Biblioteca

Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA
Tese

Do Olímpico à Arena

elitização, racismo e heterossexismo no currículo de masculinidade dos torcedores de estádio
Ano

2017

Faculdade/Universidade

Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Orientador(a)

Fernando Seffner

Tema

Tese

Área de concentração

Doutorado em Educação

Páginas

342

Arquivos

Resumo

Esta tese pretendeu discutir como o processo de elitização dos estádios de futebol, o chamado “caso Aranha” e certo retorno da Coligay atravessaram o currículo de masculinidade dos torcedores do Grêmio que frequentam estádio. Os estádios de futebol inserem os sujeitos torcedores em diferentes pedagogias culturais. A modernização dos espaços do torcer que vem ganhando andamento no Brasil, especialmente, a partir da década de 1990, foi catalisada com a realização da Copa do Mundo no País, em 2014. Com isso, diferentes olhares foram colocados para os estádios, os torcedores e suas práticas. Normativas vindas da FIFA e de federações nacionais têm colocado em questão práticas historicamente autorizadas nos estádios de futebol. Nessa investigação procurei observar como os torcedores do Grêmio foram interpelados por esses diferentes conteúdos ao realizarem um trânsito entre o estádio Olímpico Monumental e a Arena do Grêmio. Para a construção do material empírico realizei uma etnografia na Arena do Grêmio que me permitiu discutir como o sujeito coletivo ‘torcida do Grêmio’ recebeu esses diferentes movimentos. Além disso, observei alguns ditos individuais e de que maneira eles ressoaram ou não nesse espaço. Por fim, produzi um terceiro material através de diálogos com pequenos grupos de torcedores que me permitiram perguntar mais diretamente como estes indivíduos percebiam a elitização dos estádios, a interdição de cânticos e eventuais episódios de racismo e homofobia. Essa investigação dialoga com um vasto conjunto de trabalhos na área das Ciências Humanas e Sociais que problematizam diferentes aspectos do futebol como prática de lazer e esportiva, especialmente a partir da realização dos megaeventos esportivos no Brasil, Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016. Ao mesmo tempo inova ao analisar estes fenômenos a partir de categorias do campo da Educação, no viés dos Estudos Culturais, dos estudos de gênero e da sexualidade e numa perspectiva feminista e pósestruturalista. Em minha dissertação de mestrado (2009) procurei olhar para um currículo de masculinidade nos estádios de futebol. Voltei a olhar para o mesmo fenômeno com um afastamento temporal e espacial, uma vez que o clube em que realizei minha inserção etnográfica mudou de estádio, tendo no conceito de currículo uma centralidade analítica para examinar novamente os fenômenos que ocorrem nos estádios e o que eles poderiam me dizer sobre essas masculinidades construídas através das narrativas que ali circulam e disputam significados. É possível apontar que os torcedores se entendem em trânsito e percebem certa diferença nas formas adequadas de ocuparem o novo estádio sendo necessário algum tipo de adaptação. O processo de elitização acaba produzindo certa dicotomia entre o torcedor, representado como autêntico e popular, e o consumidor que seria alguém estranho ao estádio. A esse consumidor podem se somar outras alteridades do torcedor que poderiam incluir mulheres, crianças e homens mais velhos. Na Arena é possível visualizar uma relação em tensionamento entre o torcedor e a torcida. Ora as ações do torcedor são narradas a partir da pertença ao coletivo, ora o sujeito pode ser individualizado e a coletividade se esvazia. Ainda é muito cedo para saber o que acontecerá com esse currículo de masculinidade dos torcedores de estádio a partir da desnaturalização de algumas práticas. Agora, mais do que antes, há um jogo a ser jogado sobre as construções das masculinidades torcedoras nos estádios de futebol.

Palavras-chave: masculinidades – currículo – estádio – Coligay – Aranha.

Resumo (outro idioma)

Esta tesis pretendió discutir cómo el proceso de elitización de los estadios de fútbol, el llamado “caso Aranha” y cierto retorno de la Coligay, atravesaron el currículo de masculinidad de los hinchas de Gremio que frecuentan el estadio. Los estadios de fútbol insertan a los sujetos aficionados en diferentes pedagogías culturales. La modernización de los espacios del hincha que vienen ganando progreso en Brasil, especialmente a partir de la década de 1990, fue catalizada con la realización de la Copa del Mundo en el país. Con eso, diferentes miradas fueron colocadas para los estadios, los hinchas y sus prácticas. Normativas de la FIFA y de las federaciones nacionales han puesto en cuestión prácticas históricamente autorizadas en los estadios de fútbol. En esta investigación intenté observar cómo los hinchas de Gremio fueron interpelados por esos diferentes contenidos al realizar un tránsito entre el estadio Olímpico Monumental y la Arena de Gremio. Para la construcción del material empírico realicé una etnografía en la Arena de Gremio que me permitió discutir cómo el sujeto colectivo ‘la hinchada de Gremio’ recibió estos diferentes movimientos. Además, observé algunos dichos individuales y de qué manera ellos resonaron o no en ese espacio. Por fin, produje un tercer material a través de diálogos con pequeños grupos de hinchas que me permitieron cuestionar más directamente cómo estos individuos percibían la elitización de los estadios, la prohibición de cánticos y eventuales episodios de racismo y homofobia. Esta investigación dialoga con un vasto conjunto de trabajos en el área de Ciencias Humanas y Sociales que problematizan diferentes aspectos del fútbol como práctica de ocio y deportiva, especialmente a partir de la realización de los megaeventos deportivos en Brasil, la Copa del Mundo de 2014 y los Juegos Olímpicos de 2016. Al mismo tiempo innova al analizar estos fenómenos a partir de categorías del campo de la Educación, en el sesgo de los Estudios Culturales, de los estudios de género y de la sexualidad y en una perspectiva feminista y post-estructuralista. En mi disertación de maestría (2009) busqué mirar para un currículo de masculinidad en los estadios de fútbol. Volví a observar el mismo fenómeno con un alejamiento temporal y espacial, una vez que el club en que realicé mi inserción etnográfica cambió de estadio, teniendo en el concepto de currículo una centralidad analítica para examinar nuevamente los fenómenos que ocurren en los estadios y lo que éstos podrían decirme sobre esas masculinidades construidas a través de las narrativas que allí circulan y disputan significados. Es posible apuntar que los hinchas se entienden en tránsito y perciben cierta diferencia en las formas adecuadas para ocupar el nuevo estadio siendo necesario algún tipo de adaptación. El proceso de elitización termina produciendo cierta dicotomía entre el hincha –representado como auténtico y popular– y el consumidor que sería alguien extraño al estadio. A ese consumidor pueden sumarse otras alteridades del hincha que podrían incluir a mujeres, niños y hombres mayores. En la Arena es posible visualizar una relación de tensión entre el hincha y la hinchada. Las acciones del hincha son narradas a partir de la pertenencia al colectivo, o el sujeto puede ser individualizado y la colectividad se vacía. Es muy pronto para saber lo que sucederá con este currículo de masculinidad de los hinchas en los estadios a partir de la desnaturalización de algunas prácticas. Ahora, más que antes, hay un juego a ser jugado sobre las construcciones de las masculinidades de los hinchas en los estadios de fútbol.

Palabras clave: masculinidades – currículo – estadio – Coligay – Aranha.

Abstract

This thesis intended to discuss how the elitization process of the football stadiums, the so called “Aranha Case” and a certain return of the Coligay crossed the Grêmio fans’ masculinity curriculum of those who go to the stadium. The football stadiums insert the fan individuals in different cultural pedagogies. The modernization of the fan’s spaces which has been getting progress in Brazil, especially from the 1990s, was catalyzed with the realization of the World Cup in the Country, in 2014. Hence, different viewpoints were placed for the stadiums, for the fans and their practices. Normative rulings coming from FIFA and from national federations have been calling into question practices historically authorized in the football stadiums. In this investigation, I tried to observe how the Grêmio fans were challenged for these different contents when they performed a transit from the Olímpico Monumental Stadium to the Grêmio Arena. For the construction of the empirical material, I have done ethnography at the Grêmio Arena which allowed me to discuss how the collective subject ‘Grêmio Crowd’ received these different movements. Besides, I observed some individual sayings and how they resounded, or not, in this space. At last, I produced a third material through dialogs with small groups of fans which allowed me to question more directly how these individuals perceived the elitization of the stadiums, the interdiction of singings and eventual episodes of racism and homophobia. This investigation dialogs with a vast set of works in the area of Human Sciences and Social Sciences which discuss different aspects of football as leisure and sportive practices, especially from the realization of the mega sports events in Brazil, the World Cup of 2014 and Olympic Games of 2016. At the same time it innovates as it analyzes these phenomena from categories of the Education field, within the Cultural Studies, the gender and sexuality studies under a feminist and post-structuralist perspective. In my MA dissertation (2009) I tried to look at a curriculum of masculinity in the football stadiums. I now look at the same phenomenon, but with a temporal and spatial estrangement, once the club when I realized my ethnographic insertion moved to another stadium, having in the curriculum concept an analytical centrality to again examine the phenomena which occur in the stadiums and what they could tell me about these masculinities constructed through the narratives that circulate in such spaces and how they dispute significance. It is possible to point out that the fans understand each other in transit and that they perceive certain difference in the adequate ways of occupying the new stadium which makes necessary some kind of adaptation. The process of elitization ends up producing certain dichotomy between the fan, represented as authentic and popular, and the consumer, who would be someone strange to the stadium. To this consumer other fan’s alterities can be added, which could include women, children and older men. At the Arena it is possible to visualize a relation in tensioning between the fan and the crowd. Sometimes the fan’s actions are narrated from the collective allegiance, sometimes the subject can be individualized and the collectiveness empties out. It is still too early to know what will happen with this stadium fan’s masculinity curriculum from the denaturalization of some practices. Now, more than ever, there is a game to be played about the constructions of the fan masculinities in the football stadiums.

Keywords: masculinities – curriculum – stadium – Coligay – Aranha.

Sumário

1 DO OLÍMPICO À ARENA: UM NOVO ESTÁDIO E A RECONFIGURAÇÃO DE UM CURRÍCULO DE MASCULINIDADES NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL, 15
1.1 Inauguração da Arena do Grêmio e algumas pautas dos mediadores especializados, 20
1.2 Potencialidades do futebol para pensar, 26
1.3 Um currículo de masculinidade ou um currículo de torcedor de futebol, 34
1.4 Uma tentativa de delimitação: diferentes atravessamentos colocando em questão um currículo de masculinidades dos torcedores de estádio, 41

2 ESTÁDIOS DE FUTEBOL E A PRODUÇÃO DE TORCEDORES E DE MASCULINIDADES, 51
2.1 Estádios ‘Padrão FIFA’ e seu Caderno de Encargos, 68
2.2 A Copa do Mundo de 2014, seus estádios e o seu público, 71
2.3 Do Olímpico à Arena: torcedores em trânsito, 92

3 APORTES TEÓRICOS E METODOLÓGICOS: PERSPECTIVAS, CONCEITOS E CAMINHOS DE INVESTIGAÇÃO, 115
3.1 Esportes e a construção de masculinidades, 127
3.2 Currículos de masculinidades nos estádios de futebol, 141
3.3 Linguagem, sujeito, interpelação e algumas disputas dentro da torcida, 147
3.4 Estratégias metodológicas: análise cultural, etnografia e diálogos com pequenos grupos de torcedores, 156

4 CONTEÚDOS SOB NOVO RELEVO: MASCULINIDADE, RACISMO E HOMOFOBIA ENTRE O LEGÍTIMO E O ILEGÍTIMO, 174
4.1 Manifestações naturalizadas nos estádios de futebol em questão, 195

5 O ‘CASO ARANHA’ E A INTERDIÇÃO DE MANIFESTAÇÕES VERBAIS NA ARENA DO GRÊMIO, 212
5.1 Como os torcedores interpretam o ‘caso Aranha’, 227
5.2 A rivalidade Gre-Nal como autorização para o uso do termo ‘macaco’ na torcida do Grêmio , 247

6 AS MANIFESTAÇÕES TORCEDORAS COLOCADAS EM QUESTÃO: PERMISSIVIDADES E INTERDIÇÕES, 266
6.1 O ‘retorno’ da Coligay e sua presença na memória dos torcedores do Grêmio, 274

7 DO OLÍMPICO À ARENA: ELITIZAÇÃO, RACISMO E HETEROSSEXISMO NO CURRÍCULO DE MASCULINIDADE DOS TORCEDORES DE ESTÁDIO, 304
7.1 Torcedores em trânsito, elitização e a relação torcedor e torcida, 306
7.2 Reificações, aproximações, rompimentos e resistências com um currículo de masculinidade encontrado nos antigos estádios, 310
7.3 Um enfrentamento entre nós, torcedores de futebol, e eles, os de fora, 313
7.4 Como o ‘caso Aranha’ e certo retorno da Coligay atravessaram o currículo de masculinidade dos torcedores do Grêmio, 315

REFERÊNCIAS, 323

APÊNDICE, 341

Referência

BANDEIRA, Gustavo Andrada. Do Olímpico à Arena: elitização, racismo e heterossexismo no currículo de masculinidade dos torcedores de estádio. 2017. 342 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.
Ludopédio

Acompanhe nossa tabela do Campeonato Brasileiro - Série A