Do moleque que joga bola na esquina do bairro, ao craque vendido no mercado mundial de pés-de-obra, circulando entre atletas das mais variadas delegações no Brasil e na França, esse livro segue os percalços surpreendentes da formação do futebolista. O autor procura entender o que atrai tantos jovens para essa arena altamente competitiva e desgastante. O enfoque comparativo acompanha uma análise que coloca em destaque não somente os processos globalizados do “futebol de espetáculo”, mas também as particularidades nacionais que, ampliando ou limitando o leque de alternativas, canaliza certos jovens para a carreira de esportista.
Cláudia Lee Fonseca antropóloga, professora da UFRGS.
Ao contrário do que se imagina seguidamente, para ser jogador profissional de futebol não basta talento. A formação de futebolistas é um processo extremamente competitivo: em torno de 5.000 horas de investimentos realizados diretamente no corpo, através de rotinas altamente disciplinadas, extenuantes e monótonas. Os dispositivos usados na produção de jogadores constituem-se numa série extensa e heteróclita de elementos, entre os quais se destacam os centros de formação, as técnicas de recrutamento de talentos precoces, as tecnologias de treinamentos, os especialistas as redes de agenciamentos e as normas legais, entre outros. Articulados a partir de lógicas distintas, tais dispositivos cumprem estrategicamente a função de prover o mercado de pés-de-obra, atendendo as demandas de times vinculados a clubes que, por seu turno, representam comunidades afetivas. Este livro explica a trama social e simbólica que constitui o poder de sedução da profissão de jogador. A partir de um detalhado estudo etnográfico, realizado no Brasil e na França, o livro explora as práticas dos agentes e das agências que gravitam no entorno de jovens em vias de converterem o dom em profissão.