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Vitórias, Romário, Futebol Feminino em horário nobre e interrupção para propaganda política

Luciane de Castro 25 de outubro de 2011

Terça-feira, 18/10: Nossa seleção feminina estreou no Pan com vitória sobre a Argentina. Mais que comprovar a superioridade técnica, a estreia com vitória sobre as hermanas, dá a confiança necessária às meninas que tem a Costa Rica (para mim uma incógnita) como próximo adversário, e o Canadá de Sinclair como último adversário na fase de grupos. Este, o Canadá, que decepcionou no último Mundial, tende a ser o mais complicado dos adversários. Aguardemos.

Na vitória já esperada, pelo menos por mim, vale destacar as atuações impecáveis de Formiga e Bagé. Como sempre, a volante e a zagueira central deram a devida consistência e segurança no meio de campo e na defesa, respectivamente, impossibilitando as parcas e mal organizadas chegadas argentinas.

Formiga se prepara para tentar roubar a bola da argentina. Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM.

Thaís Guedes e Danielle marcaram e cabia mais, não fosse a desacelerada no segundo tempo por conta de uma alteração que prejudicou o meio de campo e o aproveitamento de Thaís na frente. De qualquer maneira, estrear com vitória e sem levar gols – ao contrário do Canadá que sofreu um tento da Costa Rica – é importante para a confiança e estabilidade do grupo.

É importante também falar sobre os comentários de Romário na transmissão da Record. Se por um lado o Baixinho mostrou não estar nada familiarizado com o futebol das meninas, pelo menos foi certeiro ao observar as boleiras e suas posturas em campo, assim como o esquema tático de Kleiton e por onde aproveitar as jogadas.

Romário na transmissão da TV Record. Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM.

E claro, como não tem conhecimento de como as coisas acontecem no universo feminino da bola, pregou o tempo todo uma “rivalidade e respeito” que, apesar das camisas, não traduzem muito a realidade e o significado de “rivalidade e respeito” que se tem pelas norte-americanas, por exemplo. Caso as estadunidenses estivessem nesta competição, acredito que teríamos chances de ver uma queda de braço e uma revanche por conta da eliminação brasileira no Mundial da Alemanha.

A presença de Romário nos comentários dos jogos de futebol no Pan, segue o padrão “nome de peso” e não necessariamente o atendimento às necessidades do futebol feminino que pela primeira vez ganha destaque em horário nobre e numa rede de tv aberta. Pelo menos algo a ser louvado e agradecido, apesar do público pífio que compareceu ao Estádio Ominilife.

Quinta-feira, 20/10: Ratificando sua superioridade técnica, a seleção brasileira vence a Costa Rica por 2 a 1 com excelente atuação de Formiga, Thaís Guedes e Debinha que entrou pra colocar fogo no jogo. Teve sainha da Rosana, caneta da Debinha que arrancou risos da auxiliar, Bagé incansável (como bem destacou Romário) e um comportamento geral muito distinto do jogo contra a Argentina. Destaque da Costa Rica ficou por conta da goleira Arroyo, que permaneceu em campo mesmo com dores e fez boas defesas. Mais uma vez Bárbara foi pouco acionada e na ocasião do gol costariquenho, não teria como defender, já que o tento surgiu de uma cobrança de falta perfeita da capitã e número 10, Shirley Cruz. Bola no ângulo!

Thaís Guedes em disputa de bola com a jogadora da Costa Rica. Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM.

Romário na minha opinião saiu-se melhor nesta segunda partida como comentarista do futebol das meninas. Parece ter buscado mais informações.

Mas o “melhor” da noite foi a interrupção do jogo para exibição de propaganda eleitoral obrigatória e gratuita. Não bastasse o fato de interromper o jogo das meninas para uma das mais medíocres imposições de nossas autoridades, o aspecto central da propaganda era a defesa do Ministro do Esporte, Orlando Silva, que vem sendo objeto de acusações de corrupção dentro da pasta.

Independente da situação do ministro, o que não pode acontecer em momento tão importante para o futebol feminino, é termos 10 minutos de ausência de imagem da TV ABERTA – e, portanto a que alcança um maior número de cidadãos no país – para contemplar questões políticas ainda não esclarecidas, ou seja, objeto de investigação.

O ministro dos Esportes, Orlando Silva, fala durante audiência pública no senado, sobre as denúncias publicadas pela imprensa segundo a qual a cobrança de propina relativa ao programa Segundo Tempo, em convênios com diversas organizações não governamentais. Foto: Jose Cruz/Agência Brasil.

Há explicação para o fato: segundo informação que levantei, o PCdoB chegou a abrir mão do direito de exibição da propaganda naquele horário, mas o TRE não autorizou e seguiu firme na obrigatoriedade de veiculação da peça.

Quem perdeu? Eu (mesmo com internet e com outras fontes de imagens para seguir o jogo, me recusei) e uma grande parte da população que não tem computador e tampouco internet em seus lares.

Gostaria, para o bem do meu estômago que sentiu imediatamente os efeitos de ato tão discriminatório – será que se fosse jogo dos meninos do Brasil, a exibição seria interrompida obrigatoriamente? – que este tipo de coisa não se repetisse.

Se há algo de errado na pasta administrada por Orlando Silva, que se apure. E se houver mesmo irregularidades, que os culpados, os criminosos que se utilizam do nosso rico e suado dinheirinho para fins próprios, sejam punidos…mas, precisa mesmo roubar o espaço que batalhamos tanto para conquistar?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Lu Castro

Jornalista especializada em futebol feminino. É colaboradora do Portal Vermelho e é parceira do Sesc na produção de cultura esportiva.

Como citar

CASTRO, Luciane de. Vitórias, Romário, Futebol Feminino em horário nobre e interrupção para propaganda política. Ludopédio, São Paulo, v. 28, n. 6, 2011.
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