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Uma última dança para Lionel Messi

Lucas Costa Universidade do Esporte 12 de setembro de 2020

Chegou o momento com o qual o torcedor culé sempre teve pesadelo, mas sabia que um dia bateria à porta, pois o passar do tempo é inevitável: a última temporada de seu camisa 10 e maior jogador. Porém, diferente do que se esperava, no final, o argentino não pendurará suas chuteiras, mas somente sua eterna camisa grená. Um misto de emoções invadiram o coração dos amantes do futebol de “La Pulga” com sua declaração afirmando que gostaria de deixar o clube neste momento. No entanto, por questões contratuais isso não é possível, o que o obriga a cumprir seu último ano de contrato.

Os motivos que levaram Lionel a tomar essa decisão estão longe de ser falta de amor ao clube que lhe deu tudo, e sim por uma péssima gestão da diretoria do Barcelona, em especial de seu presidente Josep Maria Bartomeu. Uma série de erros que começou na saída de Neymar e culminou na eliminação vexatória para o Bayern de Munique por 8 a 2.

O time catalão gastou rios de dinheiro para achar um substituto para o brasileiro. Dembelé, Griezmann, Coutinho, nenhum se encaixou e formou uma dupla extraordinária com Messi para colocar o Barça no topo da Europa novamente. Somem a isso as duras eliminações nas Champions League para Roma, Liverpool e esta última contra o Bayern, a falta de um futebol forte e imponente como o do Barça de Guardiola e outras questões, como o embate com Abidal.

Messi comemora gol contra o Valencia, em partida válida pelo Campeonato Espanhol 2019/2020. Foto: Divulgação/FCB.

Enquanto Abidal estava como secretário-técnico da equipe, falou para o jornal catalão Sport que alguns jogadores estavam insatisfeitos e não estavam trabalhando muito, quando o Barça ainda era comandado por Ernesto Valverde. Em post no Instagram, Messi questionou o ex-companheiro e pediu para dar nomes aos “bois” e que cada um tomasse conta das suas tarefas sem querer interferir no que está fora de seu controle.

Derrotas, eliminações, atritos internos, promessas não cumpridas, tudo isso foi desgastando Messi até o ponto em que o craque não aguentou. Muitos criticaram a decisão dele querer sair, que um capitão não pode abandonar um navio, mas ora ele, acima de tudo, é um jogador profissional, sedento por títulos e prêmios, estaria errado em ir para onde possa conquistar isso?!

Certo ou não, uma coisa é óbvia, não poderia o último jogo dele pelo clube ser do jeito que estava se encaminhando para ser. Uma goleada para jamais esquecer com o melhor do mundo atônito em campo, derrotado, sem título algum. Logo ele que, desde quando se profissionalizou, virou uma máquina de ganhar títulos: com sua presença em campo, o Barça ganhou 34 nos últimos 15 anos.

Os primeiros passos em La Masia

O Barcelona brincou com a sorte, endureceu a negociação para levar o pequenino Lionel para suas categorias de base, pois uma das condições do acordo era pagar o tratamento de crescimento de Messi. No fim, o Barça aceitou e levou aquele jovem de apenas 13 anos que já assombrava as defesas adversárias na cidade de Rosário. Do vermelho e preto do Newell Old Boys para o grená do time catalão.

20 anos, esse é o tempo que Messi defende o Barcelona, desde setembro de 2000 quando viajou para a Espanha. O jovem gênio na base sempre foi tratado como uma joia rara, era esperado que fosse um grande jogador, contudo se tornou mais que isso.

8, 9, 10, 11, 14, 15, 16, todos esses números foram usados pelo futuro “ET” na famosa La Masia, base do Barça. Como muitas vezes o número que o jogador veste diz bastante sobre a capacidade dele, nada ilustra melhor Messi que todos esses, pois ele não é só um atacante, mas sim um jogador ofensivamente completo. Sua leitura e visão de jogo estão em um patamar tão alto quanto sua capacidade de finalizar.

Por toda essa qualidade, não demorou muito para o pequeno jogador se juntar aos profissionais. Com 16 anos e 5 meses, estreou no time principal, num amistoso contra o Porto, em 2005. Seu primeiro gol viria no ano seguinte, com uma troca de passes entre um gênio e outro. Ronaldinho reconheceu o talento de Messi assim que o viu, por isso não poderia ter sido de outra pessoa a primeira assistência para Lionel. Tempos depois, o Bruxo passaria o bastão do time para o argentino, sabendo que ficaria em boas mãos.

Ronaldinho Gaúcho durante partida entre Barcelona e Numancia, em outubro de 2004, válida pelo Campeonato Espanhol. Foto Wikipedia.

A ascensão de Messi ao topo do mundo é meteórica, logo se tornou titular na equipe e, quando Guardiola assumiu o comando do time, transformou-o no que conhecemos hoje. Fora de série, de outro planeta, gênio, monstro, tudo isso e muito mais é falado quando se tenta achar um adjetivo para o 10.

Nesses vários anos de casa, junto a companheiros extraordinários como Xavi, Iniesta, Neymar, Suárez, renderam a Messi mais de 10 taças de La Liga, quatro Champions League e muitas outras copas, uma relação vitoriosa e gloriosa entre clube e jogador.

Messi não deve mais nada ao Barcelona, sempre entregou seu máximo com a qualidade extraordinária, não à toa é o maior artilheiro de todos os tempos do time, capitão e referência técnica da equipe. Porém, o inimaginável está para acontecer, ver o argentino vestindo a camisa de outro clube europeu, não porque cansou do clube, mas por falta de uma administração que criasse um time competitivo. No fim, quem mais sofre é o torcedor culé, que vê um dos seus maiores ídolos – se não o maior – ir embora por descaso da diretoria.

Por tudo isso, a próxima temporada europeia que se aproxima vai ser especial, pois provavelmente seja a última do casamento Lionel e Barça. Cada partida finalizada dará um aperto no coração do torcedor, pois sabe que ao fim dos 90 minutos, a despedida se aproxima. Todo jogo terá um gostinho diferente, cada domínio de bola e arrancada de Messi será admirada e degustada com muito prazer, será um ano inesquecível.

O torcedor do Barça já se pergunta quem castigará o Real Madrid no Bernabéu, quem fará gols driblando toda a defesa adversária, quem marcará gols de falta que parecem ser cobradas com a mão, quem vestirá a 10?

Por uma última vez, Messi entrará em campo sendo um dos Blaugranas, o mundo estará de olho em cada movimento do ET, apreciem a genialidade do homem enquanto podem, pois depois será história.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Lucas Costa

Potiguar, estudante de Jornalismo pela UFRN, aspirante a repórter, apaixonado por táticas ofensivas, mas amante de certas "retrancas".

Como citar

COSTA, Lucas. Uma última dança para Lionel Messi. Ludopédio, São Paulo, v. 135, n. 28, 2020.
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