Com a confirmação da Copa do Mundo de Futebol em 2014 no Brasil, o Estado brasileiro investiu massivamente na execução de numerosas obras viárias nas doze cidades-sedes, sob a justificativa de requalificar o setor da mobilidade urbana, o qual consistiria no maior “legado” deixado por este megaevento esportivo no país. Essas intervenções, em sua maioria ainda em curso, não surgiram exclusivamente com o evento, mas a Copa tornou-se a razão pela qual estas obras fossem aceleradas e/ou executadas. Apesar dos investimentos captados pelo governo federal através da Matriz de Responsabilidades da Copa e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), as obras de mobilidade urbana se restringiram às readequações viárias no entorno das arenas esportivas das cidades-sedes brasileiras. Ou seja, o suposto “legado” consistiu em intervenções viárias territorialmente concentradas, cuja relação custo-benefício foi amplamente questionada nesta tese com base nos estudos que debatem o urbano sob uma perspectiva crítica e a partir do que se analisou na metrópole de Fortaleza. As obras de mobilidade urbana dos PACs da Copa e da Mobilidade Urbana em Fortaleza foram bastante expressivas e ocasionaram profundos impactos socioespaciais com a intensificação da valorização imobiliária e com a remoção forçada de milhares de famílias que resistiram e ainda resistem às desapropriações através de movimentos sociais organizados. Apesar das melhorias que ocorreram no setor da mobilidade urbana em Fortaleza, muitas intervenções realizadas pelos governos estadual e municipal caminham na direção contrária de uma mobilidade inclusiva, pois são obras viárias que priorizam a circulação de automóveis, os quais necessitam de mais vias para trafegarem, alimentando um círculo vicioso predatório. Os impactos da crise da mobilidade causados pelo grande volume de automóveis em circulação provocam a expansão constante do espaço viário para atendê-los, acentuando as desigualdades socioespaciais existentes, como ocorre em Fortaleza. Isto se dá em razão do processo de destruição criativa e reestruturação urbana do sistema viário, que fragmenta ainda mais o território e impulsiona a valorização imobiliária desta metrópole, promovendo a desapropriação de moradores de áreas pobres, seja por meio da expulsão forçada, seja pelo encarecimento da terra urbana. Assim, embora a pauta da mobilidade esteja presente nas ações das políticas urbanas em âmbito municipal, estadual e federal, seu sentido social e potencial coletivo são neutralizados perante a imponência do seu conteúdo estético de natureza efêmera, aparente e mítica, cujo principal efeito consiste na valorização do solo urbano, ao invés de assegurar que a acessibilidade urbana seja realizada por meio da criação e requalificação de seus equipamentos urbanos de mobilidade.