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Uma nova chance para uma Londres aos escombros

Paulinho Oliveira 29 de abril de 2021
Tóquio 1940
Cartaz promocional dos Jogos de Tóquio 1940, um dos que seriam cancelados por conta da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Foto: Divulgação

Em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, publicado em 1852, o filósofo, sociólogo, jornalista e revolucionário socialista prussiano Karl Marx mencionou, logo no início do primeiro capítulo, aperfeiçoando citação do também filósofo alemão Georg Hegel, que a história se repete duas vezes: uma, como tragédia; outra, como farsa. A interpretação correta a se dar ao que Marx citou é a de que eventos como a Revolução de 1848 na França seriam uma mera paródia de outros passados, como a Revolução de 1789. Esta, por sua vez, teria se inspirado na Roma Antiga, tanto na sua fase republicana, quanto na imperial. Todavia, Londres, a capital britânica – onde Marx terminaria seus dias de vida em 14 de março de 1883 –, seria o pivô da repetição da história por duas vezes de forma trágica. A primeira tragédia, na verdade, nem ocorrera em terras londrinas, mas em Nápoles, na Itália, no dia 5 de abril de 1906, devastada pelo Vesúvio, o que fez com que Roma desistisse de sediar os Jogos Olímpicos de 1908, abrindo caminho para Londres ser anfitriã olímpica pela primeira vez. A segunda tragédia, por outro lado, impediria a capital britânica de voltar a sediar uma olimpíada, no caso, a de 1944, para a qual fora escolhida em 9 de junho de 1939, durante a 39ª Sessão do Comitê Olímpico Internacional ocorrida na própria cidade. Em 1º de setembro, menos de três meses após a sessão do COI, a Alemanha de Adolf Hitler invadia a Polônia e dava início à Segunda Guerra Mundial.

Se a Primeira Guerra fora uma grande carnificina com cerca de 20 milhões de vidas perdidas, a subsequente foi pior em todos os aspectos. Entre 75 milhões e 85 milhões de pessoas morreram nesse último conflito global, sendo dois terços dos mortos civis, tornando a Segunda Guerra Mundial o mais letal conflito armado de todos os tempos. Como se não bastassem as mortes em si, a guerra revelou o que havia de mais cruel na mente humana: deportações forçadas de populações inteiras; criação de campos de concentração, onde homens e mulheres eram despersonalizados e minguavam, torturados e seviciados, até a morte; elaboração de métodos de extermínio como câmaras de gás e crematórios, em que aqueles considerados membros de “raças impuras” pelos nazistas eram asfixiados e queimados vivos; experiências científicas com prisioneiros dissecados e mutilados em vida; crianças separadas para sempre de seus pais; alvos civis utilizados como método de amedrontamento do inimigo; fuzilamentos em massa; e, por fim, bombardeios de cidades inteiras, inclusive Londres, que terminou a guerra aos escombros. Quando tudo parecia haver terminado com o suicídio de Hitler e a rendição incondicional da Alemanha, duas bombas atômicas arremessadas pelos Estados Unidos varreram do mapa, em 6 e 9 de agosto de 1945, as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, matando instantaneamente mais de 100 mil pessoas e vitimando, nos anos posteriores, outras 200 mil por conta dos efeitos da radiação nuclear.

A Segunda Guerra Mundial fez com que não se tivessem olimpíadas por doze anos. Somente em setembro de 1946, na sede do COI, em Lausanne, Londres foi escolhida por unanimidade para sediar os Jogos de 1948, como uma espécie de pagamento de promessa a uma cidade escolhida para ser a anfitriã de uma edição que não ocorrera (a de 1944) e, ao mesmo tempo, uma deferência à capital inglesa em consideração ao que sofrera durante a guerra, principalmente pelos intensos bombardeios impostos pela Luftwaffe, a força aérea da Alemanha nazista. O desafio londrino era gigantesco, pois, além do processo de reconstrução da cidade, convivia-se ainda com racionamentos de alimentos, roupas e combustível, impostos pelo governo britânico como parte do esforço de guerra e ainda vigentes mesmo após o fim das hostilidades. Com essa situação adversa e a menos de dois anos do início dos Jogos, a solução encontrada pela organização de Londres 1948 foi planejar o evento com um orçamento mínimo e à moda militar, uma amostra de que ainda não se havia livrado dos costumes advindos dos longos anos em que as disputas esportivas deram lugar aos confrontos bélicos entre os Aliados e o Eixo.

O desafio da reconstrução de um país para os jogos da austeridade

Luftwaffe
Avião bombardeiro da Luftwaffe sobrevoa Londres para bombardeá-la em 7 de setembro de 1940. Foto: Wikipédia

Londres foi a cidade britânica mais atingida pelos bombardeios da Luftwaffe – estima-se que mais de 18 mil toneladas de bombas foram lançadas sobre a capital em 71 ataques sofridos. Mesmo depois de cessada a blitz nazista, os londrinos conviveram até o fim da guerra com a rotina de permanecerem em alerta para qualquer emergência, conduta natural para uma cidade que viu morrerem 40 mil pessoas e se ferirem outras 130 mil. Os danos causados pelos bombardeios eram visíveis mesmo após o fim das hostilidades, e a capital britânica ainda era uma cidade em reconstrução no ano dos Jogos Olímpicos.

O ritmo do crescimento populacional da Grã-Bretanha foi mais lento entre 1908 e 1948 do que nos quarenta anos que antecederam as primeiras Olimpíadas em Londres. Se de 1869 a 1908 a população britânica crescera mais de 60%, nas quatro décadas subsequentes o aumento não chegou a 25%. O fenômeno nacional foi semelhante no âmbito londrino. De 1861 a 1901, a população de Londres crescera mais de 100%, fazendo com que a capital britânica se tornasse, à época, a cidade mais populosa do mundo. Já de 1901 a 1941, o crescimento populacional londrino foi de pouco mais de 28% – havendo sido registrado, inclusive, um decréscimo de 0,14% em sua população entre 1931 e 1941, ano em que a capital britânica chegou à casa dos 8 milhões de habitantes. No final dos anos 1940, Londres já havia perdido o posto de mais populosa cidade do planeta para Nova York (Estados Unidos). Grande parte da perda populacional se deu por conta de medidas como a evacuação forçada, a partir de 1939, de mais de 3 milhões de pessoas – sendo um terço de crianças – para áreas do país mais afastadas da capital, o que se revelaria um caos em face da total falta de planejamento para acolhê-las nos locais aonde eram enviadas.

A taxa de desemprego – que havia atingido a marca de 23,4% da população economicamente ativa em maio de 1921, mais por conta das vagas que se tornaram escassas em indústrias decadentes no norte da Inglaterra, no nordeste da Escócia e no sul do País de Gales, por exemplo – se manteve em índices elevados até 1939, quando começou a experimentar uma grande redução, até atingir índices abaixo de 1% de 1942 a 1945. A explicação para o pleno emprego durante a Segunda Guerra Mundial está no fato de que milhões de voluntários estavam empregados no serviço militar, enquanto outros tantos, especialmente mulheres, compunham a retaguarda britânica no serviço de guerra, como nas fábricas de armamentos e aviões. Enquanto em 1940 ainda se ultrapassava a casa de 1 milhão de desempregados, a admissão de cerca de 2 milhões de mulheres nos postos de trabalho antes ocupados unicamente por homens fez com que o número absoluto de desocupados fosse reduzido a pouco mais de 106 mil ao final de 1945.

Londres 1948
Cartaz promocional dos Jogos de Londres 1948. Fonte: Divulgação

Cerca de 1 milhão de pessoas perderam suas casas com os bombardeios alemães sobre Londres, e o elevado déficit habitacional foi uma das causas da vitória do Partido Trabalhista nas eleições gerais de 1945, nas quais um dos motes da campanha de Clement Attlee foi o combate à pobreza e à exclusão social. Attlee, é certo, não conseguiu eliminar por completo a carência habitacional, mas seu governo patrocinou a construção de mais de 1 milhão de novas moradias, inclusive por meio da aprovação de leis que propiciaram subsídios governamentais para a aquisição de novas casas e reduziram a burocracia. Além disso, o governo trabalhista criou mecanismos de desapropriação para novos planejamentos urbanos – especialmente por meio do Ato de Planejamento das Cidades e do País de 1947. Tal medida beneficiou cidades como Londres, auxiliando sua preparação para os Jogos Olímpicos de 1948. A regra, todavia, para a segunda Olimpíada na capital britânica era o corte de gastos. Os custos advindos da guerra eram por demais pesados para os britânicos, de modo que era impensável, por exemplo, a construção de novas praças esportivas, ou mesmo uma reforma que as ampliasse – o que ocorrera em Los Angeles 1932, com o aumento da capacidade do Memorial Coliseum, ou em Berlim 1936, com a reforma do antigo Deutsches Stadion, transformado no Olympiastadion pomposo ao gosto de Hitler. Era preciso lançar mão dos equipamentos já existentes, e os organizadores, desde o princípio, pensaram em Wembley como palco principal – para isso, acertaram com os administradores do estádio uma compensação financeira pelo tempo em que seria utilizado para a organização e realização de Londres 1948.

O Estádio de Wembley existia desde 1923, tendo sido construído a um custo, à época, de 750 mil libras. Seu primeiro grande evento internacional foi a final da FA Cup, em que o Bolton Wanderers venceu por 2 a 0 o West Ham United, partida acompanhada, oficialmente, por 126 mil torcedores, mas que, na verdade, contou com a presença de mais de 240 mil pessoas, grande parte delas tendo pulado os muros do estádio para assistir ao jogo sem pagar ingresso. Wembley foi um dos locais não atingidos pelos bombardeios alemães que devastaram Londres, de modo que não seria necessário mais que uma pequena reforma em suas instalações para os Jogos Olímpicos de 1948. Todas as disputas esportivas aconteceram em locais já existentes: no complexo de Wembley, o estádio principal (sede do atletismo, da prova de saltos do hipismo e das finais do futebol e do hóquei sobre a grama, além das cerimônias de abertura e encerramento), o Empire Pool (para as provas de natação e saltos ornamentais) e o Palácio de Engenharia (sede da esgrima); ao redor de Londres, locais já aproveitados para disputas históricas no ciclismo (Windsor Great Park) e no futebol (estádios do Arsenal, Crystal Palace, Fulham, Brentford, Dulwich Hamlet, Walthamstow Avenue, Tottenham Hotspur, Portsmouth e Brighton & Hove Albion); fora da capital, sedes como o English Channel, em Torbay (para as disputas da vela), e o Royal Regatta Course, em Henley-on-Thames (para canoagem e remo).

A política de austeridade da organização de Londres 1948 implicou a não construção de uma vila olímpica para a hospedagem dos atletas estrangeiros, que tiveram de se alojar em escolas, universidades e instalações militares ao redor do complexo de Wembley. Cada atleta teria de trazer material de banho e receberia apenas enxoval de cama. A alimentação era o suficiente para o rendimento dos atletas – à época, a Grã-Bretanha ainda sofria com o racionamento de comida em vigor desde a Segunda Guerra. Parte da infraestrutura foi viabilizada com o auxílio de outros países – a Finlândia, por exemplo, doou madeira para o piso da Harringay Arena, sede das disputas do basquete, luta greco-romana e luta livre, enquanto a Suíça forneceu os equipamentos de ginástica. Era a solidariedade internacional em torno de uma cidade e um país que viraram símbolos da vitória contra o nazismo.

Apesar das limitações no orçamento, Londres 1948 protagonizou inovações tecnológicas no esporte. Na natação, por exemplo, surgiram apoios embutidos para os competidores das provas de nado costas, os quais eram fechados pelos árbitros logo após a largada, a fim de que a batida na borda, ao final da prova, pudesse ser efetuada pelo nadador. As provas de velocidade do atletismo, por sua vez, tiveram como novos personagens os blocos de partida. Antes de 1948, os competidores de provas como os 100 metros rasos cavavam pequenos buracos na pista de terra batida nos quais pudessem alojar as pontas de seus pés, a fim de que os mesmos fossem impulsionados para a frente assim que fosse dado o tiro de largada. Com os blocos de partida, isso não foi mais preciso, bastando que os atletas ajustassem manualmente o equipamento, de modo que o pé de impulsão ficasse à frente do pé de apoio. A tecnologia inovadora, porém, não representou necessariamente uma melhora no rendimento dos atletas, pelo menos em Londres 1948: nos 100 metros rasos para homens, por exemplo, Jesse Owens (Estados Unidos) venceu em Berlim 1936 com o tempo de 10 segundos e 3 décimos, mesmo tempo obtido pelo campeão de 1948, o também norte-americano Harrison Dillard; já nos 100 metros rasos femininos, o tempo da vencedora de Londres 1948, a holandesa Fanny Blankers-Koen, de 11 segundos e 9 décimos, foi 4 décimos pior do que a norte-americana Helen Stephens havia obtido em Berlim, doze anos antes.

A prestação de contas dos Jogos de 1948 só ficaria pronta em 31 de dezembro de 1949 e sua divulgação só ocorreria em 1951. A arrecadação total foi de aproximadamente 762 mil libras, enquanto as despesas foram cerca de 29 mil libras a menos. Dentre as receitas discriminadas, destaca-se a módica quantia de mil libras paga pela BBC pelos direitos de transmissão de Londres 1948 – a emissora pública britânica transmitiu ao vivo para a Grã-Bretanha e parte da Europa a cerimônia de abertura e 60 horas de competições. Embora, contudo, o resultado final oficial tenha sido o lucro de 29 mil libras, as contas dos Jogos de 1948 não especificaram o valor gasto pelas benfeitorias, por exemplo, no Estádio de Wembley – no qual foram instalados o grande placar manual, a tocha olímpica e o fosso onde ficavam cinegrafistas para captar as melhores imagens das disputas.

Portas fechadas para Alemanha e Japão e o adiamento da Guerra Fria Olímpica

Wembley 1948
Acendimento da pira olímpica no Estádio de Wembley, durante cerimônia de abertura de Londres 1948. Foto: Wikipédia

A cerimônia de abertura de Londres 1948 teve início às 14:30 h do dia 29 de julho, uma ensolarada quinta-feira, tendo o rei Jorge VI adentrado em Wembley quinze minutos depois, sob o som de “God Save the King”, o hino nacional britânico. Pontualmente às 15 horas, começou a parada das nações, nas quais cada delegação era precedida por um jovem escoteiro, devidamente uniformizado, portando a placa com o nome, em inglês, da nação que desfilava sob os olhos de quase 90 mil espectadores. Outros tantos jovens fardados ficaram posicionados próximos às arquibancadas, guarnecendo pequenas gaiolas nas quais estavam as pombas brancas da paz que seriam lançadas ao ar no momento oportuno, para simbolizar um novo período de concórdia entre os povos depois da Segunda Guerra Mundial. Devido ao forte calor que fazia na ocasião, houve escoteiros que desmaiaram, necessitando dos devidos socorros.

A guerra significou o fim da vida para 406 atletas olímpicos, muitos dos quais escreveram seu nome na história como medalhistas – inclusive John Lander, ouro no remo (quatro sem timoneiro) em Amsterdã 1928, o único campeão olímpico dentre os 15 britânicos mortos na Segunda Guerra Mundial. Na tarde de 29 de julho de 1948, 4.104 atletas, sendo 390 mulheres (correspondentes a 9,5% do total), desfilaram em Wembley como participantes dos Jogos de Londres. O desfile seguiu o estilo marcial, com os porta-bandeiras das delegações apresentando seus pavilhões de maneira solene à frente do camarote real, embora a organização não permitisse qualquer gesto com os braços, talvez para não lembrar o Heil, Hitler de Berlim 1936. Pouco depois das 16 horas, a tocha olímpica adentrava o estádio, carregada pelo jovem John Mark, 22 anos, estudante de medicina na Universidade de Cambridge, havendo se destacado em torneios universitários de rúgbi e atletismo, sem, contudo, conseguir ingressar na equipe olímpica britânica. A razão pela qual Mark foi escolhido para acender a pira olímpica em Wembley foi simplesmente o seu biotipo – branco, alto, esguio, lembrando Adonis, um personagem jovem da mitologia grega que virou símbolo do ciclo anual da vegetação. A escolha do jovem Mark teria sido, inclusive, controvertida, com protesto da rainha consorte Elizabeth, indignada por não haver sido selecionado para a tarefa Sydney Wooderson, ex-recordista mundial dos 800 metros que participara dos Jogos de Berlim 1936, um dos fundistas mais renomados do país. Mark, ao contrário, não possuía qualquer credencial esportiva relevante.

O certo é que o critério que levou à escolha de John Mark para acender a pira olímpica em Wembley é bastante semelhante àquele que fora adotado pelos nazistas doze anos antes para selecionar Fritz Schilgen – que, assim como Mark, jamais competiu em Jogos Olímpicos. A Alemanha, todavia, era a grande ausência de Londres 1948, como consequência do boicote imposto pela Grã-Bretanha aos derrotados na Segunda Guerra Mundial. O antigo país de Hitler – agora livre do nazismo – foi o que mais teve perdas de atletas olímpicos na guerra, em um total de 106, destacando-se: Alfred Flatow, um dos primeiros campeões olímpicos da ginástica (com quatro ouros e uma prata em Atenas 1896), que, junto com seu primo Gustav, morreu de fome no campo de concentração de Theresienstadt (na atual República Tcheca); e Luz Long, medalha de prata no salto em distância em Berlim 1936, havendo perdido aquela prova para o norte-americano Jesse Owens. Houve, entretanto, um alemão que se fez presente em Londres 1948: Helmut Bantz, piloto da Luftwaffe que foi capturado e feito prisioneiro de guerra pelos britânicos, tornando-se, depois, treinador não-oficial da equipe de ginástica da Grã-Bretanha.

O boicote aos derrotados na guerra também atingiu o Japão, mas não a Itália, cuja participação ao lado das forças do Eixo acabara em 1943, com a queda de Benito Mussolini, tendo os italianos, depois, mudado de lado em favor dos Aliados. A delegação italiana fez um excelente papel em Londres, terminando os Jogos na 5ª colocação, com um total de 27 medalhas, sendo 8 de ouro. A Itália foi um dos 25 países que representaram a Europa, continente que continuou a ser o mais presente entre os participantes olímpicos. Contudo, a supremacia europeia não era mais tão confortável: 17 delegações representavam a América (incluindo as estreantes Guiana Britânica, Jamaica, Porto Rico, Trinidad e Tobago e Venezuela), enquanto 13, a Ásia (contando com a estreia de Birmânia, Ceilão, Iraque, Coreia, Líbano, Paquistão, Singapura e Síria). Outros 4 países representaram a África e a Oceania, com duas delegações para cada.

Se no cômputo geral de participantes o equilíbrio entre os continentes era cada vez mais evidente, isso não se refletia, por outro lado, entre os mais bem ranqueados no quadro de medalhas. Dos dez primeiros colocados, apenas os Estados Unidos – que voltaram a ser os líderes pela primeira vez desde 1932, com 84 medalhas no total, sendo 38 de ouro – eram de fora da Europa. Os norte-americanos ganharam 40 medalhas a mais que a Suécia, segunda colocada, a qual obteve menos da metade dos ouros ganhos pelos líderes. A imensa e incontestável supremacia norte-americana em Londres 1948, todavia, só foi possível também graças a outra ausência notável naqueles Jogos. A União Soviética já tinha um grande potencial esportivo, daí porque fora insistentemente convidada pelo comitê organizador para tomar parte da Olimpíada até junho de 1948, quando o bloqueio de Berlim imposto pelos soviéticos – que dominavam a capital alemã após o fim da Segunda Guerra, ao lado de britânicos, franceses e norte-americanos – esfriou as relações diplomáticas entre Londres e Moscou. Assim, pelo menos por quatro anos, a Guerra Fria – já em desenvolvimento nas esferas diplomática e política – seria adiada no campo de batalha olímpico. A partir de Helsinque 1952, o mundo esportivo passaria a presenciar a disputa ferrenha pelas medalhas entre as duas superpotências que emergiram dos escombros da guerra.

(O texto é parte do capítulo 11 do livro JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA, disponível neste link.)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Paulinho Oliveira

Jornalista (MTb 01661-CE), formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2004.Escritor, com duas obras publicadas: GUERREIROS DE SANTA MARIA (Fortaleza, Premius Editorial, 2013, ISBN 9788579243028) e JOGOS POLÍTICOS DA ERA MODERNA (Fortaleza, publicação independente, 2020, ASIN B086DKCYBJ).

Como citar

OLIVEIRA, Paulinho. Uma nova chance para uma Londres aos escombros. Ludopédio, São Paulo, v. 142, n. 60, 2021.
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