Estes escritos buscam compreender como a partilha de acervos pessoais de imagens potencializam a produção de constelações de memórias, promovem narrativas de si e sentimentos de pertença. Partindo da vizinhança do Poço da Draga em Fortaleza, caso exemplar de resistência a tentativas recorrentes de remoção, essa tese mapeia algumas de suas contumazes práticas de imagens efetuadas por seus moradores através de velhos álbuns de família, documentários, visitas guiadas e partilhas de conteúdos por dispositivos móveis. Chamamos comunidade visível, por um lado, apenas aquilo que seus narradores e suas maneiras de praticar fotografias nos deixam ver, mas é também, por outro, toda essa multiplicidade que faz ver e se dá a ver. Tomando o fazer antropológico como filosofia com gente dentro (INGOLD, 1992), desenvolvemos oficinas de fotografia e vídeo no Poço, de maneira a pensar coletivamente as práticas desses que chamamos “memorialistas de esquina”. Diante das incessantes ameaças de remoção da comunidade e de esgarçamento dos fios que tecem suas histórias, identificamos através de um compartilhado exercício etnográfico, o empenho desses narradores em seus “trabalhos da memória” (BOSI, 1994), sobretudo dos ex- jogadores do Brasileirinho, time de futebol local. A tese também mostra as práticas de imagem desses narradores em oposição à necropolítica (MBEMBE, 2018) operada contra as populações negras no Brasil e os considerados indesejáveis.
Palavras-chave: Antropologia. Memória. Imagem. Fotografia. Negritude.