Esta dissertação está vinculada à linha de pesquisa “Práticas e Processos Formativos em Educação”, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Presidente Prudente – SP. Amparada em John Dewey e Larossa-Bondía, parte do entendimento de que a vida é um processo de aprendizagem, no qual os seres humanos estão constantemente sofrendo e fazendo experiências. Cada experiência, particular a cada sujeito, traz em si a capacidade de formação ou de transformação. Quando a experiência é reflexiva, isto é, quando o indivíduo atenta ao "antes" e ao "depois" do processo, percebendo relações e continuidades e adquirindo conhecimentos, ocorre uma experiência educativa. Experiências educativas podem ocorrer nas mais diversas esferas da vida, dentre elas, na prática esportiva. No Brasil, o futebol é o esporte que ocupa maior destaque e constitui um fenômeno sociocultural por meio do qual é possível compreender melhor a própria sociedade. Porém, homens têm mais acesso e oportunidades frente ao futebol do que as mulheres, o que acaba por legitimá-lo como um universo masculino. Já sobre as mulheres que se aventuram no universo futebolístico incidem preconceitos relacionados às suas feminilidades e sexualidades. Este trabalho objetivou descrever e analisar as experiências educativas de praticantes de futsal feminino, a saber, o futebol jogado em quadra. Para tal, realizou-se um estudo etnográfico, cujos dados foram gerados por meio de observação participante e entrevistas semi-estruturadas com atletas de futsal de uma equipe universitária do interior do estado de São Paulo. Os resultados evidenciaram três categorias principais, permeando as experiências educativas no futsal: "rendimento e prazer", "preconceito" e "tabu". No ambiente investigado estão presentes, concomitantemente, tanto a busca pelo rendimento esportivo, quanto a busca pelo prazer de jogar, o que fez com que atitudes de respeito ao próximo e aceitação das diferenças aparecessem de forma contraditória sobretudo quando a pressão por rendimento fez-se latente. Várias das atletas sofreram uma série de preconceitos ao longo de suas trajetórias no futsal, associados às suas identidades de gênero e sexual. O tema da sexualidade evidenciou-se como um tabu, e os discursos remeteram a uma imagem heterossexual, ainda que haja várias atletas homossexuais no grupo. O grupo demonstrou entendimento de que os preconceitos que incidem sobre o futebol e o futsal feminino são construções sociais, que não podem ser vistos como fatos naturais, justificados por argumentos amparados na biologia. Se, por um lado, as atletas ainda não se libertaram de medos e preconceitos, e tentam se encaixar em padrões de gênero e sexualidade aceitos pela sociedade, por outro, ao praticarem futsal enfrentam, inevitavelmente, os preconceitos. Com isso evidenciam que esse é um território que pode e deve ser ocupado por mulheres. A prática do futsal, para além das questões de gênero e sexualidade, assume tal importância na vida dessas atletas, que as experiências educativas nela vivenciadas constituem parte de suas subjetividades, de suas identidades.
Palavras-chave: Experiência Educativa. Futsal Feminino. Educação. Gênero. Sexualidade.