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Tem alguma coisa errada com o Santos

Pedro Zan 10 de agosto de 2022

Não é normal, em apenas dois anos de gestão, um clube passar por cinco treinadores, caminhando agora para o sexto após a demissão de Fabián Bustos.

Não é normal, nesse mesmo clube que tanto muda comandantes, algumas figuras terem cargos aparentemente vitalícios no clube, de modo que a cada troca de técnico, assumem interinamente – inclusive com força para “contratar” auxiliares interinos como o ídolo Giovanni.

Não é normal um clube passar também por tantas trocas no comando executivo do futebol, indo para mais uma após a saída de Edu Dracena, que estava em sua primeira experiência nesse tipo de cargo.

Não é normal o clube contratar (ex)jogadores caros vindos, por exemplo, da China, mesmo estando em uma situação financeira ruim, para negociar sua rescisão poucos meses depois do anúncio como principal contratação da temporada.

Não é normal um clube do tamanho do Santos, nesses mesmos dois anos, ter brigado contra o rebaixamento tanto no Paulistão quanto no Brasileirão.

Não é normal o Santos deixar de ser um clube temido pelos rivais, tanto no Brasil quanto fora. Hoje em dia, os adversários que caem contra o Peixe em um sorteio como da Copa do Brasil ou da Sul-Americana se veem como sortudos, a verdade é essa – nem a Vila tem tido seus efeitos místicos no clube.

A questão é: o quê está errado?

Sinceramente, não sei. Claro, uma diretoria que foi eleita com um presidente que abertamente disse que não sabia nada de futebol pode ser um indício. É inegável que o objetivo de diminuir dívidas está sendo cumprido, mas é nítida a falta de visão no carro-chefe do clube: o futebol. Como disse em outro texto, todas as modalidades passam por uma crise esportiva.

Lisca Doido
Lisca, novo treinador do Santos. Fonte: Ivan Storti/Santos FC/Fotos Públicas

Isso tem muito a ver com a falta de convicção e de visão da diretoria. Mesmo quando busca ser criativa em contratações de técnicos e de jogadores, além de cometer equívocos graves, como o anúncio de Willian Maranhão, também não sustenta as decisões que toma. Holan, Diniz, Carille, Bustos, todos treinadores de perfis muito distintos, mas que nunca foram bancados pela diretoria, que sempre parece pronta para tentar reformular toda a equipe a cada momento de crise. Nenhum clube sobrevive a tantas “trocas de pneu com o carro andando”.

Mas também parece haver a influência de algo “sobrenatural”. Ao longo desses anos, o Santos teve atuações pavorosas, algumas boas e outras excelentes, mas nem sempre os resultados denotam isso. Neste ano o Santos foi muito prejudicado pela arbitragem, é verdade (exemplos de erros crassos contra o Peixe neste Brasileirão não faltam, desde a primeira rodada, quando não foi assinalado um pênalti claro de Nino em cima de Angulo na partida contra o Fluminense). Mas parece que mesmo quando tudo dá certo, nada dá certo. O grande exemplo foi o clássico contra o Palmeiras, em que o Santos foi superior praticamente a partida inteira, teve um gol anulado, parou em grande atuação de Marcelo Lomba, e saiu derrotado por conta de um gol contra (e ainda teve a sorte de ver Raphael Veiga perder um pênalti, evento quase tão raro quanto a passagem de um cometa).

A sensação para o torcedor do Santos é terrível. Parece que não há saída. Mais um ano em que o objetivo é um só: sobreviver, sempre com a esperança de que o ano que vem será melhor, mas uma esperança que vai se esvaindo a cada resultado negativo ou atuação desastrosa.

De fato tem algo de errado no Santos. Do presidente até os jogadores, passando por comissão técnica e diretoria, todos têm culpa. Haja sal grosso!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Pedro Zan

Quase formado em Filosofia na Unicamp, mas bom mesmo é falar de futebol. Santista desde sempre, também tenho um podcast, "Os Acréscimos", e sou um dos administradores da página "Antigas Fotos do Futebol Brasileiro".

Como citar

ZAN, Pedro. Tem alguma coisa errada com o Santos. Ludopédio, São Paulo, v. 158, n. 10, 2022.
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