Whisky brasileiro, Jules Rimet e Obdulio Varela: bastidores do Maracanazo 1950
A Copa do Mundo de 1950 é um marco inovador para a história do futebol e também da sociedade como um todo. Não é novidade que o torneio que marcou o fim do intervalo de 12 anos (Segunda Guerra Mundial) sem futebol entre seleções é repleto de curiosidades. Trazida na obra de Luciano Wernicke (Histórias insólitas dos Mundiais), contarei sobre os bastidores do Maracanazo envolvendo Jules Rimet, Obdulio Varela e Whiskys em São Paulo.
Entretanto, após o Uruguai ser campeão em 30 e Itália em 38, era de imaginar que o terceiro anfitrião levaria o troféu. Favorito na Copa de 1950, o Brasil fez por merecer tal rótulo. Após golear a Espanha (6-1) e Suécia (7-1), os brasileiros reencontrariam a Celeste Olímpica, na qual já haviam vencido por 3 a 2 em amistoso pré Mundial. Como já sabemos, o cenário era todo em favor dos mandantes, com um estádio abrigando mais de 200 mil pessoas e o artilheiro da edição, Ademir ( gols).

Whisky brasileiro
Apesar disso, um dos fatores inéditos de bastidores, revelam como se acirrou a rivalidade entre Brasil e Uruguai para a final. Antes do “Maracanazo”, a delegação uruguaia foi convidada para uma festa no dia 13 de julho, em São Paulo. O intuito era celebrar o triunfo sobre a Suécia (3-2), jogado naquele mesmo dia. A história de Wernicke revela que um grande salão foi reservado para os uruguaios que receberam “passe livre” para festejarem. Os garçons brasileiros receberam-os com Whisky e o que era um agrado, logo foi visto como algo maléfico.
Aos olhos de Obdulio Varela, capitão do esquadrão uruguaio, os brasileiros tinham a intenção de embriagar sua equipe dias antes da decisão (dia 16). Insatisfeito com a “farra”, Varela interrompeu a festa e disse: “Señores! O se termina el Whisky, o nosotros nos volvemos a Montevideo”.
Sendo assim, seus companheiros de time recusaram a bebida escocesa a partir dali e saborearam apenas refrigerantes e sucos de fruta. Entretanto nunca foi comprovado se havia interferência do time brasileiro ali, porém aquela noite próxima do Pacaembu evitou um possível mal-estar dos finalistas já campeões do mundo.
Jules Rimet

Franco favorito ao título, o Brasil era só festa com a primeira final. Com sua torcida pioneira em levar fogos de artifício e instrumentos musicais aos estádios, o seleto uruguaio era desprezado até pelo presidente da FIFA, Jules Rimet. Ao elaborar o discurso para o vencedor da Copa, Rimet que era francês, só preparou sua fala em português. Tal gesto enfureceu a imprensa uruguaia, pois ao final da partida, o presidente não discursou, apenas entregou a taça para Varela.
Assim, Wernicke revela em seu livro, que Rimet sequer falou uma palavra após o fim da partida. O francês que tinha estreita amizade com a delegação brasileira, assistiu a partida nas tribunas junto dos mesmos. Como forma de provocação, jornais uruguaios estamparam inúmeras edições no dia seguinte dizendo que o melhor futebol da América do Sul era do outro lado do Rio da Prata.
Obdulio Varela
Ícone e grande líder do plantel uruguaio de 1950, Obdulio Varela presenciou um triste momento logo após ser campeão mundial. Representante do time, o capitão recebeu de seus dirigentes, medalhas de prata, enquanto os mesmos ficaram com as de ouro. Enfurecido na volta para Montevidéu, Varela reclamou: “Se nós soubéssemos, perderíamos de propósito”. Grande goleador do time, Ghiggia – autor do gol do título – também ficou inconformado e assim disse: “Eu asseguro. Teria caído fora”.
Portanto o Mundial mais importante para o futebol do século XX teve tais situações inéditas. Entretanto, a edição foi considerada um sucesso e renovou fôlego para a FIFA promover novas edições. A partir deste período os meios de comunicação se renovariam por completo e aos poucos, seleções de todo o mundo se interessariam mais pela competição.
