Objetivo: A criatividade pode ser considerada como um fenómeno inesperado que vai para além daquilo que normalmente o atleta consegue fazer no contexto da sua performance desportiva. Deste modo, vários autores indicam que é necessário aprofundar os processos que estão subjacentes ao fenómeno da criatividade no desporto, nomeadamente: inteligência, perceção, atenção, memória, entre outros fatores (e.g., Samulski et al., 2001; Memmert, 2014; Furley & Memmert, 2015). Posto isto, este estudo teve como objetivo principal analisar a perceção da criatividade de jovens jogadores e dos treinadores de Futebol 11. Metodologia: A amostra dos treinadores de Futebol 11 abrangeu 34 participantes com 28,06 ± 3,7 anos. Destes, 22 participantes eram treinadores principais e 12 participantes eram treinadores adjuntos dos escalões Sub-15 (Iniciados) e Sub-19 (Juniores), isto no decorrer da época desportiva: 2014/2015. Por seu lado, a amostra dos atletas abarcou 118 jovens jogadores de Futebol 11 (com idades compreendidas entre os 15 e 19 anos), pertencentes aos escalões Sub-15 e Sub-19, incluídos na época desportiva: 2014/2015. Para investigar a perceção da criatividade dos treinadores e dos atletas, foi utilizado o questionário intitulado: “Criatividade nos Jogos Desportivos”, desenvolvido por Roth e Raab (1998), posteriormente adaptado e validado para a língua Portuguesa por Samulski e Noce (1998), Samulski, Noce e Costa (2006) e Lapa (2010). Além disso, a performance dos atletas foi filmada ao longo de uma semana de treinos, i.e., para mensurar o comportamento criativo que foi avaliado por 34 treinadores de Futebol. Resultados: De acordo com a perceção dos atletas, os resultados deste estudo mostram que um jogador criativo é “imprevisível”, “inteligente dentro do campo” e é capaz de “inventar soluções/jogadas. Além disso, os dados indicam que um atleta criativo possui caraterísticas de ordem psicológica que o distingue da maioria dos seus pares. Por seu lado, ao nível da perceção dos treinadores, os resultados demonstram que um jogador criativo tem a capacidade de “pensar de forma diferente” dos seus colegas, ou seja, inventando “soluções técnicas e táticas”, as quais permitam “moldar a estrutura do jogo a favor da equipa”. Neste seguimento, os treinadores defendem também que um jogador pode vir a ser criativo, mesmo que não tenha predisposição genética para tal, isto se o processo de treino o afinar e calibrar para esta “capacidade”. Discussão: Os resultados deste estudo vão ao encontro de Memmert e Roth (2007) e Memmert (2011, 2014), quando defendem que os jogadores criativos são atletas originais, eficazes e imprevisíveis no contexto das suas decisões e ações. Além disso, os nossos resultados também corroboram as conclusões dos estudos de Samulski et al. (2001) e Furley e Memmert (2015), onde se constata que o ato criativo no desporto é um fenómeno multidimensional que resulta da confluência de variáveis de ordem cognitiva, “ambiental” e da personalidade do atleta, as quais influem, diretamente, no comportamento criativo dos atletas e, consequentemente, no desempenho da equipa. Perante estes argumentos, urge compreender melhor os processos que suportam a criatividade no Futebol, nomeadamente: inteligência, perceção, atenção, conhecimento e memória (Sternberg, 2000, Samulski et al., 2001; Runco & Albert, 2010 e Amabile & Pillemer, 2012). Conclusão: Conclui-se que os jogadores criativos absorvem, mais facilmente, as informações contextuais provenientes do meio envolvente, usando-as, assim, para responder adequadamente às dificuldades impostas pelo adversário ou pelas situações do jogo. Finalmente, os jogadores criativos possuem um potencial nível de “inteligência” mais refinado, assim como, também, capacidades percetivas mais eficientes e um reconhecimento mais rápido das ações do jogo.
Palavras-chave: Futebol; Criatividade; Perceção; Atleta; Treinador.