A presente dissertação estuda as “artes da resistência” dos pobres na cidade de Parnaíba, Piauí, entre os anos de 1890 a 1920. No primeiro capítulo, abordamos dimensões da história de Parnaíba, quando se percebe a busca por um padrão de cidade inspirado no modelo urbano europeu, traduzido nas obras de “infraestrutura do progresso”, situando aí tensões entre os dominantes e os subalternos. O segundo capítulo discute o cotidiano e a moradia dos pobres na busca da sobrevivência nos arrabaldes insalubres da cidade, um “labirinto de palhoças e casebres”, por vezes alcançado pelas cheias do rio Igaraçu. O terceiro capítulo situa socialmente a doença e os modos de isolamento, demonstrando que determinadas enfermidades acometiam uma parcela específica da sociedade parnaibana: os trabalhadores pobres. Para tal, consideramos essencial compreender o discurso higienista, consoante às teorias vigentes no período. O quarto capítulo estuda as práticas de instrução aos pobres em Parnaíba, em torno do combate ao analfabetismo e ao desejo de corrigir posturas destoantes ao ideário do progresso e da modernidade. São escolas públicas ou particulares, onde o professor se esforça para ensinar, geralmente em algum precário cômodo de sua própria casa. São escolas católicas, onde se predica o temor a Deus. São as escolas noturnas das Associações mutualistas, onde ensinam ofícios vários e os princípios da moral operária. É na Escola de Aprendizes Marinheiros, onde a promessa de vida melhor se desfaz ante sua precariedade e a rígida disciplina militar. No quinto capítulo são analisadas as festas populares, cívicas e religiosas, o carnaval e o futebol em Parnaíba, momentos em que os trabalhadores pobres festejam nas novenas, nos batuques, ou quando o time do bairro vence o “jogo de bola”, despertando quase sempre o olhar vigilante e moralizador das diversas instâncias de poder e controle.