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O técnico, o emprego e a dança das cadeiras

Cristiane Nestor de Almeida. 8 de dezembro de 2017

Dança das cadeiras é nome de uma brincadeira popular na qual o número de cadeiras deve sempre ser menor que o número de participantes. Quando usada no futebol o termo “dança das cadeiras” se refere as demissões e contratações de técnicos que ocorrem durante os campeonatos.

Para visualizarmos e entendermos essa dinâmica, analisaremos a seguir o Campeonato Brasileiro de 2016, que teve a participação de 20 clubes e 38 rodadas. A tabela a seguir inicia com o Palmeiras que foi o campeão da competição analisada e termina com o América Mineiro que foi rebaixado à série B em 2017, e a quantidade de técnicos que passou por cada clube durante as 38 rodadas.

TABELA 1 – Quantidade de técnicos por clube, durante o campeonato brasileiro 2016.

CAMPEONATO BRASILEIRO DE 2016
ClubeTécnico inicial Técnico intermediário ITécnico intermediário IITécnico final Total
PalmeirasCuca1
SantosDorival Júnior1
Atlético MineiroDiego AguirreMarcelo OliveiraDiogo Giacomini3
BotafogoRicardo GomesJair Ventura2
Atlético ParanaensePaulo Autuori1
CorinthiansTiteFábio Carille (2)Cristovão BorgesOswaldo Oliveira5

 

Ponte PretaEduardo BaptistaFelipe Moreira2
Grêmio Roger MachadoJames FreitasRenato Gaúcho3
São PauloEdgardo BauzaAndré JardineRicardo GomesPintado4
ChapecoenseGuto FerreiraEmerson CrisCaio Júnior3
CruzeiroGeraldo DelamorePaulo BentoMano Menezes3

 

FluminenseLevir CulpiMarcão2
SportOswaldo de OliveiraDaniel Paulista2
CoritibaGilson KleinaPachequinhoCarpegiani3
VitóriaVagner ManciniArgel Fucks2
InternacionalArgel FucksFalcãoCelso RothLisca4
FigueirenseVinícius EutrópioArgel FucksTuca GuimarãesMarquinhos Santos4
Santa CruzMilton MendesAdriano TeixeiraDorivaAdriano Teixeira4
América MineiroGivanildo OliveiraCláudio PratesSérgio VieiraEnderson Moreira4
Fonte: globo esporte/ balanço do brasileirão 2016.

 

durante o treino esta manha no CT Joaquim Grava, zona leste da cidade. O proximo jogo da equipe sera amanha, 17/09 contra o Palmeiras/SP, na Arena Corinthians, valido pela 26a. rodada do Campeonato Brasileiro de 2016. Juiz: Heber Roberto Lopes - Sao Paulo / SP - Brasil - 16/09/2016. Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Em 2016, Cristovão Borges era o técnico e Fábio Carille o auxiliar. Foto: © Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians.

Como podemos ver na tabela 1, no Campeonato Brasileiro de 2016 apenas três equipes começaram e terminaram a competição com o mesmo técnico, e essas terminaram nos primeiros lugares: Palmeiras, Santos e Atlético Paranaense, respectivamente campeão, vice e 5º lugar. A tabela indica que a média de técnicos que passaram pelo comando dos clubes no campeonato brasileiro de 2016 foi de 2,65 técnicos. Com isso apenas 8 clubes ficaram abaixo da média, isto é, trocaram no máximo uma vez de técnico durante o campeonato.

Verificamos que os quatro rebaixados a série B de 2017 (Internacional, Figueirense, Santa Cruz e América Mineiro), juntamente com o São Paulo tiveram em seus comandos quatro técnicos diferentes ao longo de 2016. O Corinthians teve cinco técnicos, porém vale ressaltar que um deles foi convidado para treinar a seleção brasileira.

No Brasil, há a cultura de curto prazo em que os resultados são o que importa justificando a troca de técnicos. Nesse sentido, o discurso usado pelos dirigentes na hora de contratar o técnico fica sem sentido, pois os mesmos sempre dizem que os ‘comandantes’ terão total apoio, farão um trabalho de longo prazo, mas basta alguns resultados negativos para que a demissão aconteça.

O que podemos concluir é que há uma grande instabilidade na gestão dos clubes brasileiros, e o planejamento não é levado em consideração. Planejar significa determinar com antecedência o que será colocado em prática, a forma como será feito, alcançando o resultado esperado lá na frente. Para isso é preciso que sejam utilizados recursos como financeiros, humanos, tecnológicos, insumos – todos utilizados na hora do planejamento até a obtenção do resultado final. Assim pode se comparar o futebol com uma empresa e por isso há um conjunto de ações para que o mesmo alcance performances sustentáveis e reprodutíveis. Ainda sobre planejamento, o mesmo envolve receita, a contratação do técnico, escolha dos que se identificam com o perfil do clube (comissão técnica, jogadores principalmente). Também é importante planejar as contratações por posição e quais terão maior potencial de venda, que deve ser levado em conta além do potencial do jogador, seu potencial de marketing, seu valor de mercado, que envolve tantos detalhes que não cabe aqui.

Ser técnico brasileiro principalmente da série A, pode até trazer mais prestígio, porém muita instabilidade, e o propósito de muitos é ter em seus currículos mais títulos do que passagem por clubes.

Curiosidades: Alex Ferguson dirigiu o Manchester United da Inglaterra por 27 anos (1986/2013) é um dos técnicos mais famosos e longevos do futebol, e recebeu o título de “Sir” concedido pela rainha da Inglaterra. Porém a maior longevidade registrada é a de Amadeu Teixeira que dirigiu o América-AM por 53 anos (1955/2008), atualmente Cláudio Tencati comanda o Londrina desde 2011, que está na série B do campeonato brasileiro.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Como citar

ALMEIDA., Cristiane Nestor de. O técnico, o emprego e a dança das cadeiras. Ludopédio, São Paulo, v. 102, n. 8, 2017.
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