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Tese

Futebol, linguagem e mídia

entrada, ascensão e consolidação dos negros e mestiços no futebol brasileiro
Ano

2002

Faculdade/Universidade

Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Gama Filho

Tema

Tese

Área de concentração

Doutor em Educação Física

Páginas

129

Resumo

O objetivo deste estudo é descrever o processo de entrada, ascensão e consolidação dos negros e mestiços no futebol brasileiro, bem como analisar os mecanismos de sustentação do poder empreendidos por determinados grupos sociais. A partir da análise dos sentidos das metáforas veiculadas pela mídia, focaliza-se a construção dos significados produzidos e partilhados por ela, em relação às questões de identidade, linguagem e discriminação. O estudo prioriza as notícias veiculadas pelos jornais após as derrotas da seleção brasileira em Copas do Mundo e discute o papel da mídia na reprodução e construção do racismo no futebol brasileiro. O referencial teórico metodológico é o da etnometodologia, no que concerne à construção da realidade pelos agentes sociais. Em relação aos mecanismos de sustentação, utiliza-se a teoria das representações sociais. A unidade de análise neste trabalho é a subjetividade coletiva (universos de significados compartilhados) construída pela mídia esportiva brasileira. Foram analisadas as notícias veiculadas nas Copas do Mundo de Futebol de 1950, 1982, 1986, 1990 e 1998. Cinco jornalistas esportivos de evidência foram entrevistados: Luís Mendes, Sérgio Noronha, Tino Marcos, José Ilan, Carlos Gil e ainda o jogador Jair da Rosa Pinto, que disputou a final da Copa de 50. A conclusão é que o sentido construído socialmente para determinadas metáforas, como por exemplo – amarelão, sem fibra, sem raça, tremedor, acovardado, tem como foco a desclassificação do indivíduo, sobretudo, como ser humano e não apenas como atleta. Esse sentido desclassificatório dirige-se com mais ênfase a determinados grupos de jogadores, que em geral são negros ou mestiços. A hipótese sustentada é que existe no Brasil um tipo de discriminação que é reforçada através de metáforas que desclassificam o indivíduo de pele escura. Nas derrotas da seleção brasileira, verifica-se uma reatualização do ritual sacrificial de vítimas inocentes, com a sua punição; a morte simbólica. Com o objetivo de aplacar a ira da multidão enfurecida, elege-se um bode expiatório. Assim, com o sacrifício do bode expiatório restabelece-se a unidade social, pelo menos por algum tempo. Este sacrifício tem por objetivo descarregar sobre alguém as frustrações, ódios e tensões acumuladas. No futebol brasileiro busca-se sempre um responsável, um culpado que personifique a derrota; este é um processo de objetivação realizado pela comunidade. Há necessidade de concretização e personificação da derrota. Assim, atribui-se a alguém a culpa. Utilizam-se metáforas para realizar o processo de objetivação. O dado é que os jogadores de pele escura não são apenas criticados por terem apresentado um futebol de má qualidade, as críticas vão além de seus papéis como jogadores; ferem também o ser humano. Por outro lado, os jogadores brancos podem até ser criticados, mas as críticas não são desclassificatórias. O processo é mimético. Todos querem ser campeões do mundo. Mídia, governo e população se projetam nos jogadores. O mimetismo gera a insatisfação, 7 pois não é sempre que podemos ser campeões do mundo. À insatisfação se associa o ódio e se ameaça o equilíbrio social. O equilíbrio é restabelecido mediante o sacrifício de um inocente. Esse rito ao mesmo tempo encobre e reproduz uma violência. Os jogadores negros e mestiços, efetivamente, se consolidaram no futebol brasileiro, apesar de todas as dificuldades que lhes foram impostas. Os relatos, entretanto, evidenciam que há um imaginário negativo em relação aos negros, quando se trata da posição de goleiro e dos jogadores que atuam na defesa. Em relação aos treinadores negros, estes ainda têm dificuldade de acesso a esse mercado de trabalho, principalmente no primeiro escalão do futebol nacional.

Abstract

The aim of this work is to describe the process of entrance, ascension and consolidation of blacks and mestizos in the Brazilian soccer, as well as to analyze the sustaining power mechanisms undertaken by certain social groups. Starting from the analysis of the metaphors’ senses transmitted by the media, the focus of this study is the construction of the meanings in relation to the identity subjects, language and discrimination. The study prioritizes the news transmitted by the newspapers after the defeats of the Brazilian team in Soccer’s World Cups and the influence of the media discusses in the reproduction and construction of the racism in the Brazilian soccer. The methodological-theoretical reference is ethnometodology, in what concerns the construction of reality for the social agents. In relation to the sustaining power mechanisms the theory of the social representations is used. The unit of analysis in this work is the collective subjectivity built by the Brazilian sporting media. Data come from the news transmitted in the Soccer’s World Cups of 1950, 1982, 1986, 1990 and 1998. Five well known sporting journalists were interviewed: Luís Mendes, Sérgio Noronha, Tino Marcos, José Ilan, Carlos Gil as well as the player Jair da Rosa Pinto, who played the final game of the Cup of 50. The conclusion is that the sense built socially for the metaphors, for example – “amarelão, sem fibra, sem raça, tremedor, acovardado”, has as focus the individual’s humiliation as human being and not just as athlete. That humiliating sense aplies with more emphasis to certain groups of players, which in general are black or mestizos. The sustained hypothesis is that in Brazil, there is a kind of discrimination which is reinforced through metaphors that disqualify the individual of dark skin. In the defeats of the Brazilian team, there is a modernization of the sacrifice ritual of innocent, with its punishment; the symbolic death. With the objective of appeasing the anger of the infuriated crowd, a scapegoat is chosen. Thus, with the sacrifice of the scapegoat recovers the social unit, at least for some time. This sacrifice has for objective to discharge on somebody the frustrations accumulated. In the Brazilian soccer it is always looked for a responsible person, a culprit that personifies the defeat; this is a objectivation process accomplished by the community. There are materialization need and personification of the defeat. Thus, it is attributed to somebody the blame. Metaphors are used to accomplish the objectivation process. The data is that the players of dark skin are not just criticized for they have presented a soccer of bady quality, the critics are going besides its role as players; they also hurt the human being. On the other hand, the white players until they can be criticized, but the critics are not humiliating. The process is mimethics. Everybody wants to be champion of the world. Media, government and population are projected in the players. This generates the dissatisfaction, because it is not whenever we can be champion of the world. To the dissatisfaction 9 associates the hate and it is threatened the social balance. The balance is reestablished by means of the sacrifice of an innocent. That ritual at the same time hides and reproduces a violence. Indeed, black and mestizo players are consolidated in the Brazilian soccer, in spite of all the difficulties that were imposed on them. However, the reports evidence that there is negative imaginary to the blacks, especially in goalkeeper’s position and players acting in the defense. In relation to black trainers, these still have difficulty accessing that labor market, mainly in the top of the national soccer.

Sumário

I – Introdução, 11
O futebol como ponto de partida
O problema
Objetivos do estudo
Relevância do estudo
Hipótese

II – Considerações teórico-metodológicas, 40
A etnometodologia
Representações sociais
Representações & imaginário social
Objetivação das metáforas
Universos de significados compartilhados como unidade de análise
Habitus e reprodução
O representar e o fazer social
O literal
A metáfora
A metonímia
O oculto

III – Ascensão dos jogadores negros e mestiços no futebol brasileiro, 70
Ancorando o puro no ethos amador e o impuro no profissionalismo
A ideologia do embranquecimento no Brasil
A influência das faculdades de medicina na representação social
do negro e do mestiço

IV – Imagens das Copas, 104
Copa de 1950
Copa de 1982
Copa de 1986
Copa de 1990
Copa de 1998
Treinadores e jogadores

V – Algumas considerações finais, 140

Referências bibliográficas, 145

Bibliografia, 150

Anexos, 153

Referência

SILVA, Carlos Alberto Figueiredo da. Futebol, linguagem e mídia: entrada, ascensão e consolidação dos negros e mestiços no futebol brasileiro. 2002. 129 f. Tese (Doutor em Educação Física) - Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 2002.
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