151.18

Um drible na morte

Cláudia Samuel Kessler 19 de janeiro de 2022

Ela estava em algum lugar, à paisana
Entre Plaza Catalunya e Via Laietana
E se aproximou sem sequer ser notada
Sorrateira, muda, sem anunciar chegada

Dor de garganta dois dias, febre no terceiro
O bichinho se disseminou lépido e faceiro!
No posto de saúde, logo recebi o veredito
Sete dias em casa, confinada num quartito

Sinto que joguei com a morte
Que chegou disfarçada de covid
Depois de um breve golpe de sorte
Recuperar-se, não há quem olvide

Há quem possa pensar que é exagero
Porque se espalha pelo mundo inteiro
Mas e o que vale agora a vida humana?
A mortalidade persiste semana a semana!

A pandemia não é seletiva e nem sexista
Nem mesmo afiliou-se ao partido comunista
Sequer avisou os próximos nomes na lista
Quem já teve, difícil manter-se negacionista

Não dá pra ignorar o sofrimento e a iniquidade
E muito menos esquecer as tantas vidas perdidas
Marcas emocionais expostas ou escondidas
Quem sabe um dia retornemos à “normalidade”!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Cláudia Kessler

Jornalista e cientista social. Doutora em Antropologia Social (UFRGS).

Como citar

KESSLER, Cláudia Samuel. Um drible na morte. Ludopédio, São Paulo, v. 151, n. 18, 2022.
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