A reflexão aqui proposta sobre o futebol, manifesta através das crônicas literárias, foi periodizada em dois blocos históricos de acordo com as suas características e o contexto: o primeiro bloco ligado à sociogênese do esporte no Brasil, quando a crônica das primeiras décadas do século XX discutia a sua funcionalidade e representatividade na nova sociedade republicana. Tal embate teve seu desfecho logo após a popularização do esporte e o lançamento de um novo movimento literário, o Modernista. Já no segundo bloco histórico, o futebol se encontrava devidamente inscrito como elemento central da cultura brasileira, assumindo um papel de agente afirmador da identidade nacional. Nestes complexos cenários se estabeleceram questões fundamentais para o entendimento das tensões que envolveram o futebol e a literatura: quais foram as relações de força no campo literário brasileiro manifestas através das crônicas sobre o esporte? Evidentemente, tais relações, através das crônicas, explicitariam a presença de um contexto social mais amplo ao mesmo tempo em que dariam indícios da personalidade literária de alguns escritores de renome nacional gerando, secundariamente, as seguintes questões: quais os limites artísticos de um gênero literário preso ao cotidiano? Como se processou o debate intelectual acerca da função social do esporte no campo literário? Como poderiam ser pensados os momentos históricos de construção de modelos explicativos, legitimados através do esporte e sua respectiva literatura? Objetivou-se assim, primariamente, buscar os indícios necessários à compreensão do significado sócio-cultural destes posicionamentos e “diálogos” estabelecidos através das crônicas futebolísticas. Partindo da hipótese central de que, como figuras públicas, os literatos necessitavam estabelecer relações de força visando respaldá-los dentro do campo literário/intelectual. Tal hipótese foi confirmada, pois o poder simbólico gerado pela produção artística permitiu que estes literatos pudessem criar e reproduzir sua própria concepção de mundo. Ora na tensa disputa entre os escritores no início do século, cujo debate girava em torno da assimilação de hábitos e costumes europeus e a concepção de um ideal de civilidade; ora na consensual e hierárquica configuração estabelecida a partir das formulações de Gilberto Freyre, no segundo momento pesquisado.