Acompanha-se a operação de legitimação do futebol como objeto de investigação intelectual em Veneno remédio – o futebol e o Brasil, de José Miguel Wisnik. Correspondências com outros trabalhos de legitimação semelhantes, nos estudos literários e na crítica da música pop. Após uma discussão preliminar sobre a legitimação, o artigo segue três etapas: na primeira, caracteriza-se o antagonista contra o qual Wisnik legitima o futebol mediante o cotejo de proposições de Hannah Arendt, Gilles Lipovetski e René Girard; na segunda, através de aproximações com o universo pop, discute-se a ética da legitimação de Wisnik, que não denega os problemas levantados contra o futebol, absorvendo-os, mas requalificando-os, no seu trabalho de legitimação; na terceira, vê-se como Wisnik situa na análise das especificidades do futebol o caminho para uma analítica que não o soterre sob expectativas externas à sua própria lógica de acontecimento. Ao final, localiza-se em Wisnik a proposição de que o futebol expressa como futebol os problemas que o afligem, proposição aliada a uma recusa em estabilizar um padrão valorativo que retire o futebol do fluxo da cultura para congelá-lo nalguma posição hierárquica específica, seja ela baixa ou elevada.