O objetivo do presente texto é analisar o retrato de Garrincha na crônica esportiva de Carlos Drummond de Andrade, a partir da tensa relação entre o êxito nacional e o mal-estar na civilização. Garrincha é considerado um dos maiores jogadores da história do futebol tanto no cenário nacional quanto no cenário internacional. Tornou-se notável pela habilidade de seus dribles desconcertantes, mesmo tendo pernas tortas. Atuou profissionalmente entre as décadas de 1950 e 1970, período correspondente ao início da profissionalização do futebol no Brasil. Durante a carreira, jogou pela seleção brasileira e em diversos clubes, cuja passagem mais duradoura foi no Botafogo de Futebol e Regatas. O jogador faleceu aos 60 anos, vítima do alcoolismo. Portanto, a escolha desse jogador e da crônica em foco não é por acaso. Carlos Drummond é um dos grandes literatos que dedicaram alguns de seus textos ao futebol, tratando mais da poética atrelada ao esporte, do que propriamente dos sistemas técnicos e táticos do jogo. Garrincha, por sua vez, é o atleta que não valoriza esquemas táticos ou treinamentos físicos; e, principalmente, ao mesmo tempo em que Garrincha fazia sucesso dentro de campo, fora dele era um brasileiro comum, que enfrentava uma série de adversidades pessoais. O que se pode inferir é que há uma exaltação à memória de Garrincha, particularmente pelo fato de haver um mal-estar civilizacional, do qual também sofria o craque – muito embora, dentro de campo, fosse quase insuperável.
Palavras-chave: Futebol. Literatura. Memória. Mal-Estar na Civilização.