O presente estudo tem como objetivo demonstrar como as relações de poder concebidas ao longo da constituição do mundo moderno refletem-se ainda a hoje na configuração das estruturas econômicas e sociais do Brasil, tendo como foco central o cenário do futebol. A partir de 1500, com a chegada dos portugueses às terras brasileira, será iniciado um intenso processo de colonização marcado por uma exploração econômica agressiva e uma dominação cultural segregacionista. As investidas lusitanas na colônia terão como prioridade os interesses da Coroa e dos centros de poder europeu, o que fará do Brasil um apêndice econômico para a produção de matéria-prima, escoamento de produtos e fornecimento de metais preciosos. Essa base econômica voltada aos interesses exteriores criou empecilhos ao desenvolvimento interno do país, cuja economia continua dependente dos países centrais europeus. Ainda, para consolidar o seu projeto de dominação colonial, a matriz portuguesa se utilizará de mecanismos de subjugação cultural, de forma a impor nas novas terras um padrão de vida eurocêntrico e a eliminar traços de manifestação social das populações não brancas (índios e negros) que comporão a sociedade brasileira. Essas ações colonialistas serão justificadas a partir de um falso discurso de modernidade e de conceitos de racialidade, que, enraizados na narrativa histórica mundial, repercutirão até a atualidade nas bases estruturais do país, concretizando um processo de colonialidade, ou seja, de dominação colonial que extrapola os marcos de independência política e territorial das nações colonizadas. A pesquisa busca trazer a íntima relação que o futebol, um ambiente que ultrapassa o âmbito desportivo e se torna um meio social no Brasil, teria com essas estruturas coloniais de poder. É proposta, ainda, uma busca pela decolonialidade desse esporte, que, sendo um espaço democrático, agregador das diferentes raças brasileiras, poderia ser utilizado como forma de reconhecimento identitário. No entanto, um projeto decolonial apenas seria possível se iniciado nas bases de formação das crianças no futebol, o que exige uma reflexão sobre a própria forma como as categorias de base estão sendo formadas no país.
Palavras-chave: Colonialismo. Colonialidade. Decolonialidade. Futebol. Formação infantil esportiva.