para esta temporada que, pela mesma regra de paridade, o time abriu mão de escolher jogadores das categorias universitárias para contratar medalhões de sucesso, ao fim da temporada o time se desfaz pelo sistema de paridade no esporte, mas que vem com grandes pretensões para este Super Bowl, com o defensor Aaron Donald, o quarterback Matt Stafford e o corredor figurão Odell Beckham Jr. 

Neste duelo de carneiros (ram) contra tigres-de-bengala (bengal), como o jogo acontece no estádio dos Rams, o SoFi Stadium em Los Angeles, e estes possuem uma equipe recheada de estrelas, há um enorme favoritismo apontado, mas os Bengals, depois de 30 anos de sofrimento, querem dar um motivo de comemoração para seus fãs, retribuir a dedicação e o carinho. Para qualquer aficionado que busque assistir essa partida, o ingresso mais barato custa 32 mil reais[2], mas se caso a partida te interesse e você queria saber quem ficará com o anel de campeão, ela pode ser assistida do Brasil pelos canais ESPN e Rede TV a partir das 20 horas e 30 minutos de domingo. Prepare-se! O jogo é longo e as propagandas vão te fazer querer comer e beber algo, isso se não te seduzirem a fazer algumas compras (mantenha seu cartão de crédito longe).

Espero ter trazido a vocês o mínimo de informação necessária para que possamos acompanhar a partida da Super Tigela deste domingo, mesmo não sendo um grande acompanhante do esporte fiz um trabalho de entender um pouco sobre o esporte e quais suas principais características e implicações para seus fãs.

Já vos aviso que minha torcida vai pros Bengals, principalmente após esses 30 anos sem ir para a final de um campeonato que nunca conquistou, mas procurarei assistir a partida em uma transmissão americana, para entender ainda mais a relevância do evento com a transmissão e as propagandas locais e como este esporte é tão aclamado pelo público americano, e somente por eles[3].

Notas

[1] https://istoe.com.br/chuva-de-dinheiro-comerciais-no-intervalo-sao-mais-uma-atracao-no-super-bowl-lvi/

[2] https://www.uol.com.br/esporte/ultimas-noticias/2022/02/04/ingresso-mais-barato-para-super-bowl-custa-r-32-mil-reais.htm

[3] Este texto possui muitas brincadeiras e ironias. Espero não ter ofendido os amantes do esporte e comentários são bem vindos. Agradecimento a Ivan Araújo por não me deixar errar tanto nas explicações.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Clayton Alino-Silva

Fanático por jogos e esportes, tradicionais e eletrônicos - Pesquisa performances e rituais em atividades lúdicas como brincadeiras, jogos e torcer. Bacharel e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina e especialista em Antropologia Política pela FLACSO-Argentina. Pesquisador do Laboratório de Estudos das Práticas Lúdicas e de Sociabilidades (LELuS/UFSCar) desde 2020.

Como citar

SILVA, Clayton Denis Alino da. Super Bowl LVI e o futebol americano, explicado por quem não conhece. Ludopédio, São Paulo, v. 152, n. 13, 2022.
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