Este estudo teve por objetivo investigar o movimento que permitiu a formação das torcidas de futebol na cidade de Belo Horizonte-MG, e como estas se constituíram em prática de divertimento. Para tanto, o período delimitado para a investigação abrangeu os anos de 1904 a 1930, por este abrigar desde as primeiras manifestações da prática do futebol na cidade até a sua consolidação. Por representar uma investigação historiográfica, o estudo fundamentou-se metodologicamente em dois aportes teóricos centrais: a História Cultural, particularmente a noção de representação, desenvolvida por Roger Chartier, e a Micro-História, notadamente o conceito de paradigma indiciário descrito por Carlo Ginzburg. Neste sentido, as fontes de pesquisa privilegiaram os periódicos. Assim, foram utilizados jornais e revistas da época, que possibilitaram a tessitura da trama proposta, em permanente diálogo com a bibliografia, que abarcou principalmente a História do Futebol, os Estudos do Lazer e a História da cidade de Belo Horizonte. Os indícios apontam para a identificação de três momentos singularmente pontuais: o primeiro, entre os anos de 1904 e 1915, marcado pela presença de uma assistência fidalga e aristocrática, sendo percebido uma vinculação afetiva pouco significativa com os clubes de futebol, com raras exceções. No momento posterior, a crescente popularização do futebol inaugura uma nova postura dos assistentes, com características mais evidentes de torcedores, onde a paixão clubística começa a se constituir. E finalmente, a consolidação da lógica de torcida/torcedor, com o aumento sistemático dos sururús, de rivalidades instituídas, do incremento do espetáculo esportivo, com a inauguração de novos e adequados estádios, da tentativa de um controle sobre o torcer e da apropriação desta prática pela dinâmica social, que enxerga na paixão e no pertencimento clubísticos uma nova forma de obter lucro e renda.