A contingência global produzida pela COVID-19 tem desorganizado os diferentes espaços, setores e atividades econômicas, políticas e sociais; o esporte não é exceção. Desde a suspensão de competições e eventos massivos; a transmissão de «novos»conteúdos de mídia; o adiamento dos jogos olímpicos; até a readaptação de espaços e rotinas de treinamento pelos atletas, têm sido algumas das mudanças que surgiram de forma emergente. Embora estejamos diante de um fenômeno global, é importante considerar que os efeitos para homens e mulheres não foram os mesmos. No caso mexicano, os efeitos da pandemia nas atletas se refletiram na incerteza quanto à manutenção de seus salários; a falta de recursos para a sua formação e a restrição de espaços e instalações desportivas. Além de tudo isso, no ambiente doméstico, concatenam as atividades esportivas com as tarefas domésticas e o cuidado do outro. Essa situação nos convida a refletir sobre as desigualdades estruturais do esporte em termos de gênero, bem como a configuração social do espaço (público e privado) e sua divisão sexual. Partindo desse contexto, nos perguntamos: quais foram as mudanças que os atletas enfrentaram com o isolamento e a restrição do uso de quadras, academias, salões e campos de treinamento? Como a pandemia modificou os modos de vida e a formação esportiva dos mulheres? Como as atletas femininas tornam o espaço doméstico um espaço de resistência? Como o confinamento foi capaz de afetar as atletas femininas e os homens de forma diferente? Para responder a essas questões, o texto tem como objetivo analisar os efeitos do confinamento e do «novo normal» na prática esportiva a partir de uma perspectiva de gênero, para identificar as relações de poder, subjetivação e desigualdade, evidenciadas pela pandemia. Como contribuição empírica, são resgatados depoimentos de atletas de modalidades como futebol e tiro esportivo, representantes de meios de comunicação e especialistas em esportes.
Palavras-chave: esporte; gênero; espaço social; mulheres; COVID-19.